segunda-feira, 31 de agosto de 2009
sábado, 29 de agosto de 2009
FUNÇÃO POÉTICA
Em Linguística e poética, Roman Jakabson descreve as seis funções de linguagem: referencial, emotiva, conativa, fática, metalinguística e poética. Determinada pelo modo de como são codificadas as mensagens, nenhuma função se encontra isoladamente, mas com predominância sobre as demais.
Na função poética, segundo Samira Chalhub, "a emissão organiza os signos para expor o modo de construção, seu aspecto sensível, material, significante". Em Metalinguagem, a professora Chalhub reforça a definição de Jakobson, de que a função "promove o caráter palpável dos signos".
Uma das dicotomias saussureanas, acerca do signo, distingue dois aspectos: significado e significante. Não obstante o amálgama necessário entre um e outro, significado é conceito, o que se diz de algo, referência. Significante, por sua vez, constitui a imagem visual e sonora, o como se diz algo.
Dessa forma, ratifico o que postei abaixo, em Objeto poético, o significante é insubstituível no efeito de poeticidade que o emissor queira dar ao seu verso. Pedra foi o signo que citei, uma metáfora representativa de todos os signos existentes na língua portuguesa (por exemplo). Não há outro signo para pedra. Pedra é pedra, como "flor é a palavra flor", dito por João Cabral. A palavra flor, reforça Chalhub, "é tão concreta quanto a flor do referente, aquela que está no jardim e no vaso".
A insubstituibilidade do significante equivale à sua intraduzibilidade. O melhor exemplo para essa tese retiro do notável poema The raven, de Edgar Allan Poe. Essa obra-prima da poética em inglês também é caracterizada pela língua estilizada, rima interna e jogos fonéticos. O verso que mais se repete no poema, Quoth the raven, "Nevermore", foi traduzido por Machado de Assis e por Fernando Pessoa como Disse o corvo, "Nunca mais".
Pois bem, digo categoricamente que se perdeu com a tradução o jogo gráfico/ fonético de "raven never". Corvo (raven), lido ao contrário, não tem qualquer associação com nunca (never).
Poemas em português, que fazem esses jogos fundamentais na constituição estética, também os perde, quando traduzidos para qualquer outro idioma.
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Por curiosidade, como ficaria meu poema As pombas
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as
...pombas
pas
.....seiam
.
meio
da praça
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fora
da pressa
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cheias
de graça
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as pombas
em paz
...........ceiam
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na língua inglesa?
Apenas em português, consegue-se o efeito fonético "em paz ceiam".
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
PROFESSOR EUGÊNIO
Nesta noite, fui à URI. Assisti a duas aulas de Língua Portuguesa com o professor Eugênio. Uso da vírgula. Esse estudo é necessário para quem, cedo ou tarde, pretende produzir texualmente (se já não o faz aos trancos e barrancos). Muitos escrevem, mas poucos sabem escrever bem. Raros os que não cometem erros crassos na colocação da vírgula, como separar o sujeito do predicado.
O professor Eugênio, disse-nos há pouco, considera seu trabalho uma distração, um prazer. O homem é incansável. Tenho uma admiração discipular por ele. Mestre necessário num curso de graduação, especialmente aos universitários que se rebelam contra a gramática, entusiasmados com as ideias revolucionárias da Sociolinguística. Sonham, porque não compreenderam a principal dicotomia saussureana: langue versus parole. Contra o sonho, a realidade.
No final das aulas, o professor transcreveu um poema no quadro, para mostrar as mudanças de sentido, apenas mudando a pontuação.
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Três belas que belas são
Três belas que belas são
Querem que por minha fé
Eu diga qual delas é
Que adora o meu coração
Se consultar a razão
Digo que amo Soledade
Não Lia cuja bondade
Ser humano não teria
Não aspiro à mão de Iria
Que não tem pouca beldade
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Qual a pontuação posta por:
1 - Soledade
2 - Lia
3 - Iria
4 - o rapaz.
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
THEODORADORNO

Uma das páginas mais desmistificadoras da Filosofia é o aforismo 151, Teses contra o ocultismo, do livro Minima Moralia, de Theodor Adorno. O filósofo da Escola de Frankfurt foi de uma luminosidade própria dos grandes estilistas, como Voltaire, Nietzsche, Russel, entre outros. Cada uma de suas nove teses é marcada por uma ideia que sintetiza a mais apurada sabedoria. Abaixo, os exemplos:
I - A inclinação para o ocultismo é um sintoma da regressão da consciência. Esta perdeu a capacidade de pensar o incondicionado e de suportar o condicionado.
II - O ocultista tira as últimas consequências do caráter de fetiche das mercadorias: o trabalho objetivado ameaçador salta dos objetos sobre ele com inúmeras caretas demoníacas.
III - O poder hipnótico exercido pelas coisas ocultas assemelha-se ao terror totalitário.
IV - No ocultismo o espírito geme debaixo de seu próprio sortilégio.
V - A absurdidade do real é reproduzida pela da astrologia, que exibe as opacas conexões entre elementos estranhos - nada mais estranho que as estrelas - como um saber sobre o sujeito.
VI - O ocultismo é a metafísica dos parvos. [...] A desculpa de que o mundo dos espíritos não pode comunicar à pobre razão humana mais do que esta tem condições de receber, é ridícula, uma hipótese auxiiar do sistema paranóico.
VII - Com a reificação dos espíritos, estes já estão negados.
VIII - Fazem o maior alarido em torno do materialismo, mas querem pesar o corpo astral. Os objetos de seu interesse devem ao mesmo tempo transcender a possibilidade da experiência e ser experimentados.
