O homem não consegue ir além de suas próprias medidas. Ele toma sua fugaz existência e a existência da espécie a que pertence como referenciais absolutos. Encanta-se ao descobrir, por exemplo, que a quantidade de oxigênio na atmosfera é de 21%. Não lhe ocorre de perguntar se sempre foi essa percentagem. Basta o fenômeno presente para caracterizar a "eternidade". O preconceito antropocêntrico, que Francis Bacon chamou de ídolos da tribo, dilata o tempo e o espaço em que ele, homem, insere-se no teatro da vida. Há mais de 4 bilhões e meio de anos, a Terra gira em torno do Sol, duração que faz parecer toda a história humana um mero instante. A atual percentagem de oxigênio constitui um dos fatores circunstanciais que propiciaram um ambiente adequando a muitas espécies. No período Carbonífero, a percentagem de oxigênio chegou a 30%. Entre o Permiano e o Triássico, caiu para 12%. O Carbonífero durou, aproximadamente, 60 milhões de anos (entre 359 milhões e 299 milhões de anos atrás). Os dois períodos somam mais de 100 milhões de anos. O homo sapiens sapiens, como somos atualmente, existe há apenas 40 mil anos. Com a capacidade de descobrir o oxigênio, há dois séculos. No entanto, esse animal inteligente, que o sofista Protágoras atribuiu como medida de todas as coisas, considera os 21% de oxigênio como se sempre fora assim, associando esse “milagre” ao Design inteligente, a um deus que controlasse quimicamente o planeta, para surgir aqui a quintessência da biodiversidade: o próprio (homem).
(Coluna do Expresso Ilustrado desta sexta-feira)
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