quarta-feira, 7 de maio de 2014

SAUDADE, ESPERANÇA E OUTROS SENTIMENTOS


Já escrevi que a vida pode ser comparada a uma viagem de trem (movido pelo tempo). Dois vagões seguem engatados ao nosso, com acesso negado: o passado (atrás) e o futuro (à frente).
Hoje faço um acréscimo ao texto, incluindo sentimentos que nos forçam a denegar o presente, contrariando uma das grandes lições da Filosofia. Quais sentimentos? Em relação ao passado: a saudade (decorrente de vivências felizes), o ressentimento ou a culpa (decorrentes de vivências ruins). A saudade nos instiga a cotejar o passado ao presente, com inevitável depreciação do último. O ressentimento e a culpa (conta)minam nosso agora, uma vez que somos incapazes de perdoar ao outro ou - o que é mais complicado - a nós mesmos. Em relação ao futuro: a esperança e o medo. Dos males que afetam nossa existência, a esperança é tida como um bem pelo Cristianismo, uma das três virtudes teologais. No dizer de filósofos modernos, ela é da ordem da falta, da "tensão insatisfeita". Em sua quinta potência, a esperança chega a engendrar outro mundo, outra vida, em depreciação desta, que é real. Por outro lado, o medo do futuro é ainda pior, causando maior dano ao presente. Medo de doenças, medo da velhice, medo da morte. A esperança nos faz crer numa transcendência ilusória, o medo nos faz pensar na finitude inexorável.
Por que não nos libertamos do passado? Por que continuamos a nutrir esperança num futuro melhor (sempre adiado)? Por que não perdoamos aos outros e tampouco a nós mesmos? Por que ainda temos medo da morte (a despeito de nos dizermos cristãos)? 
A resposta a tais indagações  nos obriga a reconhecer que não valorizamos a vida presente, não amamos suficientemente as pessoas que viajam conosco, dentro do mesmo vagão, onde cada instante é uma prova de eternidade.

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