segunda-feira, 10 de junho de 2013

PÉROLA DO CARIBE


Haiti é ali

Depois de assistir a uma palestra sobre o Haiti, ler Combate da Paz (escrito por um integrante brasileiro da MINUSTAH), ver centenas de fotos e conversar com militares que conviveram com os haitianos por seis meses (nos últimos nove anos), resolvo expressar algo acerca desse país. A história do Haiti constitui um rosário de fracassos políticos (cujas contas são feitas de sangue). Ainda colônia da França, a terça parte da Ilha de Hispaniola (descoberta por Cristóvão Colombo em 1492) chegou a ser chamada “Pérola do Caribe”, em razão da produção de cana-de-açúcar, algodão e tabaco. Tudo produzido, todavia, por meio milhão de escravos sob o açoite. Um desses escravos, o negro Mackandal, iniciou uma revolta, utilizando-se do vodu para atemorizar os brancos dominadores. Preso e executado Mackandal, outros líderes o substituíram, entre os quais J.J. Dessalines, que proclamou a independência em 1804. Esse fato histórico passou a ser motivo de orgulho nacional. O Haiti foi a primeira nação latino-americana a livrar-se do jugo colonialista. Ao maior bônus cabe igual ônus. Eduardo Galeano escreve-nos que a Europa impôs ao Haiti “a obrigação de pagar à França uma indenização gigantesca, a modo de perdão por haver cometido o delito da dignidade”. A dívida externa forçava o país a pedir empréstimos, que não conseguia saldar. Os Estados Unidos intervinham, então, para forçar o pagamento. A “pérola” foi transformada em carvão, com o sangramento quase total da economia haitiana. Para Galeano, famoso por seu anti-imperialismo, o “assédio contra o Haiti” prova o “racismo da civilização ocidental”. Nossa civilização, escrevo, alicerçada na cultura cristã, não perdoa um sistema de crenças diferente como o vodu(n). 

 Publicado no Expresso Ilustrado, edição de 7 de junho de 2013.

Nenhum comentário: