ORACY DORNELLES
Oracy Dornelles faleceu domingo, no
começo do mês em que completaria 89 anos de idade. O poeta tinha uma existência
mais longa, como ele mesmo dizia em tom de pilhéria. Inicialmente, parnasiano
(com o rigor formal de seus versos); simbolista (com o caráter pessoal,
idiossincrásico); modernista (com a exploração dos aspectos fônicos,
morfológicos, sintáticos e semânticos das palavras e frases); e, por último, flertou
com a tecnologia digital (a produzir “infopoemas”).
Nossa amizade se iniciou no ano de
1983, quando o encontrava na sala de Arquivo da Prefeitura, nos bancos da Praça
Moysés Vianna, ou na sua casa pintada de sol. O Oracy lia seus poemas mais
recentes para mim, com ênfase nos recursos literários. Um tanto receoso, mostrava-lhe
os meus. Toda vez honestíssimo nas avaliações, ele me apontava os erros e
acertos: ruim, bom ou espetacular. Graças à compreensão de suas críticas, sem
melindre ou empáfia, tornei-me poeta de fato.
Na Universidade, escolhi a magnus opus oracyana, para escrever o
artigo científico Intertextualidade nos cantares
ares de Oracy Dornelles. O texto foi
incluído no livro O que importa em Oracy,
publicado em 2003 com Fátima Friedriczewski e Júlio Prates. A alusão indireta a
outros textos nos poemas do Oracy exige do leitor conhecimento de mitologia
(egípcia, judaica, grega e moderna), história, filosofia, arte, metalinguística
etc.
Desde Ponteiros de palavra, venho fazendo referência a Oracy, com a
admiração própria de um influenciado verdadeiro. Um desses tributos consiste no
soneto monossilábico Ora: ora/ só/
ora/ com// ora/ cor/ ora/ som// ora/ céu/ ora// ser/ ora/ cy. Sempre me fiz
presente nas várias ocasiões em que a Prefeitura, o Centro Cultural e a Casa do
Poeta renderam homenagens ao poeta em vida.
Na Santiago que conheci há mais tempo,
havia um poeta só. Ele vinha e ia por uma via de pó, pedra e poesia. Esse poeta
era Oracy Dornelles, a vir e ir pela Duque de Caxias. A propósito, a Rua dos
Poetas deverá homenageá-lo com uma estátua monumental – a destacar sua
cabeleira (encimada por uma boina), seu paletó, seu livro na mão, seus passos
seguidos pelos cachorros fiéis.
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