quinta-feira, 30 de junho de 2011

POESIA

a noite se
fria(o)
não me fio
na lã no vinho
branco
alma de
em cada garrafa
fluida
ponte


(a safra de 87
foi a melhor)


nada esquenta
mais
enquanto
g(e)ia
que as mãos
ave lúdicas
da poesia
.
(Poema do meu livro Vozes e vertentes)

quarta-feira, 29 de junho de 2011

ASSUNTO SÉRIO

Hoje conversei com o agrônomo Liberato Bochi, secretário de Agricultura de Santiago, e com o engenheiro Cláudio Espíndola. Os dois procuram um tipo de carta topográfica do município (que a nossa 1ª Brigada de Cavalaria Mecanizada não dispõe). A finalidade desse material será um melhor mapeamento dos poços artesianos já abertos pela prefeitura ou por abrir. Segundo o secretário, alguns estariam secando (ou não teriam encontrado água?). No caso, os poços se classificam como semi-artesianos, que necessitam de equipamento no interior para fazer o bombeamento da água. Por duas razões, considero essa forma de captação do "líquido precioso" a origem de um grande problema: 1) o esgotamento e, antes disso, 2) a contaminação dos lençóis freáticos e artesianos. Os poços abertos em áreas urbanas se prestam para levar diretamente a podridão produzida pelo homem na superfície aos depósitos subterrâneos. No Brasil já ocorre essa forma terrível de poluição. O esgotamento virá naturalmente, com o aumento descontrolado da exploração, como já ocorre na China. 
Esse assunto é muito sério.

terça-feira, 28 de junho de 2011

CÍRCULO OPERÁRIO

Há um ano e meio, passei a morar quase em frente ao Círculo Operário de Santiago. Ainda não conheço o histórico desse clube, a não ser pela galeria de fotos de seus ex-presidentes. O presidente atual é o senhor Oscar Adolfo Lehr. Do grande número de troféus expostos ao lado da cancha de bochas, penso que esse esporte é muito bem praticado pelos sócios. Mesmo na condição de não associado, tenho ido ao clube para ver alguns jogos importantes da dupla (não transmitidos pela Globo / RBS e Band) e para observar a performance dos bochófilos e dos carteadores. Nos domingos, ao meio-dia, o clube serve um risoto delicioso (três reais o prato). Terceiriza a venda de churrasco e maionese. Todas as semanas, uma equipe de diretores e voluntários é escalada para a confecção da iguaria muito consumida pelos gaúchos, nos restaurantes e churrascarias, nos dias de festa na cidade ou no interior. Lucro líquido e certo para aqueles que investem na venda de alimento pronto. Para equilibrar demanda e confecção, a venda dos cartões é feita antecipadamente, in loco ou por telefone (que é 3251-3954). Pelas pessoas que vão ao Círculo comprar risoto, deduzo que não há distinção de classes socioeconômicas em Santiago. Ali vejo o rico empresário e o pobre desempregado numa fila única, sentados na mesma mesa ou dentro da cancha. Do centro e dos bairros. O Círculo fica lotado todas as tardes, de segunda a domingo. O público é preponderantemente masculino, de segunda e terceira idades, que ali se reúne para o jogo de bochas e de cartas. O serviço de copa é muito bem atendido por dois rapazes desenrolados: Dinarte Colpo e Rogério Aníbele. Nos primeiros dias de maio do corrente, eles tiveram o trabalho extra de fiscalizar a lei antifumo. Alguns fumantes se queixaram a princípio, mas logo se disciplinaram a fumar do lado de fora do clube, na calçada em frente. Vida longa ao Círculo Operário de Santiago. 

segunda-feira, 27 de junho de 2011

TRANSIÇÃO?

Estou enfastiado de ler ou ouvir que vivemos numa época de transição. Boaventura de Sousa Santos, sociólogo português, escrevia com gravidade nos anos oitenta que vivíamos  numa época de transição. Nas páginas iniciais do ensaio de Luciana Genro e Roberto Robaina, leio "vivemos numa época de transição". Óbvio, todo momento presente é uma  transição, no mínimo entre tempos diferentes: pretérito e futuro. Para a poesia, isso é possível.
Por citar Boaventura, pensador de consciência marxista, lembro que ele já dissertava sobre o "fim da História" nos mesmos anos oitenta. Pois bem, Luciana Genro e Roberto Robaina escrevem nas páginas iniciais de seu ensaio: "Os bem-pensantes acadêmicos e políticos das classes dominantes, diante do colapso do mal chamado socialismo real, chegaram a falar em fim da história".
Ora, "fim da história"! 
Essa confusão fecha com o que sugiro ser uma nova babel discursiva.  

A ARMADILHA


Toda vez que vou a Santa Maria, passo obrigatoriamente na Livraria da Mente e no Sebo Café. Não consigo controlar o desejo de me encontrar com livros, de conhecê-los, manuseá-lo, comprá-lo e lê-los (cedo ou tarde). Tal relação deve constituir, por excelência, a bibliofilia.
Na Livraria da Mente, sem óculos, li o título em vermelho do livro acima representado. A informação nele contida me interessou deveras. Retirei o livro da estante e... qual a minha surpresa? A segunda informação (após a conjunção aditiva e) me fez torcer o nariz. A leitura dos autores também não me devolveram a motivação inicial. Assim mesmo, comprei o livro.
Enquanto esperava o tempo passar, li as primeiras páginas. Os jovens autores (políticos), deduzo, encontram-se decepcionado com o governo do PT, mas não dizem isso a princípio. No capítulo I - "Tudo que é sólido desmancha no ar" ou a questão do modelo socialista e a falta dele - escrevem uma coisa que eu tinha como exatamente o oposto. Referem-se à revolução russa de 1917, como a primeira revolução socialista vitoriosa. Vitoriosa? Acaso estarei errado em pleno século XXI? Depois da debacle, a Rússia e os demais países que compunham a União Soviética não retomaram o capitalismo? 
Espero tirar essas dúvidas, lendo o livro da Luciana Genro e do Roberto Robaina.  

