sábado, 15 de agosto de 2009

VISITA DE UM AMIGO

Ontem recebi a visita do meu amigo Ivan Zolin. Toda vez que vem de Santia Maria, onde é professor no Colégio Técnico Industrial (ligado à UFSM), ele me procura. Nossa amizade remonta ao ano de 1973, quando pertencíamos à turma 6 da sexta série do Polivalente. O Júlio Ruivo, atual prefeito de Santiago, era nosso colega, também oriundo do interior (metade sul do município).
Após o diálogo necessário para nos situarmos no tempo e no espaço, Ivan retoma uma crítica que tem feito à minha posição de conservador, a partir da leitura do meu blog e da coluna do Expresso Ilustrado. Seu esquerdismo enviesado ainda rotula qualquer discordância de centro ou de direita como "conservadora". Como réplica às suas críticas, peço-lhe para me explicar certas contradições da esquerda. Na defesa que ele faz do ex-candidato a ditador Manuel Zelaya, argumenta que o povo é supremo na condução de um país, inclusive votando uma mudança na Constituição para reeleger seu presidente. Isso é democracia. Por que, então, o povo deixa de ser ouvido em certos países, onde lhe é negado o direito de ir e vir (como em Cuba)? Por que a esquerda brasileira continua apioando Chaves que vende armas às FARC, manda fechar órgãos de imprensa de seu país, calando vozes discordantes de seu governo ditatorial? A ideia do plebiscito em Honduras partiu dos hondurenhos ou da parte do postulante Zelaya?
Meu amigo não conseguiu me responder. A título de ilustração, hoje lhe mostraria com prazer uma entrevista com João Pedro Stédile (coordenador do MST e professor de Economia da USP) e um editorial publicado na revista The Economist.
Depois da política, um assunto contraditório por si mesmo, falamos de cultura. Mostrei-lhe os poemas que comporão meu próximo livro. Concordou que não há forma mais elevada de fazer cultura do que a produção poética. Outro tema de nossas conversas girou em torno de uma possível criação de um polo de educação técnica a distância no município, aos moldes do que já existe em Bagé, São Borja e Canguçu (ligados ao Colégio Técnico Industrial de Santa Maria).
Para encerrar nosso encontro, fomos à Gaúcha, onde tomamos um vinho chileno e conversamos amenidades.

5 comentários:

Ivan Zolin disse...

Froilam!

Farei a postagem em partes, pois o texto acabou ficando um pouco longo.

Não tenho procuração para defender ninguém, apenas sigo alguns princípios.
Observo que nossa visão de mundo, a ideologia, na maioria das vezes, nos denuncia.
Você emprega a expressão: "povo é supremo". A palavra “supremo”, está te traindo, demonstrando a hierarquização que você tem das coisas. A expressão que usei foi palavra o “povo é soberano”, no processo de organização da sociedade já tivemos “o próprio soberano”, “o papa”, “o rei” e tantas outros.
A nossa constituição no item I e no parágrafo único do seu artigo primeiro já expressa esse princípio, não poderia ser diferente:
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”
Hoje, por meio da democracia, o poder soberano é do povo, uma conquista da modernidade que consagrou a igualdade, a liberdade e fraternidade. Os dois primeiros estiveram nos extremos dos modelos de sociedades dos últimos tempos, já a fraternidade (para nós gaúchos –humanidade) não esteve presente nesse processos, agora, na atualidade, esse tema está tangenciando, ainda de forma tímida, com as políticas afirmativas, a liberdade e o respeito as minorias, o debate do meio ambiente, aos povos indígenas e outros debates de extrema importância, por exemplo “as chamadas cotas raciais”, os direitos humanos, o respeito aos não fumantes.


Zolin

Ivan Zolin disse...

