sábado, 7 de setembro de 2013

PESADÃO VERSUS BEETHOVEN

Na segunda-feira, perguntava-se sobre o que escrever para esta coluna. Enquanto aguardava o sinal abrir na Tito Beccon (para entrar na Pinheiro Machado), o tema surgiu sem dificuldade. Ouvia a Symphony nº 6, de Beethoven num volume aceitável por ouvidos normais. Do automóvel ao lado, em contrapartida, o som se propagava num volume excessivamente alto. Por alguns segundos, o funk pesadão se sobrepôs à Pastoral. Felizmente, o verde me permitiu arrancar e dobrar à direita. O outro seguiu reto. Há duas semanas, escrevi sobre o volume alto, responsável por um crescente problema de audição entre os jovens. Em razão do pouco espaço, não perguntei por que alguém ouve música dessa forma. A resposta não pode ser tão comodamente o gosto pessoal, a mesma resposta para o usuário de fones de ouvido e para condutor de carro rebaixado. Aquele é introspectivo, fechado em si mesmo; este é expansivo, entrão, debochado, convencido de que sua preferência deve ser admirada, respeitada como expressão cultural das últimas décadas. Ao problema de surdez soma-se o da falta de sensibilidade estética. Aqui a seguinte pergunta é impostergável: por que alguém prefere o funk pesadão à música erudita? Mais que gosto pessoal e subdesenvolvimento, a resposta necessita se remeter às causas do subdesenvolvimento, variáveis sociais que determinam o próprio gosto pessoal. O indivíduo não tem escolha, seu gosto recai sobre o estilo musical mais executado no momento, originado nos bailes das favelas cariocas. O funk atrai por seu discurso clandestino, antipolicialesco, imoral, e na sexualização. . Batida e discurso que alienam corações e mentes, negando à massa de basbaques a evolução para um estágio intelectual e afetivo que contemple a música de Beethoven (por exemplo). 

(Coluna do Expresso Ilustrado, edição de ontem.)

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