quarta-feira, 23 de março de 2022

O VENDEDOR DE LIVROS (CRÔNICA DE CURITIBA)

 

   O homem vende livros na Feira do Largo da Ordem, que acontece todos os domingos em Curitiba. Seu espaço fica a poucos metros do bebedouro (onde os tropeiros davam água aos cavalos e mulas desde meados do século XVIII).

           Diferentemente de outros feirantes, o livreiro não dispõe de uma barraca armada: vende ao sol. Mesmo assim, ele é bem-humorado, a divertir seus clientes com algumas tiradas.

           Todas as vezes que vou à feira, dedico um tempo maior a conversar com o homem.

Dois chistes de sua chancela transcrevo abaixo:

           A mulher dá uma olhada para tantos volumes e pergunta como eles estão organizados nas caixas de madeira. A resposta é categórica: “Os livros estão organizados de uma forma rigorosamente aleatória”.

           Domingo último, ao passear pelo Largo da Ordem, mais uma vez me detive em frente ao amigo vendedor de livros. A chuva era iminente, por isso me preocupei com o acervo exposto. Com um sorriso de tranquilidade, o homem apontou para uma lona enrolada:

           “Tenho aqui o preservativo cultural.”

           Infelizmente, a garoa caiu mais grossa, e o homem teve que desenrolar o “preservativo cultural” e estendê-lo sobre os livros arrumados de uma forma “rigorosamente aleatória”.

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