Por diversas vezes me reportei ao sexto capítulo de Mateus, uma vez que "ali está a quintessência moral e religiosa de todo o Novo Testamento". Se tivesse que escolher um único versículo para representar o capítulo, certamente exaltaria o 24: Ninguém pode servir a dois senhores (Deus e riqueza material). Entendo que não há na Bíblia mais sábia defesa da lógica não-paradoxal, a é a, b é b. A contradição é inadmissível. Desde os anos 80, cito o versículo acima como exortação contra a hipocrisia de meus interlocutores cristãos. Mesmo sendo um ateu, prefiro esse argumento de autoridade bíblico a Voltaire, Feuerbach, Nietzsche, Russel, entre outros. Justamente, nos anos 80, uma igreja (criada em 1977) tomou corpo no Brasil, pregando a doutrina da prosperidade, como se fosse possível uma síntese entre o terreno e o espiritual, entre Deus e Mamom.
Surpreendentemente, a Campanha da Fraternidade de 2010 traz como lema o versículo 24 de Mateus. A própria igreja católica sofre uma recaída, com o sucesso material das outras igrejas. Ela só não vende indulgência, como fazia na Idade Média. Agora entra num barco (ainda sem furo) com remos tíbios contra toda uma corrente irreversível do consumismo generalizado. Consome-se tudo, inclusive a vida. Qual cristão compreenderá a relação entre vida e economia (com o significado de parcimônia, consumir pouco)?
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