Em 2020, escrevi o artigo
Rede social Facebook: o não empoderamento
do sujeito do enunciado, como avaliação no curso de Filosofia (FAE Centro Universitário,
Curitiba). No momento em que a mídia social possibilita a um grande número de
usuários criar uma página e se inserir no que pode ser considerado letramento
digital, ousei questionar diversos estudos acadêmicos que apontam certo
empoderamento pessoal.
Para tanto, desenvolvi meu argumento baseado em três referências:
Mikhail Bakhtin, Platão e Sigmund Freud. Da análise do gênero discursivo
recorrente, do conteúdo opinativo e narcisista da enunciação, sustentei que o
sujeito que a elabora não se efetiva como interlocutor dialógico, não contribui
para a verdade e tampouco cumpre um papel de relevância intersubjetiva. Ademais,
há de se considerar o poder de manipulação do Facebook, recentemente denunciado
por ex-colaboradores da startap.
A partir de Bakhtin, esclareci o que seja o enunciado dentro
do processo comunicativo. O sujeito é quem fala ou escreve para um ouvinte ou
leitor que dialoga com ele. Esse segundo componente da relação dialogal, por
sua vez, ocupa “uma ativa posição responsiva: concorda ou discorda” do primeiro,
com o qual alterna o papel de enunciador. O enunciado é tudo o que produzido
durante a comunicação oral ou escrita. O linguista e filósofo russo classificou
os gêneros discursivos de primários (conversa, bilhete, e-mail etc.) e
secundários (crônica, conto, artigo etc.).
Da réplica do diálogo cotidiano ao comentário mais longo em
que se expressam ideias, apreciações e juízos de valor, a opinião constitui a
maioria dos enunciados no Facebook. Na linha segmentada proposta por Platão, a
opinião consiste numa forma primária de conhecimento, fundamentado em ilusões,
crenças e preconceitos. Nesse aspecto o filósofo rende tributo a Parmênides,
pré-socrático que opunha a opinião à verdade.
Em vista de sua subjetividade, de seu caráter íntimo, a
opinião visa a dar evidência ao sujeito que a enuncia. A imagem de si mesmo, na
percepção desse sujeito, merece o compartilhamento com o outro,
independentemente da concessão dialogal. Pari passu com outras semioses (a
exemplo do selfie), a enunciação é motivada pelo narcisismo, ou a necessidade
de investimento no Eu, segundo Freud. No âmbito hi-tech, o Facebook representa o lago que reflete a própria face piegas
do sujeito enunciador. Antes de comunicar algo, de exercer uma função social,
todo enunciado, acompanhado de imagem ou não, presta-se à afirmação de uma
identidade narcísica.
Em síntese, não há empoderamento no emprego de gêneros
primários (como a conversa cotidiana), não há na opinião e na expressão
narcisista. Para se tornar empoderado, o usuário deve produzir uma forma de
gênero digital que influencie seu interlocutor, que se aprofunde na busca da
verdade e que se caracterize pela alteridade. Não há empoderamento sem considerar
a relação com o outro.
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