As andorinhas
eram céu de asas
e, a sós, faziam
verão
no oitão
das casas.
oo
- Ela pensava o amor
como se fosse visgo.
oo
As macieiras - bem ou mal -
encantavam serpentes
no pomar
- em carmim, a pele
apalpava
suco e polpa.
oo
- Ela pensava o amor
como se fosse fisga.
oo
O cão
pensava o pão...
e o sono
través a mão
do dono.
oo
- Ele era um peixe
mas pensava pássaro...
oo
Poema de Ney A. Dornelles, do livro Tempo pássaro (organizado pelo autor para a edição). Infelizmente, Ney não conseguiu publicá-lo. As raras vezes em que nos encontramos, não lhe disse da admiração que me causava sua poesia. Há algo em seu verso que surpreende, que ultrapassa o discurso prosaico (Ela pensava o amor/ como se fosse visgo). O poeta tinha um poder de síntese, uma ousadia sintagmática (o corte vertical, com a inserção de um signo aparentemente estranho, mas que causa o efeito fônico, sintático ou semântico desejado).
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