quinta-feira, 20 de setembro de 2012

REFLEXÕES DE UM CARNÍVORO


O cavalo não recebe do homem a mesma atenção dispensada a cão e gato. 
Esse enunciado pode parecer um absurdo, observando-se o que ocorre no Dia do Gaúcho. Parece absurdo, mas não é. Excepcionalmente, por ocasião do desfile, o cavalo ganha mais destaque que o cavaleiro montado sobre ele. Em garbosidade, em vigor. 
Todavia, tais qualidades têm o mérito do dono. Muito do cavalo se deve ao homem, desde sua domesticação (há mais de 5000 anos). A doçura que vemos nos olhos do animal é o resultado de um sofrimento infringido a ele desde o processo da doma. Com a intervenção na genética, visando melhorias nas diferentes variedades, o equino de hoje está muito distante do ancestral selvagem. 
Não poderia ser diferente. Não fosse útil ao homem (e seu tamanho contribuiu para que fosse obviamente), o cavalo selvagem estaria correndo risco de extinção nestes tempos. 
A utilidade do bicho é a chave de sua perpetuação no tempo e no espaço. Algo bem distinto em relação a cão e gato. 
A adoração nestes dias a essas duas espécies é qualquer coisa que a psicologia ainda não conseguiu explicar. Com isso, designo o modus vivendi das cidades, onde cães e gatos não têm mais a função de auxiliar o homem. 
Ninguém vende cão e gato para o frigorífico, uma vez que pertencem àquelas raras espécies dispensadas de participar do cardápio humano, preponderantemente carnívoro. Falo com base na cultura ocidental. Cão e gato morrem de velhos, diferentes do cavalo. 
Antes que me confundam, não gosto de animal algum. Seria um hipócrita perfeito se afirmasse o contrário. Sou conivente com o pior dos maus tratos praticados pelo homem contra o animal: a morte deliberada. 
(Confesso que não foi a leitura de Peter Singer que me forçou a reconhecer isso.) 

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