Numa hora destas, a nossa barragem deve
estar derramando-se pelo vertedouro. Depois de um longo e angustioso inverno, a
primavera volta a florir para os santiaguenses, especialmente para meu amigo
Rubem Lima, gerente da Corsan local. (Ontem passou um filme futurista no
canal Discovery. O mundo havia desabado em 2027. Uma das normas impostas à
população era de economizar água - substância natural de que depende a
sobrevivência humana.) Pergunto se alguém visitará a barragem agora, no próximo
fim de semana com sol. Certamente, não haverá filas de carro até a rodovia.
Afinal, a barragem cheia coincide com a ideia que fazemos dela. Tudo volta
ao normal. O filósofo, todavia, pergunta por que as pessoas corriam para
ver a barragem seca(ndo). Uma das respostas possíveis a essa questão não revela
uma tendência, uma queda pela desgraça? Não seríamos catastrofistas, quando
assistimos a um filme catastrofista, quando vemos os noticiários na tv, quando
lemos jornais, quando acessamos os blogues que postam sobre crimes e
acidentes? Somos assim, e a mídia apenas se aproveita dessa nossa
fraqueza, embora assumindo a culpa de ser mensageira enxerida, inconveniente? Apesar
de provocar esse questionamento, de ter já descoberto o inconsciente (com
Freud), ainda sou semelhante a todos que sofrem. No pior momento da crise,
quando o nível da barragem esteve mais baixo, passei a escrever sobre o caos
que representaria a falta de água em Santiago. Ao mesmo tempo em que expurgava
minha angústia, apelava para o bom senso, para a solidariedade das pessoas. A
seca chegou ao fim. Choveu, choveu. A barragem está cheia, situação que não
justifica qualquer desperdício da água disponível para consumo. Penso que este
ocorrerá de forma mais responsável.
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