Muito se fala bem da amizade, que uma parte considerável do que se fala não passa de ideal, jamais sendo a descrição de uma realidade, de uma relação e(a)fetiva. Entre os grandes intelectos são conhecidos os casos de amizade, óbvios entre mestre e discípulo. Também são famosas as inimizades, que toda a evolução intelectual de seus envolvidos não foi capaz de superá-las. Cito apenas dois exemplos: Rousseau versus Voltaire; e William James versus Jorge Santayana. Rousseau teve a infeliz ideia de enviar seu "Discurso sobre a desigualdade" a Voltaire. Nesse segundo ensaio, Rousseau escrevera "o homem é naturalmente bom e que só devido às instituições é que se torna mau", "...a Europa é o mais infeliz dos continentes, porque tem mais cereais e mais ferro", ".. para desfazer o mal, só é necessário abandonar a civilização". Com essas e outras, deixou quicando para Voltaire: "Lendo seu livro, tem-se vontade de andar com quatro patas". A divergência se acirrou a partir do terremoto de Lisboa, em 1755, quando Voltaire escreveu um poema duvidando da boa providência divina. Rousseau era deísta por excelência. Mais tarde, a puritana Genebra proibiu todas as representações dramáticas de Voltaire, que tentou anular a proibição. Rousseau cobrou-se, ficando do lado dos puritanos. William James, pragmatista norte-americano, defendia que uma ideia útil é verdadeira. A hipótese da existência de Deus age satisfatoriamente, ajuda os homens que creem, portanto, é verdadeira. Santayana pensava diferente: apreciava a religião como uma manifestação estética, não como necessidade para uma vida moral. Sobre a tese de doutoramento de Santayana, James opina como "a perfeição da podridão". Antes de escrever e de expressar minhas ideias publicamente, não lembro ter feito algum inimigo. Agora eles são inevitáveis.
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