Em Linguística e poética, Roman Jakabson descreve as seis funções de linguagem: referencial, emotiva, conativa, fática, metalinguística e poética. Determinada pelo modo de como são codificadas as mensagens, nenhuma função se encontra isoladamente, mas com predominância sobre as demais.
Na função poética, segundo Samira Chalhub, "a emissão organiza os signos para expor o modo de construção, seu aspecto sensível, material, significante". Em Metalinguagem, a professora Chalhub reforça a definição de Jakobson, de que a função "promove o caráter palpável dos signos".
Uma das dicotomias saussureanas, acerca do signo, distingue dois aspectos: significado e significante. Não obstante o amálgama necessário entre um e outro, significado é conceito, o que se diz de algo, referência. Significante, por sua vez, constitui a imagem visual e sonora, o como se diz algo.
Dessa forma, ratifico o que postei abaixo, em Objeto poético, o significante é insubstituível no efeito de poeticidade que o emissor queira dar ao seu verso. Pedra foi o signo que citei, uma metáfora representativa de todos os signos existentes na língua portuguesa (por exemplo). Não há outro signo para pedra. Pedra é pedra, como "flor é a palavra flor", dito por João Cabral. A palavra flor, reforça Chalhub, "é tão concreta quanto a flor do referente, aquela que está no jardim e no vaso".
A insubstituibilidade do significante equivale à sua intraduzibilidade. O melhor exemplo para essa tese retiro do notável poema The raven, de Edgar Allan Poe. Essa obra-prima da poética em inglês também é caracterizada pela língua estilizada, rima interna e jogos fonéticos. O verso que mais se repete no poema, Quoth the raven, "Nevermore", foi traduzido por Machado de Assis e por Fernando Pessoa como Disse o corvo, "Nunca mais".
Pois bem, digo categoricamente que se perdeu com a tradução o jogo gráfico/ fonético de "raven never". Corvo (raven), lido ao contrário, não tem qualquer associação com nunca (never).
Poemas em português, que fazem esses jogos fundamentais na constituição estética, também os perde, quando traduzidos para qualquer outro idioma.
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Por curiosidade, como ficaria meu poema As pombas
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as
...pombas
pas
.....seiam
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meio
da praça
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fora
da pressa
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cheias
de graça
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as pombas
em paz
...........ceiam
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na língua inglesa?
Apenas em português, consegue-se o efeito fonético "em paz ceiam".
2 comentários:
O Poema "O Corvo" é um dos mais bem elaborados da literatura mundial, absolutamente perfeito, talvez o mais perfeito de todos os poemas, pela incrível combinação e simetria de forma e conteúdo. Até mesmo quem não é fã de Poe reconhece a perfeição da obra. Parabéns por ter lembrado dela. Baudelaire, que traduziu Poe para o francês e foi responsável por seu reconhecimento na Europa (lembrando que foi graças às traduções de Baudelaire que Poe principiou a ser verdadeiramente reconhecido, pois nem nos EUA o era)escreveu uma pequena análise sobre o poema. Obviamente, somente no inglês é possível perceber e assimilar todos os seus fantásticos efeitos. Mesmo assim, somente após várias leituras. Como eu havia afirmado em comentário anterior, a poesia de Poe perde em efeito quando traduzida. E não só a dele, é claro. Porém, como também afirmei, ainda nas traduções a alma de Poe é mantida. O poema O Corvo, ainda é o poema O Corvo, não completo, mas ainda o é. A tradução de um poema não é o poema inteiro, é uma parcela do poema. E essa parcela já vale a pena quando a poesia é rica, como a de Poe. E relembro: sem as traduções de Baudelaire, Poe jamais seria reconhecido devidamente. Seus conterrâneos americanos não apreciavam sua literatura, na época. Ironicamente, o reconhecimento definitivo de Poe partiu da língua francesa.
Estive por aqui aprendendo um pouco!!!
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