Froilam! II parte

Voltamos ao debate sobre a soberania de uma sociedade. Toda norma, lei, constituição é no limite uma convenção entre os envolvidos. Uma vez constituído, daí o nome “constituinte” tem legitimidade. É o processo máximo de elaboração desse aparato jurídico, ocorre por vontade popular, no momento que este determinar, podendo a qualquer tempo mudar esse ordenamento, para tanto há que respeitar a vontade popular, se isso ocorrer dentro da legalidade e mantendo em funcionamento as instituições, não vejo problema. Em uma sociedade mais madura, a tradição de respeito a essas normas já é uma realidade, existirá também mecanismos e instrumentos que permitem alterar as leis quando o povo desejar, não importando quem tome a iniciativa, desde que respeite o ordenamento constituído, o que não ocorreu com os golpistas de Honduras, que destituíram um presidente eleito democraticamente segundo suas leis. Sempre em mente que é o povo que tem o poder e não os dirigentes e é a ele que devemos ouvir. Também considerando que não pode haver dispositivos externos ao poder popular, as causas "pétreas" são para constituir, a soberania, a cidadania, as liberdades, o respeito à pessoa e ao pluralismo de idéias e não como uma forma do exercício e coerção do poder.
A ética, que é de caráter pessoal e não coletivo esse é político, determina que não se obtenha benefício com a própria mudança, coisa que não ocorreu com a emenda nº16, da reeleição, votada em 04 de junho de 1997, pelo congresso e que o presidente da época usou em seu favor. Eticamente a atitude do Presidente Fernando Henrique Cardoso foi lamentável, no entanto politicamente é compreensível. Outra forma seria o processo revolucionário em que o povo assume verdadeiramente o poder e estabelece uma nova ordem, só para lembrar revolução não é golpe (o sentido empregado não é o mesmo). Também devemos considerar que muitas vezes o ordenamento jurídico são “amarras” que um grupo social impõe aos demais, quando essa classe oprimida desperta e se constitui com seu poder soberano não aceitando mais a exploração de um grupo em detrimento de outro, estabelece ai o processo revolucionário capaz de construir uma nova ordem, e é assim que caminha a humanidade.
Zolin

Ivan Zolin disse...

Froilam! II parte

Voltamos ao debate sobre a soberania de uma sociedade, toda norma, lei, constituição é no limite uma convenção entre os envolvidos. Uma vez constituído, daí o nome “constituinte” tem legitimidade. É o processo máximo de elaboração desse aparato jurídico, ocorre por vontade popular, no momento que este determinar, podendo a qualquer tempo mudar esse ordenamento, para tanto há que respeitar a vontade popular, se isso ocorrer dentro da legalidade e mantendo em funcionamento as instituições, não vejo problema. Em uma sociedade mais madura, a tradição de respeito a essas normas já é uma realidade, existirá também mecanismos e instrumentos que permitem alterar as leis quando o povo desejar, não importando quem tome a iniciativa, desde que respeite o ordenamento constituído, o que não ocorreu com os golpistas de Honduras, que destituíram um presidente eleito democraticamente segundo suas leis. Sempre em mente que é o povo que tem o poder e não os dirigentes e é a ele que devemos ouvir. Também considerando que não pode haver dispositivos externos ao poder popular, as causas "pétreas" são para constituir, a soberania, a cidadania, as liberdades, o respeito à pessoa e ao pluralismo de idéias e não como uma forma do exercício e coerção do poder.
A ética, que é de caráter pessoal e não coletivo esse é político, determina que não se obtenha benefício com a própria mudança, coisa que não ocorreu com a emenda nº16, da reeleição, votada em 04 de junho de 1997, pelo congresso e que o presidente da época usou em seu favor. Eticamente a atitude do Presidente Fernando Henrique Cardoso foi lamentável, no entanto politicamente é compreensível. Outra forma seria o processo revolucionário em que o povo assume verdadeiramente o poder e estabelece uma nova ordem, só para lembrar revolução não é golpe (o sentido empregado não é o mesmo). Também devemos considerar que muitas vezes o ordenamento jurídico são “amarras” que um grupo social impõe aos demais, quando essa classe oprimida desperta e se constitui com seu poder soberano não aceitando mais a exploração de um grupo em detrimento de outro, estabelece ai o processo revolucionário capaz de construir uma nova ordem, e é assim que caminha a humanidade.
Zolin

Ivan Zolin disse...

Froilam! III parte
Vejamos o que está ocorrendo na América Latina, há uma nítida transformação nas sociedades, pode concordar ou não, só não há como negar o fato de que os povos, por meio dos governos, estão construindo países para os “latino-americanos” e não para os “americanos”, isso é bom ou ruim, depende da nossa ideologia. Aqui, talvez esteja o ponto central do debate, quem acredita que existe algo ou alguém de fora capaz de determinar o meu caminho vai dizer que isso é ruim, quem defende que cada um de nós deve auto determinar-se (observe o conceito de razão no sentido Kantiano) vai dizer que isso é bom. Essa discussão é complexa, pois estamos sujeito a duas forças, uma interna e outra externa, as duas extremamente importantes. Eu determino o mundo ou o mundo me determina? Essa é a pergunta, a resposta para isso não é nem uma nem outra são as duas. Somos ao mesmo tempo sujeito e objeto da construção, só somos humanos por que produzimos linguagem (símbolos) e cultura (transformação do meio: – o trabalho), duas coisas que não pode ser dispensada sob pena de ficarmos reduzidos a dimensão animal, aquele que segue o seu destino tocado pra frente. Nesse contexto não podemos deixar de considerar as nossas crenças (religiões), que você tanto gosta de debater, mas muitas vezes reafirma aquilo que se diz combater (por isso a minha discordância do tema “contra”). A ideologia está na nossa formação, no DNA é impossível não ter uma, o que podemos é ter consciência do que estamos defendendo e quais as suas implicações. Muitas vezes a nossa capacidade de antever os desdobramentos é limitada e ficamos como o senso comum e com o modelo já consolidado. Em outra postagem sua esse tema, que está na ordem do dia, é abordado por você, como sempre, segundo a visão do grupo hegemônico. Não que eu tenha posição favorável ao outro, só não aceito o maniqueísmo. Cada vez mais creio em um mundo sem anjos ou demônios e com poucos santos.
Por mais difícil que possa ser a construção de um consenso sobre um tema é melhor realizar o debate do que receber a decisão pronta. Como indivíduo, como ser de cultura estarei negando a condição de Ser Humano, se não agir assim.
Ninguém é superior a ninguém pode haver respeito a ordem, a uma instituição, a função, mas não que alguém pode ser melhor dos que outra pessoa, essas são iguais, livres e fraternas, pelo menos esse era o ideal das reformas da modernidade. Não podemos discutir “o futebol, a política ou a religião”, mas sim, podemos e devemos debater as causas que levam alguém a acreditar no que acredita. Esse debate remete aos empiristas, aos idealistas e tantos outros, todos muito pertinentes.

Zolin

Ivan Zolin disse...

Froilam! Iv parte

Para constar Santa Maria e Alegrete também tem pólos, em que o colégio atende um curso dessa forma, do e-tec brasil (http://etecbrasil.mec.gov.br/ http://etecbrasil.mec.gov.br/conteudo.php?pagina_id=23&tipo_pagina=1 ) além das já mencionadas: Canguçu, Bagé e São Borja com o curso técnico profissional de nível médio em Automação Industrial na modalidade à distância. Esse curso é oferecido nesses pólos pelo Colégio Técnico Industrial de Santa Maria – CTISM/UFSM gratuitamente aos alunos. Espero que o MEC reabra os editais de novos pólos e que muitas outras cidades se credenciam. Os pólos referidos são os que nós atendemos, tem outras instituições públicas de ensino também oferecendo nesses e em outros pólos, como os três IFET nas suas diversas unidades aqui do sul.

Também fique feliz em saber que há um movimento na comunidade (executivo e legislativo)além de outras lideranças para viabilizar, em nossa cidade, uma Unidade Federal de Ensino Profissional (no local da Escola Rubens Lang)vinculado a SENTEC/MEC. Para a nossa população é muito bom, creio que o momento é oportuno e favorável.

Uma cidade regional com mais de 50mil habitante deve buscar cada vez mais condições para aterder e cumprir o seu papel.

Zolin