IX - O pecado capital do ocultismo é a contaminação do espírito e da existência, que se converte em atributo do espírito. Este emergiu na existência como órgão para a autoconservação na vida. Entretanto, na medida em que a existência se reflete no espírito, este se torna ao mesmo tempo outra coisa. [...] A passagem à existência, sempre 'positiva' e legitimando o mundo, implica ao mesmo tempo a tese da positividade do espírito, seu aprisionamento, a transposição do absoluto para a manifestação. [...] Não há espírito algum.
(Em azul, excertos do aforismo 151, de Minima Moralia.)
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
REFLEXÃO NECESSÁRIA
A felicidade é um estado mais próximo do silêncio, do contato com o ambiente natural. Os interioranos são mais felizes (ainda que não tenham consciência disso), longe da barafunda em que se tornam as cidades. Todo o aparato tecnológico de que se cercam os citadinos, comprova-se agora, não lhes tem propiciado melhor astral, maior (auto)estima. Todo o conhecimento de mundo, veiculado por uma profusão de imagens e textos, distancia-se do saber necessário a uma vida saudável. O consumismo (que nunca se farta) expõe a causa dessa doença moderna: os desejos. O grande problema é que os consumidores, aos milhões, sabem de tudo um pouco, menos sobre seus desejos, tomados como essência do próprio ser. Para atendê-los, empregam todos os recursos disponíveis, correm desesperadamente, aceleram o tempo e não conseguem a satisfação final, o retorno que compense o esforço despendido. A correria toda, o que é risível, decorre unicamente pelo excesso de ócio. No interior, o trabalho com o gado ou com o cultivo da terra não permite os luxos (ou lixos?) da modernidade. A maior rigidez moral distingue os habitantes do campo e da serra, cujos desejos (quando conseguem estruturar-se psiquicamente) são controlados com estoicismo. O modus vivendi que os caracteriza, a partir de experiências comunitárias bem-sucedidas, passa a constituir um novo paradigma, fundamentado na simplicidade.
terça-feira, 25 de agosto de 2009
RETRATOS DA MEDICINA

A sede do museu fica na Av. Independência, 270 - Centro - CEP 90035-070 - Porto Alegre -RS, e o site é www.muhn.org.br
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
UM ENCONTRO
Ninguém nunca me disse que para encontrar alguém você precisa estar sozinho. Algo que lembra a história de “um professor universitário que visitou Nan-in, mestre zen, para saber sobre o zen. Em vez de ouvir o mestre, o professor se limitou a falar sobre as próprias ideias. Depois de ouvir por um tempo, Nan-in serviu chá. Encheu a xícara do visitante e continuou a servir o chá. O líquido transbordou, encheu o pires, caiu nas calças do homem e no chão. – Não está vendo que a xícara encheu? – fala o professor. – Isso mesmo – respondeu calmamente Nan-in. – Tal como essa xícara, você está cheio de suas próprias ideias e opiniões. Como poderei mostrar-lhe o zen se você não esvaziar sua xícara primeiro?”. Copiei essa blague do livro Quem somos nós?, de autoria dos criadores do filme de mesmo nome. Ela revela uma sabedoria que escapa ao senso comum. Um encontro entre duas pessoas, retomando o que sentenciei acima, ocorre quando ambas estão previamente sós, com disposição para o diálogo. Hoje fui ao Posto Esso, mais precisamente na loja de conveniências, onde tenho recarregado meu celular. Tantos passam por ali: amigos, conhecidos ou estranhos. Do primeiro time, vejo Paulo Doleys, uma das pessoas com quem mais gosto de conversar em Santiago. Ele me vê ao mesmo tempo. Após os cumprimentos, passamos a entabular uma discussão interessante sobre os problemas que nos afetam nestes dias. A leitura que fazemos desses problemas é suficiente para que o diálogo se mantenha num nível elevado. A ocasião não nos exige “esvaziamento”, mas um pouco da teoria psicanalítica e uma vasta experiência de vida. Ainda que nos separássemos depois, passei o dia conversando com o Paulo.
DIÁLOGO COM REIFFER (II)
"Uma ótima observação, não há dúvidas que há elementos na poesia que são intraduzíveis. E há poesias menos traduzíveis que outras, dependendo dos recursos utilizados. A poesia pós-moderna é menos traduzível que a romântica, por exemplo. No entanto, no próprio exemplo que tu deste, na poesia de Drummond, se trocássemos "pedra" por uma palavra que fosse sinônimo dela em outro idioma, como stone, pierre, stein, ainda assim a poesia seria poesia, e o seu significado original seria mantido. Não se manteriam todos os recursos utilizados pelo poeta, mas creio que os que se mantêm por si só já justificam a tradução de uma poesia, pois uma parcela substancial do que o poeta criou será compartilhado com outros povos. Pior seria se nada fosse compartilhado. E convenhamos que raras pessoas no mundo se dariam ao trabalho de aprender Português apenas para ler a poesia de nossos poetas. Eu mesmo não iria aprender russo, apenas para dar um exemplo, para ler sua literatura, embora aprecie vários poetas russos, como Pushkin. Poderia aprender francês, alemão, mas não o russo. Da mesma forma devem pensar os russos. Iriam eles aprender português para ler as poesias no idioma? No entanto, graças às traduções, Fernando Pessoa hoje é um poeta reconhecido e idolatrado mundialmente."
