quinta-feira, 24 de setembro de 2009

ADORNO, AO ACASO

No fragmento 28, da Primeira Parte de Minima Moralia, Theodor Adorno escreve:
Paysage. - O que falta à paisagem americana não é tanto, como gostaria uma ilusão romântica, ausência de reminiscências históricas, e sim o fato de que nela a mão do homem não tenha deixado pistas. Isso se refere não somente à falta de campos cultivados, às matas não desbravadas, geralmente densas e não muito altas, mas sobretudo às estradas. Estas irrompem subitamente em meio à paisagem, e quanto mais planas e largas elas são, tão mais desprovidas de qualquer relação e com mais violência destaca-se sua pavimentação cintilante em face da vegetação demasiado selvagem do meio ambiente. Elas são desprovidas de expressão. Como não possuem faixas para pedestres ou ciclistas, nenhum caminho para passeios às suas margens - à maneira de uma transição para a vegetação -, nenhuma trilha lateral que conduza pelo vale adentro, elas carecem da qualidade suave, tranquilizante, não-angulosa, das coisas feitas à mão ou pelos instrumentos imediatos desta. É como se alguém jamais tivesse acariciado essa paisagem. Ela é desolada e desoladora. A isso corresponde a maneira de percebê-la. Pois o que o olhar apressado viu apenas de dentro do automóvel não pode ser retido e, como lhe fazem falta os traços, assim também desaparece sem deixar traços.

Nenhum comentário: