O texto abaixo, produzido para o Expresso Ilustrado, apresenta algumas lacunas demasiado grandes para serem preenchidas pelo leitor. Peço desculpas, com uma única justificativa: o espaço da coluna, como um "leito de Procusto", obrigou-me a reduzir o argumento, incorrendo na quase disjunção entre as ideias. Com mais tempo, re-edito EU ÉTICO(?), aproveitando-me desta ferramenta de tão fácil emprego.
Ao pensar sobre trânsito, chego à ética. Ao pensar sobre ética, perpasso um longo caminho para me deter no jogo de forças nietzschiano e, mais adiante, na dicotomia inconsciente - consciente de Freud. O problema no trânsito, já se diz nestes dias, decorre de uma crise ética. O eu ético, todavia, constitui uma idealização, em que se atribui a ele a capacidade de internalizar a lei moral (ou de subordiná-la à sua chancela). Neste aspecto, Essa alta conta atribuída ao eu, como senhor absoluto da razão, subsiste no século XXI, a despeito da crise supracitada. A tão propalada consciência Nietzsche desmistificara antes de Freud descobrir o inconsciente como instância superior, não passa de “um sintoma, não mais do que o sintoma de uma transformação mais profunda e da atividade de forças”. Para o filósofo, as forças dominantes são ditas ativas, as forças dominadas são ditas reativas. A atividade principal é inconsciente, sendo a consciência reativa. A questão levantada pelo IV Fórum do Instituto Zero Acidente ficou sem resposta. Perguntava-se sobre a disjunção entre saber e fazer. O sujeito (eu) sabe, por exemplo, o significado da placa que regulamenta a velocidade máxima permitida, mas continua a correr muito acima do limite expresso signicamente. A volúpia proporcionada pela velocidade é força ativa que domina as demais forças de reação (internas, como a própria consciência, e externas, como os sinais ao longo das vias). A causa dessa volúpia é inconsciente, estreitamente relacionada à felicidade, à vida (não obstante o ônus contrário). Esperar ou pedir que o eu se comporte eticamente no trânsito ou em qualquer outro lugar é subestimá-lo por suas paixões, pulsões, medos, tudo o que escapa do domínio consciente.
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