Nestes dias, fala-se (e escreve-se)
amiúde sobre uma identidade gaúcha, que distinguiria sobremaneira o homem
nascido no Rio Grande do Sul. Qualquer brasileiro de outros estados ou regiões,
que nos visitasse agora, aceitaria essa identidade sem pensar duas vezes.
Ao pensar duas vezes, todavia...
A Semana Farroupilha excede em ufanismo,
sentimento ou atitude que representa a fina flor da gauchidade. O Hino
Rio-Grandense (musicalmente produzido por um mineiro) sobre-exalta as nossas
façanhas. Mas que façanhas?
Tampouco o orgulho separatista serve de modelo a
alguma parte da Terra.
Nossa pátria mítica, a princípio, não passou de um
ideal forjado pelos líderes farroupilhas. Estes eram descendentes de
portugueses, do mesmo povo que colonizara o Brasil como um todo. Eles falavam a
mesma língua portuguesa (com certeza). Revolucionários e imperialistas.
Republicanos e monarquistas.
Índios e negros nunca tiveram vez. Os
primeiros foram dizimados covardemente na chamada Guerra Guaranítica (com o
apoio dos espanhóis). Os outros, escravizados, traídos em Porongos.
Que
liberdade apontava o Vinte de Setembro? Liberdade política ou econômica?
Seríamos liberais e viveríamos exclusivamente do charque? Separados do Império,
seguiríamos sua política de povoar o território com imigrantes europeus?
Depois
dos alemães e italianos terem povoado metade do nosso território cordiforme,
podemos falar numa identidade gaúcha? A bombacha veio de fora. O cavalo
veio de fora. A música veio de fora (segundo dizem, o hino seria plágio de
Strauss). O churrasco (asado) é o prato nacional do Uruguai e da Argentina. O
chimarrão (mate) é um legado da cultura indígena (quíchuas, aimarás e guaranis).
Criação rio-grandense autêntica é o MTG. Há tão somente 46 anos. O grande
mitificador. Essa organização não cessa de criar regras para o que seja a
identidade do gaúcho.
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