O Júlio Prates sugere em seu blog que façamos uma reflexão sobre o esvaziamento nos cursos de licenciatura da nossa universidade, a ponto de não mais formar turma em Matemática, Letras, Pedagogia, História... Ele, o Prates, já escreveu mais de uma vez sobre o assunto. Algumas vezes opinei, correndo o risco de ferir suscetibilidades, quer dos dirigentes da própria URI, quer dos dirigentes das universidades a distância. O Prates e eu, no entanto, somos independentes. Não obstante conhecermos a URI por dentro, não pertencemos a ela. Por isso, opinamos e nada aconteceu conosco. Alguém lá dentro deveria pensar (auto)criticamente desde a antiga FAFIS. Mas isso sempre foi inconcebível. Pessoas que se afastaram ou que foram afastadas da universidade são testemunhas vivas do que digo. Infelizmente, a minha amiga Elza Aurora é uma exceção.
Em 1999, entrei na universidade para cursar Letras (o único curso que me interessava, em razão de minhas aptidões com a escrita). A URI encontrava-se no auge da iluminação. Todas as salas lotadas. O campus era uma festa (no bom sentido). Minha turma contava com 30 graduandos. A coordenadora do curso era a professora Verli Petri, que hoje já é doutora em Linguística em Santa Maria. Algumas vezes ela chorava em razão do péssimo relacionamento entre os docentes (envolvendo a direção). A Verli foi embora logo, provocando uma pequena queda na qualidade do curso. Alguns de meus colegas desistiram, por motivos vocacionais e, principalmente, pela mensalidade. Ainda que fosse um dos cursos mais baratos do campus (contrariando sua importância na formação de professores necessários para atender à demanda de nossas escolas), havia colegas que tinham dificuldade de saldar a dívida mensal. Na época, reclamar das mensalidades altas não passava de "choro" acadêmico, muito suspeito. Mas ali se aquecia o "ovo da serpente". Todos os anos, a universidade propalava aos quatro ventos a implantação de um novo curso, carro-chefe para manter por alguns semestres a saúde financeira da instituição. No curso de Letras, vale destacar o esforço de duas professoras: Silvânia Colaço e Sandra Nascimento. Em 2003, quando concluí minha graduação, as licenciaturas já permitiam vislumbrar o que hoje é uma realidade. A exemplo da Verli, outros bons professores deixaram a URI. Logo Eugênio Gastaldo e Ayda Bochi se aposentarão, provocando de vez o fim do curso que mais formou professores em Santiago (considerando o tempo da FAFIS).
Nunca entendi uma coisa do mercado: as laranjas estão maduras, lindas, prontas para serem consumidas, mas o dono da feira prefere deixá-las que apodreça a baixar o preço. Por vender pouco, mantém o preço alto para ter lucro no negócio. Assim procedia a URI. Os acadêmicos queriam estudar, mas a universidade não se importava com as desistências, com a diminuição da demanda. Essa clientela ausente passou a procurar uma nova oferta, feita oportunamente pelas universidades a distância (UNOPAR, ULBRA, entre outras).
Ao contrário do que insinuam comentaristas anônimos deste blog, não sirvo à oligarquia santiaguense, não defendo seus "coronéis". Tenho amizade com pessoas influentes, apenas isso. Dessa forma, concordo com os intelectuais de esquerda, entre os quais o próprio Prates e Ivan Zolin: nossa sociedade merece dispor de ensino superior público (como Bagé, Alegrete, São Borja, São Vicente etc.).
Um comentário:
Froilan, ainda lembras dos nossos tempos de luta... das batalhas empreendidas pela URI de qualidade... lá perdi um pouco das minhas ilusões, mas não perdi todas... continuo lutando... bom saber de vocês, ex-alunos... tua "verve d'éccriture" continua ótima!!!
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