(Comentário do Reiffer à postagem abaixo. Dayana Pessota Leite também participa desta interlocução, seu blog é http://www.unamujerhabitada.blogspot.com/)
OBJETO POÉTICO
A PALAVRA “PEDRA”, ANTES DE SIGNIFICAR O QUE SIGNIFICA, CONSTITUI UM OBJETO VISUAL, INTEIRAMENTE DIFERENTE DE "ROCK", "STONE", "STEIN", "PIERRE". AS CINCO LETRAS QUE A COMPÕEM FORMAM UMA COMBINAÇÃO EXCLUSIVA DA LÍNGUA PORTUGUESA. ANTES DE SIGNIFICAR O QUE SIGNIFICA, ELA É UMA COMPOSIÇÃO GRÁFICA, INSUBSTITUÍVEL. ELA TAMBÉM COMBINA SONS, CUJA TONICIDADE RECAI SOBRE A PRIMEIRA SÍLABA, “PE”, DISTINTO DE "STO". A PALAVRA CONSTITUI UM OBJETO ÚNICO DENTRO DO POEMA, INDISPENSÁVEL PARA DAR RITMO, SONORIDADE, ASSONÂNCIA... ELEMENTOS QUE TORNAM IMPOSSÍVEL A TRANSPOSIÇÃO DE UMA LÍNGUA PARA OUTRA. TAMPOUCO PARA A PRÓPRIA LÍNGUA. COMO FICARIA O POEMA "NO MEIO DO CAMINHO", DE DRUMMOND, CASO SE SUBSTITUÍSSE "PEDRA" POR "ROCHA", "SEIXO", PEDREGULHO"?
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
ESCOLAS PICTÓRICAS


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Por que postei quadros com mulher? Poderia ter sido com paisagem. Naturalmente. Na mesma linha da postagem anterior, optei pela figura humana. Por que não com homem? O feminino é pictoricamente mais interessante, com um número de pinturas muito maior. A justificativa, portanto, fundamenta-se na estética. À semelhança de autores das outras belas-artes, o pintor transcende o estágio terra-a-terra por que passa o vulgo. Este ainda se encontra preso entre duas forças: a exercida de dentro, pelos genes, e a de fora, pela sociedade cada vez mais erotizada.
HIPERREALISMO
Recebi um e-mail do Dr. Valdir Pinto com imagens interessantes. Trata-se de esculturas hiperrealistas do artista australiano Ron Mueck. O hiperrealismo é um estilo que busca representar, especialmente na pintura e na escultura, os mínimos detalhes do modelo pintado ou esculpido. A partir da invenção da fotografia, a pintura hiperrealista se esvaziou tematicamente, dando lugar aos novos paradigmas estéticos, como o impressionismo, o expressionismo, surrealismo etc.
Caro visitante, veja as escultura de Ron Mueck.





quinta-feira, 20 de agosto de 2009
NOVA SAZÃO
Esta semana, escrevi a coluna para o Expresso Ilustrado com o maior cuidado. Por dois motivos, fugi à minha característica ao escrever o texto (que transcrevo abaixo): fui otimista e falei mal do inverno. Para que eu mereça aplausos, o tempo precisa melhorar até a manhã desta sexta-feira. Desde segunda-feira, quando elaborei a primeira versão da minha crônica, até o presente momento, espero que o Sol retorne no dia da publicação do jornal. Um céu cinzento amanhã, e minha crônica meio profética perderá muito do brilho. 

O inverno deste ano vinha sendo demasiadamente cinza. Por fora e por dentro. No excesso de roupas, nas relações distanciadas pela ameaça do vírus, nos escândalos políticos, nas ruas vazias de nossa cidade. Entra agosto, muito diferente de outros agostos. O reinício das aulas é adiado. O frio dá uma pequena trégua, mas retorna com bastante umidade. A partir desta semana, no entanto, ocorre a transformação: o cinza passa para um segundo plano, logo para um terceiro, até desaparecer no fundo das paisagens. Crianças e adolescentes voltam às aulas, colorindo as ruas com suas mochilas, suas vozes, seus sorrisos. Os colégios constituem polos convergentes, onde a vida se manifesta em sua mais auspiciosa perspectiva. Paralelamente ao fator humano, a natureza desperta do feitiço imposto por Deméter, triste pela ausência da filha querida. Nas calçadas, praças, parques, quintais, campos, bosques e matas, eis que prorrompem as primeiras flores do pessegueiro, do cinamomo, da laranjeira, do ipê... Elas enfeitam a fronte de Perséfone (personificação mítico-poética que anuncia o retorno da mais bela das estações). Os poetas partilham da alegria que os gregos da Antiguidade experimentavam na chegada da primavera. A mutação sazonal, que sempre acontece entre agosto e setembro, faz bem a todas as pessoas, já afetadas por dias encobertos, monocrômicos, varridos por ventos gelados. As flores são acompanhadas pelas brotações verdes, perfumes agradáveis, borboletas esvoaçantes, trigais maduros, manhãs claras... Ante esse quadro de mil cores, o cinza passado não deixa saudade.
