quinta-feira, 3 de março de 2022

DRAMA PESSOAL

 

        Hoje levantei com a ideia de pintar meu autorretrato com vitiligo. Pictoricamente, estas manchas mais claras na testa, acima da sobrancelha e no extremo direito da boca darão ao quadro um aspecto interessante.

       Outra ideia me ocorreu nesta manhã: iniciar a escrita de um romance. Depois que li Terra sonâmbula (Mia Couto) e Torto arado (Itamar Vieira Júnior), essa ideia se renova com frequência (sempre vencida pela autocrítica).

       Qual é a autocrítica?

       Por um lado, reconheço que não estou preparado para tão grande empreendimento criativo, que me exigiria muito suor, muita queima de neurônio. Por outro, penso que o compromisso com a realidade é mais urgente. O mundo não anda bem, a necessitar do meu engajamento filosófico.

       Platão poderia estar certo em deixar os poetas fora de sua república, porque eles perpetuam a ilusão, o estado sensível do fundo da caverna. Para sair à luz, o homem o faz por intermédio da razão, do conhecimento.

       Assim dividido, adianto que não pintarei meu autorretrato, tampouco iniciarei um romance. A arte fica para depois, não obstante a perspectiva de que depois será tarde.  

        

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