domingo, 26 de junho de 2011

LILÁS



A pintura acima é de Mikhail Vrubel, artista plástico russo, classificado como simbolista. O quadro Lilás foi pintado no ano de 1900. 
Em sua monografia A literatura pelo plástico: um olhar para os períodos literários pelo viés da arte, Erilaine faz uma relação interessante dessa obra pictórica com o poema A catedral, de Alphonsus de Guimaraens, simbolista brasileiro.

sábado, 25 de junho de 2011

NOVA TRADUÇÃO DE JOYCE

Leio no caderno Cultura do Zero Hora uma entrevista com Caetano Galindo, professor da Universidade Federal do Paraná, que fez a terceira tradução do romance Ulisses, de James Joyce. O livro será publicado no primeiro semestre de 2012. As traduções anteriores foram feitas por Antônio Houaiss (1966) e por Bernardina da Silveira Pinheiro (2005). A tradução de Houaiss é tida como "prolixa demais", e a de Bernardina, muito "coloquial". Li esse clássico duas vezes, uma empreitada nada fácil, considerando-se sua extensão. Vou aguardar a tradução de Galindo, que é tese de doutorado. 

POETA EM SANTIAGO

Hoje o Dr. Valdir me emprestou o caderno de Versos do Cônego Heitor Rossato, organizado pelo autor em junho de 1959. O padre Rossato escreveu como seus contemporâneo e amigos, Cecito e Aureliano. Abaixo, transcreverei alguns excertos que justificam minha apreciação. Antes de fazê-lo, todavia, aproveito a oportunidade para revelar-lhes que o padre Rossato viveu uma história de amor com uma moça da sociedade santiaguense. Rossato e essa moça se apaixonaram. A cidade se agitou com esse amor. O padre, segundo Dr. Valdir,  aconselhou-se com o amigo Cecito, que o apoiou no intento de renunciar ao sacerdócio. Feito após o desejado, ele e a moça casaram-se (e foram felizes para sempre). 
Ao buscar no Google pelo padre Heitor Rossato, encontro o livro As mais belas poesias gauchescas (volume 2), compilado por Luiz Alberto Ibarra, em que o poeta quase santiaguense participa da antologia com dois poemas: Lagoa do campo e Sextilha
Do caderno que leio neste momento, destaco alguns excertos antológicos:
Amor próprio em trocadilho,
como engana, como ilude:
- virtude alheia é defeito,
defeito próprio é virtude.

A virtude e o chimarrão
são parecidos os dois...
no começo gosto amargo,
mas que doçura depois...

Saudade, lembrança acerba
que a esperança adocicou,
doçura do mate amargo
depois que o mate acabou.

Canavial, doçura larga
que a geada matou na aurora.
Saudade, raiz amarga
da cana doce de outrora.

Velho lenço colorado!
Na rude história pampeana
do moirão de canjerana
tens o brilho e tens a cor.
És um grito de valor,
velho lenço maragato,
risada rubra do mato
das corticeiras em flor!

Aprecio de ouvir à noite
o canto triste do vento
o gosto de ver o pampa
largado assim - ao relento
e o peito virgem da terra
no abraço do firmamento. 

Heitor Rossato esteve presente no sepultamento de Aureliano de Figueiredo Pinto, improvisando alguns versos para o amigo na hora de fechar o jazigo:
Adeus, amigo Aureliano!
Meu irmão até outro dia!
Lá da excelsa sesmaria
ouve agora os versos meus.
Tu subiste para Deus
na galopeada da morte.
Santo herói, gaúcho forte,
Aureliano, adeus... adeus!   

PERGUNTA IDIOTA

Gilberto Dimenstein pergunta na Folha.com: "São Paulo é mais gay ou evangélica?". 
Para responder, o jornalista começa por longe: "Como considero a diversidade o ponto mais interessante da cidade de São Paulo, gosto da ideia de termos, tão próximas, as paradas gay e evangélica tomando as ruas pacificamente". No próximo parágrafo, todavia, aponta para que lado ele fará sua apologia. É moda no país da diversidade, dos plenos direitos de todo mundo (sem qualquer comprometimento com o dever). Fiel representante da mídia, Dimenstein se revela: 
"Os gays não querem tirar o direito dos evangélicos (nem de ninguém) de serem respeitados. Já a parada evangélica não respeita os direitos dos gays. Os gays usam a alegria para falar e se manifestar. A parada evangélica tem um ranço um tanto raivoso".
Em nome da alegria gay, Dimenstein não responde pela moral cristã, secular, cujos preceitos são claros. Nada de preconceito. Discordo de Dimenstein: há desrespeito, sim, na parada gay. Desrespeito aos valores cristãos, à Bíblia. O direito gay nega o direito evangélico (e vice-versa). 
(A propósito, ultimamente, o Direito no Brasil parece se apartar da ética? Juízes, defensores públicos e advogados passaram a defender ladrões e assassinos. Não vamos longe. Numa entrevista do Expresso Ilustrado, um advogado afirma o seguinte: "Existem no Brasil 95 mil pessoas cumprindo pena por pequenos furtos, os quais (sic) não geraram sequer 100 reais de prejuízo às vítimas". Vamos supor que o valor do prejuízo seja 100 - 1 = 99. Podemos aumentar o subtraendo, isso não importa. Seguindo o raciocínio, basta multiplicar 99 por 95 mil para sabermos o prejuízo real. As vítimas é que deveriam ser presas.)
Dimenstein encerra seu artigo de opinião (um dos piores que escreveu em sua carreira) com a grande sacada sociológica: "civilidade é a diversidade". Seu discurso institui um significado muito especial ao termo "diversidade", ainda não inteiramente percebido pelos conservadores, políticos ou religiosos. Nesse caso, sou conservador: se civilidade é diversidade, civilidade é anarquia da pior espécie, de ordem moral.   

