Nesta tarde, debrucei-me sobre duas questões de História da Filosofia:
a) identifique as noções fundamentais da mentalidade filosófica; e
b) verifique se essas noções fundamentais da mentalidade filosófica estão contempladas no texto bíblico (Gênesis, capítulo 1).
Com base em algumas leituras, entre as quais Convite à Filosofia, de Marilena Chauí, e Os pré-socráticos, da coleção Os pensadores, escrevi o que se segue:
a) A mentalidade filosófica começa a se desenvolver no momento em que o homem passa a fazer uso do presente de Prometeu, o fogo dos deuses, o pensamento racional. O mundo até então conhecido por intermédio dos mitos, apresenta novos contornos sob os olhos perscrutadores da razão. Doravante, para defini-lo, toda explicação segue os critérios estabelecidos pelo lógos. A natureza (physis), como objeto de conhecimento, faz escolas com os primeiros pensadores, chamados pré-socráticos. A relação de causas que identifica o processo natural de (auto)criação diferencia-se das justificativas míticas, sobrenaturais. O princípio primordial (arqué) é caracterizado como uma realidade tangível, que existe sem a intervenção divina. Os primeiros filósofos /cientistas veem uma ordenação racional na constituição do Universo, também chamado de Cosmo. Essa visão determina o novo discurso (lógos), que não é definitivo, peremptório, mas suscetível de crítica, de reformulação.
b) Sobre a origem do Universo, as respostas provisórias a que chegaram os primeiros pensadores tem seu equivalente no mito judaico-cristão, que responde categoricamente pela intervenção de um deus, denominado Jeová. A mentalidade filosófica na Grécia buscava teorizar sobre o mundo como uma sucessão de causas naturais, explicadas pelo discurso racional. No Gênesis, a causa é uma divindade, expressa no primeiro enunciado (versículo). O equivalente da arqué na narrativa bíblica é a vontade de Jeová, sua palavra. Do nada fez-se tudo. O criado é visto como algo bom pelo próprio criador. Semelhante visão se repete entre os pensadores gregos: o cosmo é justo e belo. A harmonia do mundo (que está além dos pequenos males reclamados pelo homem) permite tal apreciação, descrita numa linguagem referencial pela Filosofia e alegórica pelo mito. Razão versus fé. No texto bíblico não há como encontra o lógos e o caráter crítico, duas condições para o pensamento filosófico (e científico).
Nenhum comentário:
Postar um comentário