domingo, 28 de outubro de 2012

BARRAGEM CHEIA

Numa hora destas, a nossa barragem deve estar derramando-se pelo vertedouro. Depois de um longo e angustioso inverno, a primavera volta a florir para os santiaguenses, especialmente para meu amigo Rubem Lima, gerente da Corsan local. (Ontem passou um filme futurista no canal Discovery. O mundo havia desabado em 2027. Uma das normas impostas à população era de economizar água - substância natural de que depende a sobrevivência humana.) Pergunto se alguém visitará a barragem agora, no próximo fim de semana com sol. Certamente, não haverá filas de carro até a rodovia. Afinal, a barragem cheia coincide com a ideia que fazemos dela. Tudo volta ao normal. O filósofo, todavia, pergunta por que as pessoas corriam para ver a barragem seca(ndo). Uma das respostas possíveis a essa questão não revela uma tendência, uma queda pela desgraça? Não seríamos catastrofistas, quando assistimos a um filme catastrofista, quando vemos os noticiários na tv, quando lemos jornais, quando acessamos os blogues que postam sobre crimes e acidentes?  Somos assim, e a mídia apenas se aproveita dessa nossa fraqueza, embora assumindo a culpa de ser mensageira enxerida, inconveniente? Apesar de provocar esse questionamento, de ter já descoberto o inconsciente (com Freud), ainda sou semelhante a todos que sofrem. No pior momento da crise, quando o nível da barragem esteve mais baixo, passei a escrever sobre o caos que representaria a falta de água em Santiago. Ao mesmo tempo em que expurgava minha angústia, apelava para o bom senso, para a solidariedade das pessoas. A seca chegou ao fim. Choveu, choveu. A barragem está cheia, situação que não justifica qualquer desperdício da água disponível para consumo. Penso que este ocorrerá de forma mais responsável. 

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