DIÁLOGO COM REIFFER
A postagem abaixo suscitou um comentário do poeta e contista Alessandro Reiffer, que penso ser oportuno transcrevê-lo:
Froilam, concordo contigo, e não há como não concordar, que por melhor que seja a tradução sempre se perderá uma parcela significativa da poesia, principalmente do "como disse", como tu mesmo afirmaste. Porém, discordo que poesia não deva ser traduzida, porque sempre se mantém algo importante da poesia original quando a tradução é bem feita. Além do mais, a tradução da poesia é fundamental para a difusão desta, imagina como seria se ninguém traduzisse as obras máximas da poesia universal para outras línguas. O mundo já restrito da poesia seria ainda menor, pois sabemos que grande parte da população não tem condições de aprender outro idioma. Li várias traduções do "Fausto" de Goethe, a alma é a mesma em todas elas, a essência está ali, e não só a essência, mas também uma boa parte da beleza e da emoção originais. Claro que o ideal seria ler no original, mas desprezar a tradução me parece um desperdício.Eu também não sei francês, mas já li várias traduções de "As Flores do Mal" e outras obras de Baudelaire, bem como de vários outros poetas franceses e alemães (também não sei alemão) e comparando as traduções, não vejo tanta diferença de uma para outra, o que significa que muita coisa do original é mantida. E vale a pena ler sim essas traduções. Nem que seja apenas para assimilarmos a ideia, o pensamento, o sentimento do autor por vias indiretas. Não há tanta diferença assim. Como exemplo, cito os poemas de Poe. Já os li no original em inglês e na tradução e garanto que quando a tradução é bem feita, o pensamento e o sentimento do autor são realmente mantidos, percebemos que ali está a alma de Poe, ainda que se perca em ritmo e em efeito. Apenas penso que o tradutor deve ser sempre também poeta, assim terá a sensibilidade necessária para manter o que é fundamental.
Por e-mail, prossegui com o diálogo:
Muitos críticos também chegaram à conclusão de que a poesia deva ser traduzida (pelos mesmos motivos que citaste). Principalmente o da condição de ser poeta o tradutor. Manuel Bandeira concordava que não se traduzisse, mas foi o que mais traduziu. O conteúdo não se perde (o discurso poético) com a tradução. Radicalizei na postagem que fiz no meu blog, indignado com o fato de não saber a língua original do poeta (francês, alemão, russo...). No aspecto formal (a língua não escapa disso, somada aos elementos citados na postagem) é que vejo a impossibilidade da tradução. Como traduzir os nossos concretistas, por exemplo, para outro idioma? Aquém desses, um Leminski...
Ainda que produzindo em gêneros diversos, tu já superaste a tendência por que todos passamos, sempre prejudicial à poesia, de transformar o poético em prosaico, o sincrônico em diacrônico... Os mais novos precisam evoluir nesse aspecto. Cabe a nós orientá-los. Esse nosso debate, sobre a tradução ou não da poesia, poderá ser ampliado, envolvendo outros poetas (voluntários, que queiram participar desta conversa bem-intencionada).
Antes de continuar, no entanto, ratifico minha opinião sobre a intraduzibilidade da poesia quanto à sua estrutura formal apenas. Numa próxima postagem, esboçarei uma justificativa, esmiuçando as questões do ritmo, da métrica, da rima, da sonoridade, da estrutura sintática etc.
Froilam, concordo contigo, e não há como não concordar, que por melhor que seja a tradução sempre se perderá uma parcela significativa da poesia, principalmente do "como disse", como tu mesmo afirmaste. Porém, discordo que poesia não deva ser traduzida, porque sempre se mantém algo importante da poesia original quando a tradução é bem feita. Além do mais, a tradução da poesia é fundamental para a difusão desta, imagina como seria se ninguém traduzisse as obras máximas da poesia universal para outras línguas. O mundo já restrito da poesia seria ainda menor, pois sabemos que grande parte da população não tem condições de aprender outro idioma. Li várias traduções do "Fausto" de Goethe, a alma é a mesma em todas elas, a essência está ali, e não só a essência, mas também uma boa parte da beleza e da emoção originais. Claro que o ideal seria ler no original, mas desprezar a tradução me parece um desperdício.Eu também não sei francês, mas já li várias traduções de "As Flores do Mal" e outras obras de Baudelaire, bem como de vários outros poetas franceses e alemães (também não sei alemão) e comparando as traduções, não vejo tanta diferença de uma para outra, o que significa que muita coisa do original é mantida. E vale a pena ler sim essas traduções. Nem que seja apenas para assimilarmos a ideia, o pensamento, o sentimento do autor por vias indiretas. Não há tanta diferença assim. Como exemplo, cito os poemas de Poe. Já os li no original em inglês e na tradução e garanto que quando a tradução é bem feita, o pensamento e o sentimento do autor são realmente mantidos, percebemos que ali está a alma de Poe, ainda que se perca em ritmo e em efeito. Apenas penso que o tradutor deve ser sempre também poeta, assim terá a sensibilidade necessária para manter o que é fundamental.
Por e-mail, prossegui com o diálogo:
Muitos críticos também chegaram à conclusão de que a poesia deva ser traduzida (pelos mesmos motivos que citaste). Principalmente o da condição de ser poeta o tradutor. Manuel Bandeira concordava que não se traduzisse, mas foi o que mais traduziu. O conteúdo não se perde (o discurso poético) com a tradução. Radicalizei na postagem que fiz no meu blog, indignado com o fato de não saber a língua original do poeta (francês, alemão, russo...). No aspecto formal (a língua não escapa disso, somada aos elementos citados na postagem) é que vejo a impossibilidade da tradução. Como traduzir os nossos concretistas, por exemplo, para outro idioma? Aquém desses, um Leminski...
Ainda que produzindo em gêneros diversos, tu já superaste a tendência por que todos passamos, sempre prejudicial à poesia, de transformar o poético em prosaico, o sincrônico em diacrônico... Os mais novos precisam evoluir nesse aspecto. Cabe a nós orientá-los. Esse nosso debate, sobre a tradução ou não da poesia, poderá ser ampliado, envolvendo outros poetas (voluntários, que queiram participar desta conversa bem-intencionada).
