terça-feira, 29 de setembro de 2009

BALAIO DE CAUSOS

Há uma década venho colaborando com o Centro Cultural de Santiago, mais precisamente no Departamento de Literatura. Em 1998, criamos o Concurso Aureliano de Poesia. Entre os ganhadores de edições passadas, lembro-me de Larí Franceschetto (Veranópolis-RS) e de Odemir Tex Jr. (Santa Maria-RS). Excelentes poetas. Minha ideia sempre foi de oferecer um prêmio em dinheiro, mas isso é impossível para o Centro Cultural. Nos últimos anos, vários livros foram lançados sob a coordenação protocolar do Departamento de Literatura. Amanhã, será a vez de Balaio de Causos, de Odilon Abreu (como já postei abaixo). Fiquei de fazer uma apreciação crítica do livro, que será apresentado pelo diretor do Departamento de Memória, meu amigo Valdir Pinto. Para isso, li e reli Balaio de Causos. Pouco antes de fazer esta postagem, escrevi o que se segue:
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Balaio de Causos vem a público muito bem apadrinhado por Fausto Domingues, Aparício Silva Rillo, Marques Leonam e Renato Dalto, gente iluminada que escreve acerca dessa produção de Odilon Abreu.

A obra é semioticamente enriquecida pelo traço inconfundível do Santiago, cuja genialidade criativa já é do conhecimento do outro lado do planeta, onde clareia o dia quando aqui anoitece. Sob esse aspecto semiótico, o ilustrador constitui-se em co-autor do livro.

Odilon Abreu é original no gênero tão conhecido dos gaúchos criados à volta do fogo de chão, ouvindo estórias e histórias. O autor insere a biografia da própria família no contexto literário (e vice-versa), uma prova irrefutável de que a arte é vida (e a vida melhor se justifica como fenômeno estético).

Afora os dois contos escolhidos por Rillo como dignos de figurarem em qualquer antologia que se preze, O Cabo Chibano e Más valiente do que feo, outros merecem destaque, seja pela linguagem que faz lembrar o estilo simoniano; seja pelos elementos da narrativa (como o fato em si, o ambiente, as personagens...); seja pelo desfecho que surpreende pelo humor “superdosado” (no dizer do poeta e professor Marques Leonam).

Alguns finais são extraordinários:

Do narrador-menino, o próprio autor, vendo o piloto tirar gasolina de seu Teco-Teco: “Mãe, sangraram o bicho lá no rodeio”.

Do Miro, que, depois de muito chinear na cidade, resolveu se casar. Depois da primeira noite com a esposa, levantou-se ainda com sono e lascou uma pergunta: “Quanto le devo, dona Joana?”.

Balaio de Causos se soma a outras publicações tão escassas no gênero, que, antes do rádio e da televisão, era muito popular, contado e recontado pelos nossos pais, tios, avôs... Uma vez que a tradição oral parece ter chegado ao fim, o registro escrito das histórias contadas e recontadas se reveste de tamanha importância.

ESTE LIVRO É UM PANEGÍRICO À MEMÓRIA.

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