sexta-feira, 24 de junho de 2011

DENILSON CORTES

Do Expresso Ilustrado desta sexta-feira, destaco a coluna do Denilson Cortes. Brilhante seu contraponto. A discussão sobre as sacolinhas plásticas como agente poluidor é uma forma de tangenciar os grandes problemas ambientais. Na hipótese da população santiaguense, orientada pelos ecologistas de plantão, deixar de fazer uso das sacolas, não mais as utilizando para trazer suas compras do supermercado e para acondicionar o lixo diário, pergunto qual o efeito disso. O colunista apresentou um número: 200 gramas para cada 100 quilos de lixo produzido. A medida considerada é tão somente o peso, não o efeito poluidor. Neste aspecto, dificilmente outro material empregado para substituir o plástico será mais leve. Claro que a vantagem está em sua mais rápida desintegração (do papel, por exemplo). Como todo o lixo da cidade ficaria embalado na rua, à espera da coleta? Em sacos de papel? As perguntas do Denilson são nesse tom, para melhor. Questionamentos que nenhum ambientalista é capaz de responder satisfatoriamente. De responder sem demagogia, com coerência, uma vez que ele próprio polui também. Assim são nossos ecologistas. Um dos grandes problemas ambientais foi declinado pelo meu colega de página. Referiu-se à água desperdiçada, de potável a podre. Desafio o colunista a escrever sobre a poluição do ar, outra substância necessária à vida no planeta (vida não apenas sob o ângulo especista do homem). Várias postagens deste blog, que se caracteriza essencialmente pelo contraponto, seguem a mesma linha da coluna do Denilson, a qual transcrevo abaixo:
Serão as sacolinhas...
Não queria entrar na discussão sobre as tais sacolinhas de mercado, apontadas como as vilãs da poluição. Mas, de tanto ouvir barbaridades, terei que emitir opinião. Para se ter uma ideia, elas representam apenas 0,2% de todo o lixo. Transformando em números, isso dá dois quilos de cada mil de resíduos que lotam os lixões. Ou ainda, 200 gramas em 100 quilos. Sou a favor do uso indiscriminado delas como atualmente? Não, mas também não vejo motivo para o pânico que estão criando. Elas demoram mais para decompor? Sim, e esse é o maior problema. Mas alguém se preocupa em quantos litros de chorume (líquido preto que sai das decomposições) esses mil quilos de lixo irão se transformar. E onde essa calda preta vai parar? Eu explico: nas nossas nascentes e lençol freático. Mas isso ninguém enxerga. Afinal, a sacolinha é culpada.
... as únicas vilãs?
Entendam de uma vez: o maior problema ambiental (do Brasil) tem dois nomes: saneamento básico. A falta desse, sim, mereceria fazer com que todos nós perdêssemos o sono. Para se ter uma ideia, uma pessoa gasta, em média, 100 litros de água diariamente (higiene, lavar louças, roupas etc.). Destes, apenas 4 é para consumo (beber e preparo de alimentos). No entanto, os 100 (sic) acabam indo para o mesmo lugar: esgoto. E sabem como volta para a natureza? Sem tratamento, jogado na rede de coleta de chuva (que chamamos erradamente de rede de esgoto). Na nossa região, todo o esgoto doméstico é jogado nos córregos e sangas. Mas isso não parece problema. Já as sacolinhas...
Futuramente, a CORSAN irá tratar todo o esgoto produzido na zona urbana de Santiago. Há um contrato nesse sentido. 

"MEU CARO AMIGO"

Chico é um grande compositor/ poeta, porque seus versos são muito bem escritos. Em Meu caro amigo, caso raro na música popular brasileira, há uma perfeita combinação de versos alexandrinos (12 sílabas), com octossílabos e dissílabos.  Chico Buarque segue a métrica com perfeição, coisa que poetas e compositores da nossa terra ignoram. Nada contra a ignorância, pior é o se achismo de quem produz versos quebrados (inclusive para cantar). Também compreensível. Pior mesmo é o desprezo dos ignorantes pelo saber, desdém tipo "uvas verdes". 

BOM DIA!!!


"UNS DIAS CHOVE,  NOUTROS DIAS BATE SOL"
                                                               Chico

quinta-feira, 23 de junho de 2011

OS DRAGÕES...



Embalado pela leitura do romance Onde andará Dulce Veiga?, apanhei outro livro do Caio Abreu para releitura: Os dragões não conhecem o paraíso. A sétima obra do escritor reúne treze contos: 
- Linda, Uma História Horrível;
- O Destino Desfolhou;
- À Beira do Mar Aberto;
- Sem Ana, Blues;
- Saudades de Audrey Hepburn;
- O Rapaz Mais Triste do Mundo;
- Os Sapatinhos vermelhos;
- Uma Praiazinha de Areia Bem Clara, Ali, na Beira da Sanga;
- Dama da Noite;
- Mel & Girassóis;
- A Outra Voz;
- Pequeno Monstro; e
- Os Dragões Não Conhecem o Paraíso.
Digo releitura para simplificar. Já li três ou quatro vezes o conto que dá título ao livro, Os dragões não conhecem o paraíso
A primeira frase de Mel & girassóis começa assim "Como naquele conto de Cortázar", apenas para demonstrar o que postei abaixo sobre uma das influências presentes na literatura de Caio Abreu.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

INVERNOS

Vendo a chuva bater no vidro da janela, penso que finalmente chegou o inverno. Ato contínuo, abro este espaço para uma nova postagem. Quando escrevo, não posso cometer um reducionismo deste tipo: o inverno chegou finalmente. Claro que chegou antes. Cronologicamente, chegou ontem, dia 21 de junho, às 14 horas e 16 minutos. Com base no frio, na sensação térmica, o inverno já começo há muitos dias. Não é uma obrigação, mas ser mais preciso nas informações é uma característica minha. Não obstante todos os esforços, isso nem sempre acontece. A poesia, por outro lado, me permite mais liberdade. Posso imaginar dois tipos de invernos: 1) com o Sol a 45º, muito propenso a recebê-lo em cheio, sentado no oitão da casa, resguardado do vento sul, comendo bergamota; 2) com chuva (como fez hoje), dentro de casa, em volta do fogão à lenha, comendo bolo frito. Em ambas situações, o inverno é bom. Não falo do inverno mau. Essa é uma preferência daqueles que gostam do verão. Não é meu caso. 

