Em post anterior, escrevi sobre um dos paradoxismos vividos pelos brasileiros: a superestimação da política (e dos políticos). O assunto é de uma amplitude tal que me desafia a retomá-lo. Dentro de vinte anos, provavelmente, talvez seja possível uma estimação terra a terra (para não dizer subestimação). Isso ocorrerá com a evolução (auto)crítica do senso comum. Desta vez, relaciono a superestimação a outro mal que lhe é correspondente, o paternalismo. O termo constitui a melhor síntese de todos os “ismos” que caracterizaram ou que caracterizam a política no Brasil, cada um em seu determinado tempo: patriarcalismo, coronelismo, clientelismo, populismo e, nos últimos anos, assistencialismo. Tal relação é do tipo ovo-galinha, em que não se sabe o que é causa e o que é consequência. Por três séculos e pouco, os filhos deste solo estiveram sem pai, ou com o pai além-mar. Após o arranjo da casa imperial que superestimamos como independência, o filho do pai instituiu-se pai absoluto. Logo ele abandonaria o país, deixando aqui o filho de cinco anos – na condição hereditária de novo pai. O magnânimo. Sua morte, representada 58 anos depois pela perda do trono e exílio, não libertou a população. Esta continuou superestimando quem quer que fosse o pai substituto. No lugar do monarca, pai único, uma classe econômica tomou o poder. Não demorou para que a figura do presidente passasse a representar o pai. A Revolução de Trinta mudou a designação de “velha” para “nova” a república fundada pelos oligarcas. Outra consequência: o advento do pai dos pobres, emblemático por evidenciar a relação entre paternalismo e superestimação popular.
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