Antes de continuar, no entanto, ratifico minha opinião sobre a intraduzibilidade da poesia quanto à sua estrutura formal apenas. Numa próxima postagem, esboçarei uma justificativa, esmiuçando as questões do ritmo, da métrica, da rima, da sonoridade, da estrutura sintática etc.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
NÃO SE TRADUZ POESIA
Não aprendi o francês, mas lendo As flores do mal, de Charles Baudelaire, em português, chego à conclusão de que a poesia é intraduzível. Abandono o livro para nunca mais retomá-lo (pelo menos até não saber a língua original). Entre línguas tão diversas é impossível a fidelidade com relação ao ritmo, à métrica, à rima, à estrutura sintática, entre outro elementos exclusivos da poesia. A tradução consegue transportar com êxito o que disse o poeta, nunca o como disse.
Para ler Neruda em espanhol, aprendi o espanhol.
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
O TEMPO QUE CONTA

o tempo vivo
é o que conta
- borboleta
que deixou o passado
de larva
o presente
é quando
não se percebe
a metamorfose
o presente vivo
é o que conta
- borboleta
que deixou o passado
de larva
o tempo
é quando
não se percebe
a metamorfose
O tempo presente é o que importa - borboleta que esqueceu seu passado de larva. Nenhuma metamorfose é observada pelo homem, que ainda acredita na aparente imutabilidade do Universo.
domingo, 16 de agosto de 2009
MANHÃ DE DOMINGO

OPINATIVOS DO ZH
Os melhores textos do jornal Zero Hora são os editoriais e os artigos de opinião. O primeiro editorial, Troca de favores, trata de uma das contradições da esquerda, qual seja, José Dirceu defendendo a permanência de Sarney na presidência do Senado. A troca de favores precisa ser combatida, defende a opinião do jornal, porque "desmerece a política, provoca indignação e fragiliza a democarcia". O segundo editorial, A exploração da fé, elogia a denúncia do Ministério Público contra Edir Macedo, líder da Igreja Universal. Desde a década de oitenta, venho escrevendo contra a principal doutrina criada por Macedo: "A prosperidade (terrena) como uma das promessas de Deus". Ela vai de encontro aos ensinamentos básicos do cristianismo. Ninguém levava a sério meu discurso, sob suspeita porque formulado por um ateu. Em Curitiba, testemunhei o crescimento dos templos IURD. Mais de 20 anos depois, a Justiça, a mídia e a sociedade tomam conhecimento do grande pecado cometido por esses crentes em Deus. Flávio Tavares argumenta sobre os mesmos assuntos dos editores. Primeiro elogia a seriedade dos procuradores do Ministério Público (postei sobre isso, com elogio do Dr. Ruy Gessinger). Depois acusa: "Blasfêmia é pedir em nome de Deus e fazer-se deus do óbolo dos fiéis". Em Tema para debate, o psicanalista escreve sobre assunto que já cansei de dissertar: contrapor o mítico, religioso, ao científico, em especial, o criacionismo ao darwinismo. Na outra página, Percival Puggina escreve sobre a "espetacularização dos escândalos". Foi o que pensei ao ler a matéria "Como a juíza do caso lida com a pressão", mostrando-a pendurada num rapel. Marcos Rolin aposta na Marina Silva. Entre Puginna e Rolin, nesta edição, prefiro ao da esquerda na página, ideologicamente de direita. O Ivan que me desculpe. Do caderno DonnaZH, Veríssimo escreve uma crônica sem graça (via de regra). Moacyr Scliar retoma um velho tema: Euclides da Cunha e sua tragédia pessoal. A história da famosa cornice dá mais ibope que o imortal Os Sertões. O Brasil prefere que assim seja. Martha Medeiros, como seus colegas, está aquém da própria performance.
sábado, 15 de agosto de 2009
VISITA DE UM AMIGO
Ontem recebi a visita do meu amigo Ivan Zolin. Toda vez que vem de Santia Maria, onde é professor no Colégio Técnico Industrial (ligado à UFSM), ele me procura. Nossa amizade remonta ao ano de 1973, quando pertencíamos à turma 6 da sexta série do Polivalente. O Júlio Ruivo, atual prefeito de Santiago, era nosso colega, também oriundo do interior (metade sul do município).
Após o diálogo necessário para nos situarmos no tempo e no espaço, Ivan retoma uma crítica que tem feito à minha posição de conservador, a partir da leitura do meu blog e da coluna do Expresso Ilustrado. Seu esquerdismo enviesado ainda rotula qualquer discordância de centro ou de direita como "conservadora". Como réplica às suas críticas, peço-lhe para me explicar certas contradições da esquerda. Na defesa que ele faz do ex-candidato a ditador Manuel Zelaya, argumenta que o povo é supremo na condução de um país, inclusive votando uma mudança na Constituição para reeleger seu presidente. Isso é democracia. Por que, então, o povo deixa de ser ouvido em certos países, onde lhe é negado o direito de ir e vir (como em Cuba)? Por que a esquerda brasileira continua apioando Chaves que vende armas às FARC, manda fechar órgãos de imprensa de seu país, calando vozes discordantes de seu governo ditatorial? A ideia do plebiscito em Honduras partiu dos hondurenhos ou da parte do postulante Zelaya?
Meu amigo não conseguiu me responder. A título de ilustração, hoje lhe mostraria com prazer uma entrevista com João Pedro Stédile (coordenador do MST e professor de Economia da USP) e um editorial publicado na revista The Economist.
Depois da política, um assunto contraditório por si mesmo, falamos de cultura. Mostrei-lhe os poemas que comporão meu próximo livro. Concordou que não há forma mais elevada de fazer cultura do que a produção poética. Outro tema de nossas conversas girou em torno de uma possível criação de um polo de educação técnica a distância no município, aos moldes do que já existe em Bagé, São Borja e Canguçu (ligados ao Colégio Técnico Industrial de Santa Maria).