terça-feira, 21 de junho de 2011

FIM DO ROMANCE

Uma tarefa difícil achar tempo para ler, blogar, jogar xadrez, cozinhar, ver um filme e sair um pouco. Todas essas opções (obrigatórias ou facultativas) para preencherem meu tempo de folga. 
Hoje, por exemplo, dediquei mais tempo à leitura. 
Dessa forma, concluí Onde andará Dulce Veiga?, de Caio F. Abreu. O romance é um gênero literário, como o é o conto, a crônica, o poema... Como é mais demorada sua leitura, tenho por hábito acompanhá-la com um lápis à mão. Com um olho na forma e outro no conteúdo, faço muitas anotações nos espaços livres da folha ou nas páginas em branco no final. Onde andará Dulce Veiga? apresenta a fala dos seguintes personagens: narrador (alterego do Caio); Castilhos (chefe de redação do jornal Diário da Cidade, onde trabalha o narrador); Teresinha O'Connor (colunista); Rafic (diretor-proprietário do jornal); Silvinha (mulher de Rafic); Márcia Felácio (líder da banda Márcia Felácio e as Vaginas Dentadas); Patrícia (componente da banda e amante de Márcia); Jandira de Xangô (vizinha do narrador que lê búzios); Jacir ou Jacyra (filho travesti de Jandira); Dulce Veiga (cujo nome é repetido 201 vezes ao longo do romance); Alberto Veiga (ex de Dulce Veiga, homossexual); Saul (ex de Dulce Veiga); Pedro (paixão vivida pelo narrador, que vive o dilema da homossexualidade); Dora (prostituta que sexo oral com o narrador); Lilian Lara  (artista carioca, amiga de Dulce); e outras de menor importância (como Filemon e Pai Tomás). O cenário principal é São Paulo (capital), com uma rápida passagem pelo Rio de Janeiro e o final em Estrela do Norte, cidadezinha no interior do Brasil. O narrador é o fio que liga uma célula dramática a outra, o que melhor caracteriza a novela. Às vezes, participando dialogicamente; às vezes, num monólogo interior (direto ou indireto). Sob o efeito do álcool ou da cocaína, o narrador vê Dulce Veiga em diversos lugares e situações, sem, contudo, alcançá-la. Nesses momentos, a narrativa do Caio reflete o realismo mágico que fez escola na América Latina, principalmente com García Márquez e Julio Cortázar. Cortázar exerceu grande influência sobre a ficção de Caio, bem como Clarice Lispector. Em quatro passagens, ao longo do romance, o narrador menciona o Passo da Guanxuma (Santiago). Na última, quase desistindo de procurar Dulce Veiga, o narrador conclui que o melhor seria "voltar para São Paulo, enterrar de vez tudo aquilo, procurar outro emprego, talvez voltar para o Passo da Guanxuma, de onde nunca deveria ter saído". O narrador é um repórter novato no Diário da Cidade, incumbido por Rafic de encontrar Dulce Veiga. O périplo realizado por ele lembra Todos os nomes, de José Saramago, cuja personagem também procura por uma mulher desconhecida. 
Agora, feita a postagem sobre o romance lido, devo fazer nova escolha para a leitura dos próximos dias. 

O MEU PAÍS

Recebi do meu amigo Tamares Gavioli (Manaus-AM) um vídeo com o João de Almeida Neto declamando o poema O meu país. Por seu discurso inconformista, vale a pena ouvi-lo. 

sábado, 18 de junho de 2011

ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA?


Há quatro anos, li metade do romance Onde andará Dulce Veiga?, do Caio Abreu. Por alguma razão, suspendi a leitura até esta semana. Fui à estante, apanhei o livro e retomei o romance desde o começo. Já passei da metade (de onde tinha parado anteriormente). Desta vez, irei até o final, apesar de um problema nas vistas.
A história já foi transformada em filme pelas mãos do diretor Guilherme de Almeida Prado, amigo do Caio. Maitê Proença faz o papel de Dulce Veiga (cantora dos anos 60), Carolina Dieckmann é Márcia Felácio (filha de Dulce), Eriberto Leão é o narrador ...

EPÍGRAFE DE O OVO

No ano de 1985, uma das questões de Literatura do vestibular para a Universidade do Paraná fundamentava-se no seguinte poema:
"Estive doente,
doente dos olhos,
doente da boca,
dos nervos até,
dos olhos que viram mulheres formosas,
da boca que disse poemas em brasa,
dos nervos manchados de fumo e café.
Estive doente,
estou em repouso
não posso escrever.
Eu quero um punhado de estrelas maduras,
eu quero a doçura
do verbo viver"
Há cinco anos, declamava-o, desde que lera pela primeira vez em O ovo apunhalado, de Caio Fernando Abreu. Caio transformara-o em epígrafe de seus contos. 
O poema é de um louco anônimo.
Passei no vestibular para o curso de Letras. No dia da matrícula, não encontrei meu Histórico Escolar. 

CAIO ABREU EM SANTIAGO


Tânia de Oliveira (minha irmã) e Caio Abreu, quando foi inaugurada a foto dele na "Galeria dos Escritores Santiaguenses" no Centro Cultural. 
(Para aumentar a imagem, clique sobre ela.)

sexta-feira, 17 de junho de 2011

PRIMEIRA HORA

Densas pinceladas pintam o céu desta manhã. De um lado, explode a hora dilucular; de outro, riscos de energia prenunciam o temporal.  Por um instante, a cidade ganha tons românticos entre luz e sombra. O vento muda de direção, trazendo de volta a noite. Pingos grossos caem sobre os paralelepípedos, de onde brotam guarda-chuvas. A sexta azul não passou de uma previsão equivocada, de um desejo.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

NOVA BABEL

Já vivemos uma babel hipertextual. Todo mundo querendo expressar uma opinião sobre os mais diversos assuntos, algumas vezes sem o conhecimento necessário. Em Santiago, isso se evidencia na Literatura. Gente que não lê, que não sabe interpretar um texto, mete-se a escrever, a formar escola. Estultos que, em relação à alegoria de Platão, ainda se encontram dentro de uma caverna. Menos no item viagem, devo seguir o Ruy Gessinger, lendo mais e não me imiscuindo babelicamente. 

terça-feira, 14 de junho de 2011

CONFISSÃO

Mais uma vez, num acesso autocrítico, reconheço-me apenas mais um "chinês" nesta babel  em que se tornou o discurso opinativo. Tudo o que falo ou escrevo tem a mesma importância de seu oposto natural: o silêncio. O mundo, a começar pelas pessoas mais próximas, não depende das minhas ideias para continuar existindo. Absolutamente. Cito como prova as postagens abaixo. Ainda que tenham chamado a atenção de alguns leitores inteligentes, entre os quais Edson Orides de Paula, Alessandro Reiffer e Nívia Andres, acabarão perdidas para sempre num emaranhado hipertextual de dimensão incomensurável. Espero não desapontá-los com meu desencanto, com meu reconhecimento de impotência. 

