Na
segunda-feira, perguntava-se sobre o que escrever para esta coluna. Enquanto
aguardava o sinal abrir na Tito Beccon (para entrar na Pinheiro Machado), o
tema surgiu sem dificuldade. Ouvia a Symphony
nº 6, de Beethoven num volume aceitável por ouvidos normais. Do automóvel
ao lado, em contrapartida, o som se propagava num volume excessivamente alto.
Por alguns segundos, o funk pesadão se sobrepôs à Pastoral. Felizmente, o verde me permitiu arrancar e dobrar à
direita. O outro seguiu reto. Há duas semanas, escrevi sobre o volume alto,
responsável por um crescente problema de audição entre os jovens. Em razão do
pouco espaço, não perguntei por que alguém ouve música dessa forma. A resposta
não pode ser tão comodamente o gosto
pessoal, a mesma resposta para o usuário de fones de ouvido e para condutor
de carro rebaixado. Aquele é introspectivo, fechado em si mesmo; este é
expansivo, entrão, debochado, convencido de que sua preferência deve ser
admirada, respeitada como expressão cultural das últimas décadas. Ao problema
de surdez soma-se o da falta de sensibilidade estética. Aqui a seguinte
pergunta é impostergável: por que alguém prefere o funk pesadão à música
erudita? Mais que gosto pessoal e subdesenvolvimento, a resposta necessita se
remeter às causas do subdesenvolvimento, variáveis sociais que determinam o
próprio gosto pessoal. O indivíduo não tem escolha, seu gosto recai sobre o
estilo musical mais executado no momento, originado nos bailes das favelas cariocas.
O funk atrai por seu discurso clandestino, antipolicialesco, imoral, e na
sexualização. . Batida e discurso que alienam corações e mentes, negando à
massa de basbaques a evolução para um estágio intelectual e afetivo que
contemple a música de Beethoven (por exemplo).
(Coluna do Expresso Ilustrado, edição de ontem.)
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