Para encerrar nosso encontro, fomos à Gaúcha, onde tomamos um vinho chileno e conversamos amenidades.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
PALAVRA NECESSÁRIA
Nas visitas que faço a nossa blogosfera, percebo um certo desalento, seja na distância entre as postagens, seja na ausência temporária ou definitiva. Isso é triste.
O entusiasmo inicial parece ter arrefecido nalguns blogueiros, fenômeno que atribuo a não-correspondência interativa. Ainda que se trate de registros pessoais, razão inicial por que foi criada a ferramenta, ninguém escreve para não ser lido. Quando há um excesso de autocrítica, de incompetência (no sentido dado por Chomsky), de modéstia, seja lá o que for, o sujeito decide-se abandonar o diálogo que pensa ter proposto. Há casos de desistência que não se justificam pelos motivos acima, mas por problemas muito maiores. Aos menos assíduos, antes que se deixem dominar pela pusilanimidade, sugiro que mudem ou alternem os gêneros de suas postagens.
Já passei por um momento de autodepreciação, quando transcrevi o trecho de uma carta de Van Gogh ao seu irmão Theo: Pode ter-se um grande fogo na alma, mas ninguém vem nunca se aquecer nele, e os que passam só avistam um fumozinho no alto, a sair pela chaminé, e seguem seu caminho. Nesse período, pensei em parar, não contribuir para a grande babel em que corre o risco de se transformar o intertexto. Todo mundo escrevendo sobre tudo.
A saída foi racionalizar (esse processo que equivale à salvação pelo intelecto). Meu blog, doravante, passaria a ser como que um laboratório para meus poemas. Aos poucos, fui readquirindo o entusiasmo de antes. O laboratório se ampliou: as ideias exigiram um espaço outra vez.
As visitas diárias ao meu CONTRA., não posso ignorar, constituem um grande incentivo e uma exigência para que eu faça atualizações frequentes.
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
BLOG DO RUY GESSINGER
Numa visita à blogosfera, fiquei matutando com o que escreveu Ruy Gessinger em sua postagem Distanciamento terapêutico. Com outras palavras, eu já havia escrito sobre o assunto, obviamente sem ter encontrado a mesma justeza argumentativa.
O primeiro parágrafo, que o autor chama modestamente de “arenga”, não poderia ser melhor para introduzir a ideia explicitada no desenvolvimento, a crítica ao paroquialismo. A falta de uma visão desapaixonada, independente, leva-nos a superestimar o mundinho em que vivemos cômoda e apegadamente.
Para ler o blog do Ruy: http://blog.gessinger.com.br/
O primeiro parágrafo, que o autor chama modestamente de “arenga”, não poderia ser melhor para introduzir a ideia explicitada no desenvolvimento, a crítica ao paroquialismo. A falta de uma visão desapaixonada, independente, leva-nos a superestimar o mundinho em que vivemos cômoda e apegadamente.
Para ler o blog do Ruy: http://blog.gessinger.com.br/
terça-feira, 11 de agosto de 2009
TRÊS MARIAS
Ilustre visitante, observe bem as três estrelas alinhadas na figura abaixo. Elas são conhecidas popularmente como Três Marias. A visão que temos delas é de que se encontram realmente muito próximas. Sem conhecer as distâncias que as separam, juramos que é impossível duas delas estarem a meio caminho entre o sistema solar e a terceira. Obviamente, um observador colocado em qualquer uma dessas três estrelas não veria o nosso Sol a olho nu. Uma viagem fantástica até a mais próxima delas levaria aproximadamente 1.108 anos, numa velocidade de 300 mil quilômetros por segundo.
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
SEM PERDER A POESIA

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1 ano-luz = distância percorrida pela luz em um ano = 9,5 trilhões de quilômetros (aproximadamente)
domingo, 9 de agosto de 2009
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Leio no Zero Hora deste domingo o conteúdo de 40 páginas da ação de improbidade administrativa movida pelo Ministério Público Federal contra a governadora Yeda e demais membros da "quadrilha". Independentemente do resultado, lá no final do processo, se impeachment/ cadeia ou arquivamento, tiro o chapéu para os promotores que fazem a denúncia. A Justiça ainda consitui uma das últimas esperanças, tábua de salvação sobre um mar de lama.
QUEM SOMOS NÓS?
Um dos autores do livro Quem somos nós? chega à absurda conclusão de que as diferentes hierarquias de seres celestiais - anjos, arcanjos, serafins, entre outros -, insituídas pelos textos hebraicos e cabalísticos - não passam de sistemas de classificação por faixas e abrangências da consciência.
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Os supostos cientistas, citados como argumento de autoridade pelos autores desse livro, são repetitivos em tratar a consciência como o princípio fundamental do universo, independentemente da existência do homem. Nesse caso, a consciência não seria criada pelo cérebro humano, mas o contrário. Isso me inviabiliza o seguinte questionamento: onde estaria a tão propalada consciência antes do surgimento do homem, ser único a tomar posição ante o universo?
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O livro cita o doutor Hagelin (doutor em Física Quântica):
A primeira de todas as experiências, poderíamos dizer, o princípio do universo, é quando a consciência pura, o campo unificado que vê a si mesmo, cria dentro de sua natureza essencialmente unificada a estrutura ternária composta de observador, observado e processo de observação. É daí, do nível mais profundo da realidade, que a consciência cria a criação, de modo que existe um relacionamento íntimo entre o observador e o observado. Eles estão essencialmente unidos como um todo inseparável na base da criação, que é o campo unificado e também nossa própria consciência mais profunda, o ser.
