"De uma forma esquemática, o processo de produção poética é composto de duas etapas, as quais podem estar nitidamente separadas, podem fundir-se uma na outra ou seguir-se uma à outra em intermitências rápidas ou lentas. [...] A primeira etapa é caracterizada pelo sentimento de se estar tomado por uma forma de 'êxtase'; na segunda, predomina o autocontrole de uma elaboração premeditada e a intenção de dar arremate a um projeto em andamento. [...] De acordo com o testemunho dos poetas, a fase da produção comumente chamada inspiração contém o impulso inicial altamente motivado, e a fase concomitante, ou posterior, a da elaboração, representa a operação, com técnica e cuidado, de uma 'lapidação' do material 'bruto' produzido na fase anterior. À primeira fase aplica-se com maior definição o conceito de estado poético, caracterizado pela consciência intensificada, em que a dicotomia entre experiência subjetiva e a realidade objetiva é superada, abrindo o espaço para a profusão de 'imagens' como reveladoras de novos significados. É um estado do êxtase, qualidade emocional que impõe a superação temporária da distinção entre o sujeito e o objeto. Esse estado, e não a 'imaginação', preside o ato criador; o estado poético não é uma região da consciência, nem uma instância do 'ser', mas uma dada situação configurada, a partir de uma percepção da fantasia, por um conjunto de fatores, entre os quais a linguagem."
(Excerto do livro O fenômeno da produção poética, de Orlando Fonseca.)
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