Richard Dawkins é brilhante do início ao fim de seu livro O
capelão do Diabo, mesmo na carta que escreveu à filha Juliet, de dez anos.
Certas passagens (iluminadas por mim) são extraordinárias, como na sua
demolição à cristalomancia:
Beber
água a intervalos de duas horas é certamente uma boa ideia, quando se está com
gripe. Mas colocar na água um cristal de quartzo não acrescentará nenhum
efeito. Ou seja, não importa quanta luz colorida se visualize, isso não
alterará a composição do cristal, nem da água.
E estende seu
raciocínio para outros
Disparates
pseudocientíficos como esse são perturbadoramente comuns na cultura de nossa
época. Restringi meus exemplos aos cristais apenas porque precisava estabelecer
um limite em algum ponto. Mas os “signos astrológicos” teriam servido
igualmente bem. Ou os “anjos”, a “comunicação com os espíritos”, a “telepatia”,
a “cura quântica”, a “homeopatia”, a “radiestesia”. Não há limite óbvio para a
credulidade humana.
Dawkins retoma esse assunto no final do
livro, na carta supramencionada. Nela são elencadas as três “razões indevidas”
para acreditar no que quer que seja: tradição, autoridade e revelação.
A tradição é tudo o que é transmitido
dos avós para os pais, destes para os filhos, e assim por diante. Os memes
culturais, com destaque para os religiosos, também são passados por intermédio
de livros. As pessoas passam a acreditar em certas coisas apenas porque seus
ascendentes acreditaram nelas durante séculos.
Dawkins distingue a autoridade da
tradição, centrando-a numa pessoa importante, que nos diz para acreditarmos em
alguma coisa. A tradição levou os católicos a acreditarem que Maria, a mãe de
Jesus, subiu ao Céu de corpo e alma. Para reforçar essa crença, a suprema
autoridade do catolicismo, o papa, recomenda ao seu rebanho que se deve
acreditar na ascensão.
O terceiro tipo de razão indevida é a “revelação”.
Segundo Dawkins, a revelação nada mais é que o sentimento de pessoas
religiosas, que, após uma oração, um “retiro espiritual”, ficam convencidas que
o teor de suas crenças lhes foi revelado.
A revelação se encontra na genealogia
das três religiões mais conhecidas no Ocidente, o judaísmo, o cristianismo e o
islamismo. A tradição arrasta esses sistemas de crenças desde suas origens, os
quais são professados pelas autoridades presentes, sejam elas judaicas, cristãs
ou islâmicas.
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