Balaio de Causos vem a público muito bem apadrinhado por Fausto Domingues, Aparício Silva Rillo, Marques Leonam e Renato Dalto, gente iluminada que escreve acerca dessa produção de Odilon Abreu.
A obra é semioticamente enriquecida pelo traço inconfundível do Santiago, cuja genialidade criativa já é do conhecimento do outro lado do planeta, onde clareia o dia quando aqui anoitece. Sob esse aspecto semiótico, o ilustrador constitui-se em co-autor do livro.
Odilon Abreu é original no gênero tão conhecido dos gaúchos criados à volta do fogo de chão, ouvindo estórias e histórias. O autor insere a biografia da própria família no contexto literário (e vice-versa), uma prova irrefutável de que a arte é vida (e a vida melhor se justifica como fenômeno estético).
Afora os dois contos escolhidos por Rillo como dignos de figurarem em qualquer antologia que se preze, O Cabo Chibano e Más valiente do que feo, outros merecem destaque, seja pela linguagem que faz lembrar o estilo simoniano; seja pelos elementos da narrativa (como o fato em si, o ambiente, as personagens...); seja pelo desfecho que surpreende pelo humor “superdosado” (no dizer do poeta e professor Marques Leonam).
Alguns finais são extraordinários:
Do narrador-menino, o próprio autor, vendo o piloto tirar gasolina de seu Teco-Teco: “Mãe, sangraram o bicho lá no rodeio”.
Do Miro, que, depois de muito chinear na cidade, resolveu se casar. Depois da primeira noite com a esposa, levantou-se ainda com sono e lascou uma pergunta: “Quanto le devo, dona Joana?”.
Balaio de Causos se soma a outras publicações tão escassas no gênero, que, antes do rádio e da televisão, era muito popular, contado e recontado pelos nossos pais, tios, avôs... Uma vez que a tradição oral parece ter chegado ao fim, o registro escrito das histórias contadas e recontadas se reveste de tamanha importância.
ESTE LIVRO É UM PANEGÍRICO À MEMÓRIA.
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