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Isso me reporta a George Berkeley, filósofo que questionou a ideia de matéria como diferente da substância pensante, postulando a existência de uma mente cósmica, deus.
sábado, 8 de agosto de 2009
CULTURA (ZERO HORA)
O caderno Cultura do Zero Hora traz Altair Martins como informação exclusiva na capa. Na quarta-feira, em seu Segundo Caderno, o jornal já publicava sobre esse "autor em ascensão", vencedor do 2º Prêmio São Paulo de Literatura, com o romance A parede no escuro. Altair Martins é gaúcho, professor universitário em São Leopoldo e Caxias do Sul, já premiado com o livro de contos Como se moesse ferro. O Prêmio São Paulo de Literatura é o maior do país (200 mil reais), disputado até por renomados escritores, como Milton Hatoum e José Saramago.
Sobre o autor premiado, o Cultura publica seu conto Os remos e um ensaio de Fabrício Carpinejar, em que o poeta e crítico analisa a obra de seu contemporâneo. A coluna do professor Cláudio Moreno, O prazer das palavras, está interessante. Na página 6, um artigo de um professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo sobre o "itinerário de Bandeira" na crítica. Página 7, em "Brasil de todas as masmorras", outro ensaio retrata "como, já há três séculos, os cárceres brasileiros em nada ficam devendo aos piores calabouços medievais". Não concordei com seu autor. Exceto pela superlotação, nossos presídios são incomparavelmente melhores que os piores calabouços medievais. Naquela época não havia celular, por exemplo. Na contracapa, a coluna tripartida de Luís Augusto Fischer: Pensar a cidade; O aterro sem projeto; e Sem debate público.
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
CONSELHO


Aconselho aos brasileiros que não levem a sério os bate-bocas no Senado Federal. A democracia não exclui essas manifestações, inclusive outras mais agressivas. Seguidamente, temos visto os caras que legislam se pegarem no tapa pelo mundo afora. Esses políticos não são pessoas mais civilizadas que a gente, pessoas que elegemos para nos representar como Estado. Com frequência e guardada as proporções, nosso comportamento aqui embaixo não é muito diferente.
Aldous Huxley, em O gênio e a deusa, coloca na boca de um personagem a seguinte fala: "- O mal da ficção - disse John Rivers - é que ela faz sentido demais. A realidade nunca faz sentido". Nietzsche reconhecia em seu primeiro livro que o mundo só encontra justificativa como fenômeno estético. Juntando esses argumentos, digo que a realidade, por seus absurdos, começa a não fazer mais sentido, principalmente na política (âmbito de nossa existência que merece as mais sérias reflexões desde Aristóteles). Então, tomemos a absurdidade como uma peça tragicômica que se perpetua no palco da vida. Por esse viés, o diálogo entre os senadores ocorrido ontem não deixa de ter certa grandeza risível. Renan Calheiros e Tasso Jereissati não pareciam dois personagens? O "Não aponte seu dedo sujo para mim" é uma "joia", daquelas antigas que retomam o valor depois de certo tempo. Vocês notaram a carinha do Sarney? Quase uma máscara, ou persona.
PROIBIDO FUMAR
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
ESTA NOITE
Posso escrever os versos mais alegres esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está luarizada,
e passeiam, no cio, os felinos sobre os muros".
As horas costuram a túnica do silêncio, e Neruda
canta tan corto el amor... tan largo el olvido.
Posso escrever os versos mais alegres esta noite.
Não os escrevo, baby, porque me perco triste.
Escrever, por exemplo: "A noite está luarizada,
e passeiam, no cio, os felinos sobre os muros".
As horas costuram a túnica do silêncio, e Neruda
canta tan corto el amor... tan largo el olvido.
Posso escrever os versos mais alegres esta noite.
Não os escrevo, baby, porque me perco triste.
QUEM SOMOS NÓS?

Libertados das restrições do dogma religioso, os cientistas buscaram vingança, decretando ser fantasia e ilusão tudo o que não pudesse ser visto ou medido.
Os grandes cientistas nunca foram vingativos, Darwin é o melhor exemplo. Ridicularizam com a maioria deles, exagerando o mecanicismo dos paradigmas já ultrapassados.
Estou decepcionado com esses autores, muito fracos. Sinceramente, deveriam continuar na sétima arte.
terça-feira, 4 de agosto de 2009
MÊS DE AGOSTO

Por que agosto tem esse nome? Por que 31 dias, quebrando a alternância ocorrida com os meses antecedentes? Essas perguntas nos levam ao conhecimento da grande lambança que os romanos fizeram com o calendário que bilhões de indivíduos cultuam religiosa, astrológica ou narcisisticamente. Júlio César foi o maior político (e militar) romano, digno da homenagem que os senadores lhe prestaram: seu nome, Julius, passou a designar um mês do ano. Meio século mais tarde, o então imperador César Augusto exigiu a mesma distinção, ou seja, um mês com o seu nome, Augustus, junto ao de Julius, com os mesmos 31 dias. Fevereiro cedeu esse dia extra. Novas mudanças foram necessárias. A reforma de 1582, instituída pelo papa Gregório XIII, não alterou os nomes desses dois meses, cada um com 31 dias. Isso equivale a dizer que até César Augusto não existia 31 de agosto, então o primeiro dia do mês seguinte. Esse dia entrou no calendário por um capricho ególatra de um imperador, portanto, destituído de qualquer significação mística que queiram lhe atribuir os astrólogos, os numerólogos, todos os que não merecem ser designados pelo elemento pospositivo “logo”. A propósito, nenhum dia possui qualquer significação mística, uma vez que o calendário não passa de mera convenção, produto da cultura. O 1º do ano, por exemplo, por muito tempo, foi o 1º de março (por isso os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro, por seus radicais, representam os números 7, 8, 9 e 10). O conhecimento é maravilhoso, porque desmistifica. Outras perguntas são necessárias para eliminar de vez crendices e superstições relacionadas a agosto, mês agourento para o senso comum.
