Haiti
é ali
Depois de assistir
a uma palestra sobre o Haiti, ler Combate da Paz (escrito por
um integrante brasileiro da MINUSTAH), ver centenas de fotos e
conversar com militares que conviveram com os haitianos por seis
meses (nos últimos nove anos), resolvo expressar algo acerca desse
país. A história do Haiti constitui um rosário de fracassos
políticos (cujas contas são feitas de sangue). Ainda colônia da
França, a terça parte da Ilha de Hispaniola (descoberta por
Cristóvão Colombo em 1492) chegou a ser chamada “Pérola do
Caribe”, em razão da produção de cana-de-açúcar, algodão e
tabaco. Tudo produzido, todavia, por meio milhão de escravos sob o
açoite. Um desses escravos, o negro Mackandal, iniciou uma revolta,
utilizando-se do vodu para atemorizar os brancos dominadores. Preso e
executado Mackandal, outros líderes o substituíram, entre os quais
J.J. Dessalines, que proclamou a independência em 1804. Esse fato
histórico passou a ser motivo de orgulho nacional. O Haiti foi a
primeira nação latino-americana a livrar-se do jugo colonialista.
Ao maior bônus cabe igual ônus. Eduardo Galeano escreve-nos que a
Europa impôs ao Haiti “a obrigação de pagar à França uma
indenização gigantesca, a modo de perdão por haver cometido o
delito da dignidade”. A dívida externa forçava o país a pedir
empréstimos, que não conseguia saldar. Os Estados Unidos
intervinham, então, para forçar o pagamento. A “pérola” foi
transformada em carvão, com o sangramento quase total da economia
haitiana. Para Galeano, famoso por seu anti-imperialismo, o “assédio
contra o Haiti” prova o “racismo da civilização ocidental”.
Nossa civilização, escrevo, alicerçada na cultura cristã, não
perdoa um sistema de crenças diferente como o vodu(n).
Publicado no Expresso Ilustrado, edição de 7 de junho de 2013.
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