domingo, 19 de abril de 2015

CRENDICES E CRENÇAS

Richard Dawkins é brilhante do início ao fim de seu livro O capelão do Diabo, mesmo na carta que escreveu à filha Juliet, de dez anos. Certas passagens (iluminadas por mim) são extraordinárias, como na sua demolição à cristalomancia:
Beber água a intervalos de duas horas é certamente uma boa ideia, quando se está com gripe. Mas colocar na água um cristal de quartzo não acrescentará nenhum efeito. Ou seja, não importa quanta luz colorida se visualize, isso não alterará a composição do cristal, nem da água.
E estende seu raciocínio para outros
Disparates pseudocientíficos como esse são perturbadoramente comuns na cultura de nossa época. Restringi meus exemplos aos cristais apenas porque precisava estabelecer um limite em algum ponto. Mas os “signos astrológicos” teriam servido igualmente bem. Ou os “anjos”, a “comunicação com os espíritos”, a “telepatia”, a “cura quântica”, a “homeopatia”, a “radiestesia”. Não há limite óbvio para a credulidade humana.
Dawkins retoma esse assunto no final do livro, na carta supramencionada. Nela são elencadas as três “razões indevidas” para acreditar no que quer que seja: tradição, autoridade e revelação.
A tradição é tudo o que é transmitido dos avós para os pais, destes para os filhos, e assim por diante. Os memes culturais, com destaque para os religiosos, também são passados por intermédio de livros. As pessoas passam a acreditar em certas coisas apenas porque seus ascendentes acreditaram nelas durante séculos.
Dawkins distingue a autoridade da tradição, centrando-a numa pessoa importante, que nos diz para acreditarmos em alguma coisa. A tradição levou os católicos a acreditarem que Maria, a mãe de Jesus, subiu ao Céu de corpo e alma. Para reforçar essa crença, a suprema autoridade do catolicismo, o papa, recomenda ao seu rebanho que se deve acreditar na ascensão.
O terceiro tipo de razão indevida é a “revelação”. Segundo Dawkins, a revelação nada mais é que o sentimento de pessoas religiosas, que, após uma oração, um “retiro espiritual”, ficam convencidas que o teor de suas crenças lhes foi revelado.
A revelação se encontra na genealogia das três religiões mais conhecidas no Ocidente, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. A tradição arrasta esses sistemas de crenças desde suas origens, os quais são professados pelas autoridades presentes, sejam elas judaicas, cristãs ou islâmicas. 

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