quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O GRANDE MITIFICADOR

Nestes dias, fala-se (e escreve-se) amiúde sobre uma identidade gaúcha, que distinguiria sobremaneira o homem nascido no Rio Grande do Sul. Qualquer brasileiro de outros estados ou regiões, que nos visitasse agora, aceitaria essa identidade sem pensar duas vezes.  
Ao pensar duas vezes, todavia... 
A Semana Farroupilha excede em ufanismo, sentimento ou atitude que representa a fina flor da gauchidade. O Hino Rio-Grandense (musicalmente produzido por um mineiro) sobre-exalta as nossas façanhas. Mas que façanhas? 
Tampouco o orgulho separatista serve de modelo a alguma parte da Terra.  
Nossa pátria mítica, a princípio, não passou de um ideal forjado pelos líderes farroupilhas. Estes eram descendentes de portugueses, do mesmo povo que colonizara o Brasil como um todo. Eles falavam a mesma língua portuguesa (com certeza). Revolucionários e imperialistas. Republicanos e monarquistas. 
Índios e negros nunca tiveram vez. Os primeiros foram dizimados covardemente na chamada Guerra Guaranítica (com o apoio dos espanhóis). Os outros, escravizados, traídos em Porongos. 
Que liberdade apontava o Vinte de Setembro? Liberdade política ou econômica? Seríamos liberais e viveríamos exclusivamente do charque? Separados do Império, seguiríamos sua política de povoar o território com imigrantes europeus? 
Depois dos alemães e italianos terem povoado metade do nosso território cordiforme, podemos falar numa identidade gaúcha?  A bombacha veio de fora. O cavalo veio de fora. A música veio de fora (segundo dizem, o hino seria plágio de Strauss). O churrasco (asado) é o prato nacional do Uruguai e da Argentina. O chimarrão (mate) é um legado da cultura indígena (quíchuas, aimarás e guaranis). 
Criação rio-grandense autêntica é o MTG. Há tão somente 46 anos. O grande mitificador. Essa organização não cessa de criar regras para o que seja a identidade do gaúcho. 

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