A mais clara influência roseana em Mia Couto
é o provérbio curto e seco. Na linha de “viver é muito perigoso” de Grande sertão: veredas, destaco alguns
exemplos abaixo:
“Melhor
sentinela é não ter portas”;
“A fome quando ferra nos faz fera”;
“A dor é uma janela por onde a morte
nos espreita”;
“A felicidade só cabe no vazio da mão fechada”;
“O homem é como a casa: deve ser visto por dentro”;
“A riqueza é como o sal: só serve para temperar”;
“Em terra de cego quem tem um olho fica sem ele”;
“As paredes têm mais orelhas que o elefante”;
“As raças são fardas que vestimos”;
“São as esperas que fazem envelhecer”;
“Os mortos não morrem quando deixam de viver, mas quando
os votamos ao esquecimento”;
“Quem quer vestir-se de lobo fica sem a pele”;
“A guerra fere mesmo os que nunca saíram em batalha”;
“Quem quer a eternidade olha o céu, que quer o momento
olha as nuvens”;
“A mulher não transporta água; ela traz os rios todos
dentro”;
“O demônio mora sempre entre os vizinhos”;
“O boi sem cauda pode passar pelo capim em chamas”;
“Feridas da boca se curam com a própria saliva”;
“O silêncio é a língua de Deus”;
“No charco onde a
noite se espelha, o sapo acredita voar entre as estrelas”.
Esses
provérbios foram transcritos de Terra
sonâmbula, Antes de nascer o mundo e Um
rio chamado tempo, uma casa chamada terra, do romancista moçambicano.
A
propósito, para uma edição de João Guimarães Rosa no país africano, uma das
falas mais conhecidas de Riobaldo sairia desta forma: “Diadorim é meu cacimbo”.
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