JURA, JUREMIR?

Por diversas vezes, destaquei Juremir Machado da Silva neste espaço, concordando com as opiniões do jornalista. O Alessandro Reiffer, há muitos dias, discordou publicamente do escritor em relação a um assunto em que o colunista fora parcial, pouco convincente. Pois bem, hoje o Juremir expõe-se ao ridículo outra vez com o texto Dois heróis, defendendo que João Goulart e Leonel Brizola são os maiores heróis brasileiros dos últimos 50 anos. Não está blefando ironicamente, com a intenção de provocar pessoas que ele chama de "conservadoras", uma vez que escreveu um livro sobre o assunto, Vozes da legalidade. Portanto, Juremir pensa realmente que Jango e Brizola são dois grandes heróis brasileiros. É isso o que expressa na pior coluna que escreveu (de todas as que li) no Correio do Povo.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

ESCOLA BOA VISTA

Hoje estive na Escola Municipal Boa Vista, para falar com as turmas de sétima e oitava séries. O assunto escolhido foi o projeto Rua dos Poetas (da Prefeitura de Santiago). Antes de começar a apresentação dos slides, distribuí papel e caneta aos alunos, pedindo que relacionassem os nomes dos homenageados. O prêmio para quem tivesse mais acerto: um livro de poesia. A aluna Diéssica Delevati se destacou, com as citações de Aureliano de Figueiredo Pinto, Caio Fernando Abreu, Sílvio Duncan e Jaime Pinto. Em seguida, mostrei-lhes um a um dos vinte artistas que compõem o panteão da Rua dos Poetas. No slide, apenas o nome do artista e um excerto de sua produção textual, escultórica ou musical. Alguns alunos leram os versos de Manuel do Carmo, Adelmo Simas Genro, Zeca Blau, Manoel Vargas Loureiro... Para justificar a aproximação da poesia com a música popular, citei o exemplo de Túlio Piva. Ao encerrar, com Eurides Nunes, coloquei para tocar o vaneirão Farroupilha.  
Relação completa: Manuel do Carmo, José de Figueiredo Pinto (Zeca Blau), Ramiro Frota Barcelos, Túlio Piva, Antonio Carlos Machado, Sílvio Duncan, Carlos Humberto Aquino Frota, Filinto Charão, Rivadávia Severo (Dr. Rivota), Aureliano de Figueiredo Pinto, Oneron Dornelles, Antero Amaral Simões, Guirahy Pozo, Adelmo Simas Genro, Manoel Vargas Loureiro, Ney Aramy Dornelles, Arno Gieseler e Eurides Nunes.

"ÉTICA FLEXÍVEL"

"Lula ainda na noite de segunda ligou para Antonio Palocci e insistiu: depois da decisão da Procuradoria-Geral da República de não investigá-lo, ele não deveria sair da Casa Civil. Segundo relato de Palocci a amigos, disse Lula com seu pragmatismo que habitualmente manda a ética às favas: 'Já mantivemos no cargo companheiros culpados, agora que você tem uma carta de inocência nas mãos por que teria de sair?'. Dilma, porém, não concordou com a extravagante lógica de Lula."
(Por Lauro Jardim, Veja, página 62.)

RESPOSTA AO BIANCHINI

O amigo, blogueiro e vereador Bianchini pergunta em sua penúltima postagem por que Caio Abreu não tem o devido reconhecimento em nossa cidade. 
Não é o primeiro a fazer tal pergunta, tampouco será o último. 
O trem já está andando, é justificável que os passageiros que entram mais tarde (em estações subsequentes) queiram sentar-se à janela. Noutras palavras, o Caio vem sendo reconhecido há muitos anos.
Para não citar a mim (que leio Caio Abreu desde 1980, quando D. Renita Andretta me emprestou O ovo apunhalado), cito o Centro Cultural de Santiago que fez uma bela homenagem ao escritor alguns dias antes dele partir definitivamente (1996). 
Minha irmã, Tânia de Oliveira, era diretora de Literatura do Centro Cultural e organizou essa homenagem, que consistiu na inclusão do Caio na galeria dos escritores. A viagem a Santiago foi memoravelmente registrada pelo próprio, na crônica A raiz do pampa.
Para vir a Santiago, o Caio desistiu de ir a Montevidéu e postergou sua baixa ao hospital.
Mais tarde, com o projeto da Rua dos Poetas, nova homenagem ao Caio, com a inclusão de seu nome entre os escolhidos. Alguns foram contra tal escolha, argumentando que o Caio não era poeta (no sentido restrito do termo). Depois disso, houve uma profusão de homenagens ao escritor nascido em Santiago, com seu nome designando diversas entidades (como de uma escola técnica, por exemplo). 
O blogueiro tem razão ao enfatizar "devido reconhecimento". Os santiaguenses não reconhecem Caio Abreu porque não o leem. Qualquer iniciativa institucional, como as citadas acima, não encontra a resposta do público. Isso é muito mais verdadeiro que dizer que o Caio "não cabia em nossos trilhos". 
O Caio era homossexual assumido. Vários de seus contos trazem personagens homossexuais. O preconceito quanto à sexualidade do Caio existiu (e existe), mas não é a principal justificativa para o não conhecimento de sua obra. Falta leitura. Não há reconhecimento sem leitura. Verdade que corre o risco de ser negada em nossa cidade, com o reconhecimento do homem e não de sua produção literária (de reconhecido valor estético).
Futuramente, poderá ser erigido outro monumento ao Caio. Na esquina da Getúlio Vargas com a Rua dos Poetas (em frente à farmácia São João), já existe uma homenagem em "bronze e cimento" ao nosso grande escritor. Sugiro ao vereador que proponha na Câmara a denominação de uma rua com o nome "Caio Fernando Abreu".
Toda homenagem, todavia, deve ser pensada, planejada e executada sem atropelo, com o cuidado de não decair para a vulgarização. 

