terça-feira, 1 de março de 2022

"GIGANTES DE RAZÃO CIENTÍFICA"

                      Muito antes de ler Charles Taylor, filósofo canadense, eu já chegara aos três grandes nomes da modernidade, que libertaram o homem ocidental do delírio religioso: Copérnico, Darwin e Freud. Tal libertação, ainda incompleta, não ocorre sem grandes frustrações.

         O primeiro nome é Nicolau Copérnico, monge polonês, que descobriu matematicamente que era a Terra que girava em torno do Sol, e não o contrário (como sustentava todo o saber anterior). Sua descoberta gerou um grande mal-estar em pleno apogeu do Cristianismo, quando a Terra estava no centro do mundo, com o Deus sobre ela, sentado num “sólio de nuvens” (no dizer de Will Durant). Com estudos posteriores, nosso planeta foi perdendo cada vez a centralidade, reduzindo-se a um grão de poeira na imensidão do espaço-tempo. Copérnico receoso de que seu estudo causaria uma indignação muito grande, com consequências terríveis para ele, publicou-o um pouco antes de morrer em 1543. Giordano Bruno, que defendeu mais tarde o heliocentrismo, foi condenado e executado pela santa igreja de Roma.

         O segundo nome e (reputo) o mais importante é Charles Darwin. Outro que tardou para publicar seu A origem das espécies (1959), um escândalo para a Era Vitoriana, de fundamentalismo moral e religioso. A frustração causada por Copérnico foi superada com a crença de que o homem era ainda uma criatura divina, diferente dos outros animais. Darwin explica minuciosamente como ocorreu a evolução das espécies, como homem e chimpanzé pertenciam a uma mesma espécie entre seis e sete milhões de anos antes do presente. O criacionismo, tido como verdade absoluta, passa a ser relegado pela ciência como um outro mito qualquer.

         Sigmund Freud é o terceiro nome citado por Taylor como um dos “gigantes da razão científica”. Com a frustração propiciada pelo darwinismo, abandonou-se a crença no mito adâmico e se agarrou à racionalidade, uma centelha de luz a distinguir o homem. Todavia, surge Freud, que citara Copérnico e Darwin no ensaio Uma dificuldade da psicanálise como responsáveis por causar grandes aborrecimentos à humanidade, com a sua descoberta do inconsciente. O terceiro aborrecimento (frustração da razão que se pressupunha a essência humana). O consciente é a ponta emersa do iceberg, tudo mais é instinto, pulsão, inconsciente.

          A reação criacionista foi violenta no começo da modernidade, com a inquisição, negacionista ao longo dos últimos séculos e adaptável nos dias atuais. Como adaptável? No discurso do Papa Francisco, por exemplo, ao afirmar que o big bang é perfeitamente compatível com a criação divina do mundo. A adaptação é o último esperneio do mito, que se mantém vivo pela fé depositada nele.     

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