Às vezes, desconfio que minha
capacidade racional regride nestes dias. (Por acaso, não é esse o primeiro
sintoma do Alzheimer?) Seria uma pena para quem, desde muito, buscou o conhecimento,
inclusive o autoconhecimento (responsável pela inversão na ordem do objeto a
ser estudado).
Caso meu problema não seja de saúde, então é minha inteligência
que mais claramente passa a perceber a ignorância (ou esperteza) que engorda e
governa. Fora de mim.
Em 5 de junho de 2011, imediatamente
ao lançamento do logo "País rico é país sem pobreza" pelo governo
federal, escrevi que se tratava de uma tautologia ridícula, de um discurso
demagógico. Uma opinião apenas.
Na Feira do Livro de Santa Maria (que
se realiza este ano), foi lançado o livro Análise de Discurso em Perspectiva,
cuja organização é de Verli Petri, ex-professora da URI e hoje na UFSM (Laboratório
Corpus). O primeiro artigo do livro é de Eni Orlandi, destacada linguista brasileira
da análise de discurso. Título do artigo: Uma
tautologia ou um embuste semântico-discursivo? Ainda a Propaganda de Estado:
país rico é país sem pobreza.
A primeira paráfrase, segundo Orlandi,
confirma o discurso tautológico (a partir da igualdade entre "sem
pobreza" e "rico"): "País rico é país rico".
Por que "sem pobreza", ao
invés de "sem pobres"? A explicação pela AD é extraordinária:
"pobreza é nominalização e assim as causas são incertas, indeterminadas;
já o pobre é tomado como indivíduo, pode ser identificado... tomado na dimensão
da sua existência concreta".
Por que "país", ao invés de
"Estado", ou "Nação", ou "Povo"? A explicação é dada
por Orlandi, fundamentada em Michel Pêcheux. A posição do sujeito discursivo,
no caso Dilma Rousseff, é neoliberal. Pasmem, seletos leitores!
A esperteza é (a inteligência) sem
ética.
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