Nenhuma pessoa pode dizer de si mesma que é boa, pela suspeição de egolatria (essa tendência natural de puxar a brasa para o próprio assado). Mais ainda: nenhuma pessoa pode parecer que é boa em determinadas circunstâncias, sob pena de cair em contradição, passar por hipócrita ou mal-intencionada. Nenhuma pessoa conhece suficientemente a si para dizer que é boa. Quando se autoconhece, não o diz. Quem pode fazer uma melhor apreciação dela são os outros. Quem são os outros? Todos os que convivem com ela em determinado tempo e lugar: pais, irmãos, filhos, vizinhos, colegas de trabalho, de estudo e de lazer. Os pais, geralmente, excedem pela corujisse, mas os irmãos os corrigem dessa distorção apreciativa, os vizinhos e colegas corrigem as distorções familiares. Quando não há qualquer senão acerca de uma pessoa, quando passa incólume pela prova das relações interpessoais, então, poder-se-á dizer coisas boas dela. A pessoa ruim é, em contrapartida, malfalada pelos colegas, vizinhos e conhecidos; pelos parentes em casos de ruindade inegável. Na maioria das vezes, a infeliz acaba amargando a solidão, que é diferente do estar-só. Solidão é sofrimento indesejado; estar-só é escolha, refúgio para uma melhor contemplação de si mesmo. Uma pessoa boa pode, excepcionalmente, querer estar-só, mas quase ninguém é capaz de perceber esse seu modo de existência (de curta duração, ainda que recorrente). Uma pessoa ruim, contrariamente, não consegue esconder que sofre, o que se evidencia na própria fisionomia ou no discurso maledicente que vomita. Nenhuma delas, todavia, sabe de si que é ruim, pelo menos o suficiente para admitir que os outros estão certos.
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