O livro ao lado resultou de uma tese de doutorado de seu autor, o santa-mariense Orlando Fonseca. De tudo o que li nestes anos dedicado às letras, considero O fenômeno da produção poética a compilação do que de melhor se publicou entre os nossos estudiosos. O dito popular de que "santo de casa não faz milagres", cuja genealogia remonta ao âmbito religioso, não é válido para a Literatura, seja na produção dos gêneros estéticos, seja na crítica a essa produção. Orlando Fonseca, como registra seus editores, "realiza o desvendamento da situação ontológica da criação na consciência de seu criador, o poeta". Isso é ratificado na apresentação feita pelo autor: "buscar a elucidação dos atos prévios à constituição da obra, observando o próprio 'objeto' a se constituir". Poucos se atreveram a tanto. Na parte 1, A consciência e objeto intencional, o autor cita Husserl, o grande fenomenologista. Na parte 2, A obra de arte como objeto intencional, o principal argumento de autoridade recorrente é o discípulo de Husserl: Roman Ingarden. Outros reforços: Mikel Dufrenne, Merleau-Ponty, V. Chklovski... Na parte 3, A produção poética, Orlando Fonseca comenta o testemunho dos grandes poetas sobre o processo de criação (Valéry, Octavio Paz, Neruda, T.S.Eliot, Pessoa, Borges, Quental, Pound, João Cabral, Whitman, Rilke, Baudelaire, Maiakóvski, Trevisan, Novalis, Poe, Ungaretti, Quintana, Prudhomme, entre outros). Ao finalizar o capítulo, cita Bachelard, Chklovski, Husserl e Paviani. Na conclusão, Orlando Fonseca escreve: "Em uma das epígrafes anotadas neste trabalho, o poeta Fernando Pessoa diz escrever versos 'num papel que está' no seu 'pensamento'. A partir dos depoimentos dos poetas, demonstrou-se que o fenômeno da produção poética, no âmbito da modernidade, é um ato da consciência do poeta, derivado de sua capacidade de percepção diversificada, em relação à consciência natural e ingênua. Para tanto, tomou-se a descrição da consciência feita pela fenomenologia de Husserl. Para este, como se constatou na relação sujeito-objeto, o 'objeto' e o próprio 'mundo', onde se encontra, são constituídos na consciência. Constituir, para Husserl, não significa 'criar', no sentido mítico ou teológico. De acordo com essa noção, entende-se que o poeta não 'cria' ex nihilo, mas produz a sua obra a partir da percepção de um objeto cuja unidade sintética é modificada pela fantasia, e que encaminha um estado diverso da experiência cotidiana".
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