quinta-feira, 13 de junho de 2013

HAITI É ALI (II)

Um povo não necessita exclusivamente de alimento (quando passa fome), de saúde (quando se encontra doente), de segurança (quando sofre todas as violências), de tantas outras necessidades básicas para viver dignamente. Ele também é carente de quem pense sua condição infra-humana. 
Os haitianos são as vítimas da miséria que mais necessitam de ajuda na atualidade. Seus vizinhos, todos os países do norte e do sul, esbaldam-se a consumir sem o mínimo problema de consciência (não obstante o princípio de universalidade, não obstante os preceitos que os orientam ética e religiosamente). 
Para você, caro leitor, ter uma ideia do que seja a miséria haitiana, basta digitar no Google “cozinha do inferno”. Diversos vídeos mostram o mercado de Porto Príncipe, ou a imitação mais pobre (literalmente) de um mercado, de uma feira. 
Até o final do século XVIII, no mesmo local funcionava Marche de La Croix-des-Bossales, o comércio de escravos da cidade. 
Quem esteve nessa capital nos últimos anos, como soldado da paz, comenta que o cheiro na “cozinha do inferno” é insuportável. As carnes expostas à venda são disputadas por pessoas e varejeiras. As comidas estragadas no chão servem de alimento para porco, cachorro, gato e mendigo. O primeiro é abatido em praça pública, queimado (para soltar o pelo mais facilmente) e cortado em pedaços. Tudo isso acontece em meio à montanha de lixo, que aumentou em 60 milhões de toneladas na cidade com o entulho do terremoto. 
O título acima pressupõe uma proximidade que não exclui o Brasil, comprovada pela vinda de imigrantes haitianos ao nosso país. Em nosso conforto, em nosso paraíso do consumismo, sabemos que Haiti não é cá, mas também não é lá, é ali. Não é uma ameaça, mas uma possibilidade.
Pensemos o Haiti.

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