domingo, 12 de junho de 2011

CASO BATTISTI

A recente decisão do STF sobre o Caso Battisti, mais uma vez, causa-me espanto por sua falta de lógica, com um ministro dizendo "sim", e outro, "não". Como gostaria de já ter escrito neste espaço que Cesare Battisti foi condenado na Itália por quatro assassinatos, crime que não pode ser perdoado independentemente onde ele esteja. Não há paraíso penal. O Brasil, a partir da decisão de transformar Battisti num preso político e absolvê-lo dos crimes que cometeu, nega a própria verdade. 
Ninguém daria importância se tivesse escrito isso no meu blog. Quem sou eu, simples opinativo, sem conhecimento da grande ciência do Direito? 
Não perdi por esperar.
Os outros dizem o que calei. Gente do próprio Supremo, como Gilmar Mendes:
"Nós não estamos a falar de alguém que fez um passeio, mas que é acusado de quatro assassinatos";
"Se de fato o STF serve para isso, para o que se decidiu no Caso Battisti, melhor que perca essa competência"
O papel do STF precisa ser discutido no Congresso para esse tipo de questão, avalia o ministro Gilmar Mendes. 
Falta lógica.
Inaceitável o discurso do ministro Luiz Fux:
"O que está em jogo aqui não é nem o futuro nem o passado de um homem, mas a soberania nacional".
Não é dessa forma que devemos afirmar nossa soberania. Trata-se, sim, dos crimes cometidos por um homem, que não prescrevem além de uma determinada fronteira. 
Inaceitável o discurso do ministro Marco Aurélio Mello:
"O acolhimento de um estrangeiro pelo Estado brasileiro está no campo da normalidade".
Normalidade???
Decisões do Supremo (como a desse caso) estão coerentes com uma generalizada decadência nos valores éticos da nossa sociedade. A corrupção no governo federal (como o  "mensalão"), as provas malfeitas do ENEM, o desprestígio da norma culta da língua e os livros com erros de Matemática distribuídos pelo Ministério da Educação, a eleição de Merval Pereira para a ABL (e não Antônio Torres), o atraso nas obras para a Copa do Mundo, a degradação ambiental na Amazônia, o tráfico de drogas, a violência, tudo faz sentido pela falta de eticidade  que caracteriza uma nação.
Meu espanto não se justifica neste momento. Corro o risco de ser considerado anormal por não achar normal um assassino ser acolhido pelo governo brasileiro (como o expresso pelo ministro Marco Aurélio Mello). 

sábado, 11 de junho de 2011

ASTRONOMIA



Encontra-se disponível das bancas O livro de Ouro do Universo, de Ronaldo Rogério de Freitas Mourão (maior autoridade em Astronomia no Brasil). Com mais de 500 páginas, o livro traz todo o conhecimento já comprovado sobre o Universo e as principais teorias (que são passos dados corajosamente pela ciência em direção ao desconhecido). 
Apenas 24 reais.

ROMANTISMO COMPRADO NO COMÉRCIO

É uma grande incoerência associar romantismo, em sua acepção de sentimento puro, de doçura, com o materialismo, esse afã consumista que movimenta nossa sociedade. 
Já me disseram algumas vezes que não sou romântico, que não falo e não escrevo sobre o amor. Mas nunca me elogiaram por ser coerente, por não fazer essa associação (ou confusão) entre SER e TER - como o faz a maioria sem qualquer problema. A propósito, essa confusão entre o anímico ou ontológico e o material é observada amiúde no comportamento daqueles que dizem amar a Deus e amam de fato as riquezas.
Não leio nos jornais e não vejo na televisão que devo ser românticos no Dia dos Namorados. A propaganda que mantém essas mídias tão ativas me bombardeia que devo comprar um presente (quanto mais caro melhor, mais verdadeiro) e, somente por esse gesto, demonstrar meu amor.
Não compactuo com esse romantismo de fachada. Tudo o que pode "rolar" no Dia dos Namorados não é, em essência, diferente do que "rola" nos dias anteriores ou posteriores. 
As afeições não podem depender do comércio, como condição necessária para sua expressão entre as pessoas. A troca de presentes, meros adereços, não passa de uma possibilidade.  

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O DIA DA VERGONHA

Reinaldo Azevedo escreve 
"O dia em que Battisti foi solto, e Palocci, aplaudido de pé", propondo o "Dia da Vergonha". Leiam aqui.

terça-feira, 7 de junho de 2011

SOB AS CINZAS

As cinzas do vulcão Puyehue atingem o Rio Grande do Sul. Minha dúvida é se atingiu ou atingirá Santiago (a quase mil quilômetros ao norte). Refiro-me à capital chilena. A cinza vulcânica não faz mal à saúde humana, exceto se é inspirada, o que poderá causar a pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiose. 
Gibran, que gostava das tempestades, diria que um vulcão em erupção é um belo espetáculo da Natureza. Para ver dessa forma é imprescindível uma posição acima do umbiguismo antropocêntrico. Os dinossauros, que dominaram o planeta por 150 milhões de anos, foram extintos em razão de muita cinza de origem vulcânica. A queda de um grande meteoro provocou erupções em cadeia. Por muito tempo, o céu ficou completamente encoberto, invernando o planeta por quanto tempo(?). Os répteis gigantes não aguentaram.
Este dia fechado, sem sol, extremamente frio, causa um desconforto apenas. Que o digam os "dinossauros", ou melhor, os mamíferos mais suscetíveis.

GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA HISTÓRIA DO BRASIL

O terceiro capítulo do Guia politicamente incorreto da História do Brasil, com o título Pequena coletânea de bobagens dos nossas grandes autores, começa com esta introdução:
"Intelectuais famosos nem sempre são geniais. Cometem besteiras em troca de dinheiro, adotam ideologias da moda que se revelam loucura e escrevem coisas de que depois se arrependem. Erram principalmente quando jovens, o que é de esperar. Mas alguns insistem no erro até a velhice, sustentanto toda a sua obra em equívocos fundamentais. Quando entram para a história, passam por uma triagem que ao longo dos anos retira imperfeições, feitos medíocres e detalhes bizarros. Nas biografias e nos verbetes de enciclopédias, ficam somente os cachos vistosos do bom-mocismo. É uma pena. As frutas podres contam boas histórias sobre a época e a personalidade dos artistas - além de serem bem divertidas".
O autor do Guia expõe algumas poucas e boas dos seguintes escritores: Machado de Assis, José de Alencar, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Gilberto Freire, Gregório de Matos e Euclides da Cunha. 
Machado de Assis "foi censor do Conservatório Dramático, o órgão da corte do imperador dom Pedro II encarregado de julgar as peças que poderiam ser levadas ao público". Portanto, Machado era "censor do Império".
José de Alencar, que era deputado no Rio de Janeiro, eleito pelo Ceará, publicou sete cartas dirigidas a dom Pedro II, das quais três tratam abertamente da defesa da escravidão negra no Brasil. "De acordo com José de Alencar, toda nova civilização da história floresceu por meio da escravidão de civilização decadente."
"Quando tinha 28 anos, o baiano Jorge Amado conseguiu defender, ao mesmo tempo, dois dos maiores tiranos do século 20: Adolf Hitler e Josef Stalin.[...] Amado virou redator da página de cultura do Meio-Dia, então jornal de propaganda nazista no Brasil. [...] No livro Navegação de Cabotagem, Jorge Amado mostra por que admirava o líder político baiano Antonio Carlos Magalhães."
"Numa crônica de 1921, o autor de Vidas Secas defendeu que o futebol era uma moda passageira que jamais pegaria no Brasil. [...] Graciliano Ramos "ainda pediu aos jovens que esquecessem o esporte e resgatassem, em nome da cultura brasileira, atividades nacionais que andavam esquecidas, como a queda de braço e a rasteira."
Gilberto Freire escreveu "que o Brasil deveria seguir a Argentina e clarear a população". Num trabalho acadêmico, embrião de Casa-Grande & Senzala, Freire elogiou o esforço dos "cavalheiros da Ku Klux Klan americana".
"Gregório de Matos era um dedo duro. [...] O poeta odiava negros, índios e judeus." Seus poemas satíricos denunciavam os "hereges" aos padres católicos.
Sobre Euclides da Cunha, o Guia expõe o lado perverso do escritor com a própria família. Em sua expedição à Amazônia, deixou "a mulher no Rio de Janeiro, sem dinheiro e sem casa para abrigar os três filhos. Anna da Cunha [...] teve que colocar os dois filhos mais velhos num colégio interno e se mudar com o caçula para uma pensão barata". Nessa pensão, ela conheceu Dilermando de Assis. Enviado a Canudos pelo jornal A Província de S. Paulo, Euclides mandava de lá "uma mistura de informações erradas e atrasadas sobre o conflito".


segunda-feira, 6 de junho de 2011

A TODO BÔNUS...

Viver é um processo que implica natural e artificialmente a degradação do meio ambiente. A todo bônus, um ônus. 

domingo, 5 de junho de 2011

SLOGANS ABSURDOS

Às vezes, desconfio que minha inteligência está regredindo (seria esse o primeiro sintoma do mal de Alzheimer?). A mesma inteligência que me faz ser autocrítico antes de ser crítico. Seria uma pena para quem sempre buscou o conhecimento, inclusive o autoconhecimento (responsável pela inversão da ordem do objeto a ser criticado). 
Caso o problema não seja de saúde, pessoal, então é minha inteligência que mais claramente passa a perceber a ignorância que engorda e governa. Fora de mim. 
Destaco dois slogans para uma pequena crítica:
"PAÍS RICO É PAÍS SEM POBREZA";
"FLORESTAS: A NATUREZA A SEU SERVIÇO".
O primeiro é do governo federal. O segundo, do Dia Mundial do Meio Ambiente.
Não entendo nenhum dos dois. Com "país rico é país sem pobreza" o governo idealiza ou referencia? Isso no campo semântico. No campo gramatical, não passa de um pleonasmo, de uma tautologia. O discurso é demagógico. 
Antes de interpretar o segundo, pergunto se "floresta" e "natureza" são coisas diferentes. A frase distingue uma coisa da outra, invertendo a relação hiperonímica: a natureza subordinada à(s) floresta(s) e não o inverso. Equivale a dizer "Rosas: as flores a seu serviço".  
Há outra interpretação para esse slogan, que não o da Natureza estar a serviço das florestas? Ou, numa interpretação antropocêntrica, as florestas são a Natureza a serviço do homem? Um absurdo.

DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE



Dia do meio ambiente é todo dia. Este 5 de junho acaba sendo o dia em que os homens se dedicam a pensar no meio ambiente. A pensar - como único processo que não leva ao processo seguinte, o da (transform)ação. Por um lado, a falta de agir não é de todo ruim. Apenas para pensar, para manter-se vivo, o homem constitui-se num organismo que degrada o meio ambiente. Como todo ser vivo. A (em) princípio. Ao pensar e fazer alguma coisa, ele acaba causando dano muito maior. Negando a Lei de Lavoisier, na interação do homem com os elementos externos há uma perda, sim, na qualidade ou constituição físico-química desses elementos. O ar é um exemplo. Basta a respiração para transformá-lo num gás nocivo (exceto para o Reino Plantae). Outras atividades humanas, também necessárias para a vida, que não seja a simples alimentação, têm a capacidade de apodrecer a água. A agricultura é uma prática que vem degradando o solo há dez mil anos. Utilizado há muito mais tempo, necessário à sobrevivência, o fogo transforma o orgânico (que levou bilhões de anos para se constituir) em inorgânico. Nada se perde? 
Paradoxalmente, o homem é o único ser capaz de pensar sobre si mesmo e sobre o meio em que vive e ser incomparável na capacidade de destruir esse meio. No aspecto destrutivo, ele é semelhante aos vírus. Pensar é sua forma de fazer mea culpa.

sábado, 4 de junho de 2011

PARABÉNS, NINA!


