sexta-feira, 23 de agosto de 2019

FILOSOFAR


A filosofia sofre a pecha de ser uma atividade intelectual sem resultados positivos, para não dizer inútil de cara. Essa visão do senso comum prepondera na Academia, ainda dominada pelo conhecimento técnico e científico.
         Em seu último romance, Hereges (p. 24), Leonardo Padura assim descreve o personagem Mario Conde:

Conde começou a viver uma fase de prosperidade econômica que durou vários anos e que lhe permitiu dedicar-se, até com certo desregramento, às atividades que mais lhe agradavam na vida: ler um bom livro e comer, beber, ouvir música e filosofar (falar merda, para ser claro) com seus mais velhos e encarniçados amigos.

         A transcrição desse excerto do ficcionista cubano me serve de mote para dizer que, na realidade, as pessoas não leem bons livros e filosofam tampouco. A maioria delas vive a comer, a beber e a ouvir música.
         Não posso perguntar que tipo de música mais se ouve em nosso país, qual a sua qualidade artística, ou que bem efetivo propicia a seus ouvintes, sob pena de receber comentários desaforados por intermédio das redes.
         Essa pergunta e tantas outras que povoam o meu, o nosso dia a dia, não são em vão, na medida em que vêm imediatamente antes de uma escolha, de um sim ou de um não. O pensar sobre as próprias escolhas, antes de fazê-las de uma forma inconsequente, significa filosofar (tão necessário à existencialidade humana).