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Os reformadores do Calendário Juliano e Gregoriano mantiveram os nomes setembro, outubro, novembro e dezembro, mesmo não se tratando dos meses 7, 8, 9 e 10. O radical está presente em quase todas as línguas europeias (italiano, francês, alemão, inglês, espanhol, português, eslovaco, romeno, norueguês...). Um equívoco de natureza linguística.
A LÓGICA DA PERVERSIDADE
Três assaltantes perigosos da Grande Porto Alegre, para escapar da polícia, passam no município de Santiago. Num dos trevos de saída da cidade, conseguem carona com um eminente santiaguense que se dirige à sua fazenda em companhia do filho. Em seguida, os três caroneiros assassinam pai e filho para roubar a caminhoneta. Quilômetros à frente, o mau motorista sai da estrada, bate num barranco e ficam sem o transporte. Com medo de serem capturados se dividem, empreendendo fuga a pé. Logo a perseguição aos assassinos é organizada pelas polícias civil e militar de Santiago, com o apoio dos municípios vizinhos. No terceiro dia de buscas, é preso um dos autores do latrocínio, o Polonês. Não usava arma de fogo. Submetido a um interrogatório, confessa que o chefe do grupo era o Russo. Mais três dias transcorrem para outro ser encontrado. Por reagir à voz de prisão, é alvejado mortalmente pelo policial. O morto, identificado como Russo, trazia em seu poder dois revólveres, o dele e o roubado do fazendeiro. Falta o terceiro integrante. Não demora para essa última prisão ser efetuada próximo ao Pilão D'Água. O relatório policial dá conta que o indivíduo não estava armado.
Mesmo que o duplo homicídio tenha sido cometido pelos três, cabe, ainda, perguntar quem era o chefe do bando. Não seria o mesmo que dispunha das armas?
Mesmo que o duplo homicídio tenha sido cometido pelos três, cabe, ainda, perguntar quem era o chefe do bando. Não seria o mesmo que dispunha das armas?
Sem mais perguntas.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
AGOSTO
Por que agosto tem esse nome? Por que 31 dias, quebrando a alternância ocorrida com os meses antecedentes e subsequentes? As respostas a essas indagações nos propiciam o conhecimento da grande lambança que os romanos fizeram com o calendário que bilhões de indivíduos seguem religiosa e/ou astrologicamente.
Eis o tema da minha próxima coluna do Expresso Ilustrado.
sábado, 1 de agosto de 2009
TODA CLARIDADE
A viagem atravessou a noite, dentro de um ônibus com cortinas escuras e crianças que brincavam no corredor. Venho de Curitiba, para tirar umas férias fora de tempo. Manhã de outubro. As ruas excessivamente claras em Santa Maria. A Acampamento encontra-se imersa em reflexos que me atingem em cheio. O calçadão é uma réplica da “rua das flores”. Canteiros ao centro, luminárias de acrílico, pessoas bem vestidas. Na Barão do Rio Branco, passando a Matriz, dobro à esquerda. Quadra seguinte. Do lado de uma porta alta, o número que procuro. Edifício antigo. A jovem que vem atender à campainha é de uma beleza incomum. Pergunto-lhe pela Mara. Sorri timidamente e me convida para entrar no pensionato. A mobília da sala é simples: mesa, sofá, televisão. Sozinho, observo. A porta semi-aberta deixa passar um jato oblíquo de sol, eliminando o efeito silhueta no interior. Mara desce a escada, felicíssima ao me ver. Quanto tempo! Quero saber dos nossos. Alguma novidade? Há dez anos conhecemos um ao outro. Amizade pura como as flores do campo. Numa sala contígua, a estudante que me recebeu folheia umas apostilas. Sua atenção volta-se para nós a todo momento. Mara nos apresenta. Este é meu primo. Esta é Cleo. Olhos nos olhos. Ela é encantadora. Toda claridade. As duas leem meus últimos poemas. O relógio dispara. Meio-dia se aproxima. A realidade é algo ruidoso, sempre a interromper a doçura, o sonho. Contra a vontade, despeço-me delas. A imensa porta se fecha outra vez. Mas hei de voltar no final de minhas férias. Por esta luz.
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Dedico esta crônica a Mara Soares, com o carinho de uma amizade que transcende a distância de espaço e tempo.
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Dedico esta crônica a Mara Soares, com o carinho de uma amizade que transcende a distância de espaço e tempo.
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A crônica acima, publicada ontem no Expresso Ilustrado, foi inspirada na realidade, um encontro que tive numa manhã não tão distante de 1985 (ou seria no ano seguinte?). Vinha de Curitiba para tirar férias em Santiago. Em Santa Maria, procurei a Mara num pensionato do centro. Desde muito, eu era amigo de seu irmão, Antônio Carlos. A aproximidade com o Tonico me levou a Mara, uma menina admirável.
No livro Cheiro de Goiaba, em que García Márquez conversa com Plinio Apuleyo Mendoza, ficamos sabendo que Cem anos de solidão nasceu da imagem de um velho que leva um menino para conhecer o gelo, exibido como curiosidade de circo. O velho é o próprio avô de Gabi, o Coronel Márquez. Num dia, o avô levou-o para conhecer um dromedário; noutro, para conhecer o gelo numa capanhia bananeira que se fixara em Aracataca, cidadezinha colombiana em que nascera o escritor.
Meus poemas, por exemplo, por mais metafóricos que possam ser, mantém uma relação com a realidade, seja um quadro da natureza, seja uma percepção, uma ideia. O poeta transforma essas imagens e reflexões numa semiose linguística.
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