Há um ano exatamente
vieste ao mundo menina
- geminiana, inteligente,
linda e simplesmente
                          Nina

Neste dia muito especial para o Júlio e a Eliziane, em que a Nina completa seu primeiro ano de vida, felicito-os. Muitas felicidades!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

NOVO ERRO DO MEC

Leio no UOL que o Ministério da Educação distribuiu livros com erros de matemática a 37 mil escolas. Nesse material didático (?) "se aprende (?), por exemplo, que 10 - 7 = 4 e que 16 - 8 = 6. Há ainda exercícios que remetem à página errada e frases incompletas". O gasto com o equívoco é insignificante para as cifras do governo federal: catorze milhões de reais. "O total de estudante prejudicados, de acordo com o MEC, é de cerca de 300 mil, menos de 1% do ensino público." Também insignificante. A incompetência nesse ministério já tirou a prova dos noves fora. 

GUIA POLITICAMENTE INCORRETO

Mais uma vez, expresso meu gosto por livros que desmi(s)tificam. O Guia politicamente incorreto da História do Brasil, de Leandro Narlock, encaixa-se nesse tipo. Leitura agradável. O primeiro capítulo dedicado à história dos "índios" e o segundo, aos negros (que estou lendo agora). Transcrevo abaixo alguns rápidos excertos do livro:
"Quem mais matou índios foram os índios";
"De repente, porém, aconteceu um fato extraordinário. Apareceram no horizonte enormes ilhas de madeira, que eram na verdade canoas altas cheias de homens estranhos. Numa quarta-feira ensolarada do sul da Bahia, duas pontas da migração do homem pela Terra, que estavam separadas havia 50 mil anos, ficaram frente a frente. Os milênios de isolamento dos índios brasileiros tinham enfim acabado";
"Até o descobrimento, não havia coqueiros no Brasil";
"Os portugueses trouxeram de presente para os índios um lobo que tinha sido domesticado fazia 14 mil anos, no sul da China";
"O mito do índio como um homem puro e em harmonia com a natureza já caiu faz muito tempo, mas é incrível como ele sempre volta";
"O homem apontado como o primeiro sifilítico da Europa é justamente um navegador: Martín Afonso Pinzón, comandante da caravela Pinta [...] Pinzón teria feito sexo com índias na ilha Hispaniola";
"A floresta era o maior inimigo dos índios";
"Os bandeirantes ganharam recentemente o papel dos grandes facínoras";
"Os acusados merecem um novo julgamento";
"Os padres se esforçavam, nos comunicados às autoridades espanholas, para retratar os sertanejos como demônios";
"A maioria dos índios abandonou os jesuítas não tanto por causa da violência dos ataques paulistas, mas por falta de confiança nos padres e cansaço de suas normas cristãs".
"Por volta de 1830, o escravo José Francisco dos Santos conquistou a liberdade. Depois de anos de trabalho forçado na Bahia, viu-se livre da escravidão, provavelmente comprando sua própria carta de alforria ou ganhando-a de algum amigo rico. Estava enfim livre do sistema que o tirou da África quando jovem, jogou-o num navio imundo e o trouxe amarrado para uma terra estranha. José tinha uma profissão - havia trabalhado cortando e costurando tecidos, o que lhe rendeu o apelido de 'Zé Alfaiate'. No entanto, o ex-escravo decidiu dar outro rumo a sua vida: foi operar o mesmo comércio do qual fora vítima. Voltou à África e se tornou traficante de escravos".

quinta-feira, 2 de junho de 2011

A LÓGICA DA LEI

Uma lei proibindo fumar em determinado ambiente vai beneficiar a maioria que não fuma. Ao mesmo tempo, ela prejudica o fumante. Correto? É inconcebível uma lei que assegure o direito aos dois lados, tampouco que o negue, em razão da oposição.
Em relação a outras leis que estão sendo elaboradas no país para beneficiar uma minoria, salvo melhor juízo, não seguem a lógica exposta acima. Quanto mais direito se outorgar à minoria, menos direito terá a maioria. Correto? Um contrassenso.
Intensa campanha se volta contra a maioria (falsamente acusada de preconceito ou até mesmo de violência), para justificar uma lei a favor da minoria.

CONTRA O CIGARRO

Os ambientes internos, de clubes por exemplo, estão muito mais saudáveis com a proibição definitiva do cigarro. Aos poucos, o reduto dos fumantes se restringe aos espaços abertos ou isolados. Não obstante essa exclusão necessária, os viciados resistem estoicamente. A Organização Mundial de Saúde estima que o fumo vai matar 1 bilhão de pessoas no século 21.

CAPÃO DO CIPÓ

Viajar é bom.
Consumismo saudável, que me propicia a mais descompromissada felicidade. Encontrar-me heraclitianamente pela primeira vez num lugar... Ser um livre-observador... Conhecer pessoas... Viver presentemente na ausência... Quebrar a rotina por um processo contínuo de mudança... Reconhecer-me sujeito e objeto nesse processo. Uma viagem se viajo. 
Independentemente do lugar. O mato num fundo de campo ou Katmandu. Não há perto ou longe, tampouco felicitômetro para precisar minha emoção. Viver não é preciso (já virou lugar-comum na filosofia, na poesia, na fala cotidiana dos comuns).
Ontem conheci Capão do Cipó. Certamente, uma das menores cidades do mundo,  não importa. Grande era meu desejo de conhecê-la. 
Uma brisa com gosto de manhã percorria as distendidas coxilhas e vinha  estimular minha percepção sinestésica.
Com uma câmera semiprofissional, cliquei 53 vezes. Crianças na praça.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

EMPRESÁRIO PRESO?

Ouço na Rádio Santiago e leio no Nova Pauta que empresário santiaguense foi preso pela Polícia Federal. A primeira reação que tenho é de ceticismo. Não estariam os meios de informação acima exagerando quanto ao status do cidadão preso (econômico ou profissional)? Raramente, um empresário é preso neste país. Quando isso ocorre, via de regra, é certa a participação da Polícia Federal - último segmento de poder inteiramente confiável. 
A segunda reação é de confiança na mídia.