segunda-feira, 15 de junho de 2020

A TEMÁTICA DO FÚNEBRE



Ontem comecei a leitura de Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, de Mia Couto. De posse de um lápis, sublinho o nome das personagens, as palavras crioulas já inseridas no português africano, as frases filosóficas ou poéticas.
A história tem início com o retorno de Marianinho à ilha Luar-do-Chão depois de muitos anos. Ele foi incumbido a comandar as cerimônias fúnebres de seu avô Dito Mariano. Na casa grande, encontram-se reunidos todos os seus parentes, entre os quais, Fulano Malta (pai), Dulcineusa (avó), Abstinêncio, Ultímio e Admirança (tios).
Não é a primeira vez que um funeral constitui o eixo da história. Pelo menos duas outras obras me vêm à lembrança, malgrado mais de três décadas da leitura: o romance Enquanto agonizo, de William Faulkner, e o conto Os funerais da Mamãe Grande, de Gabriel García Márquez.
Em Enquanto agonizo, quem morre é a matriarca da família Bundren, a envolver seus filhos no traslado do corpo numa carroça velha até Jefferson. O romance é composto por várias vozes, cada capítulo é narrado por um dos Bundren. Em Os funerais da Mamãe Grande, é narrada a “mais esplêndida ocasião funerária que registram os anais históricos”. Até o Papa veio a Macondo.
Mia Couto tem a reconhecida influência do realismo mágico latino-americano e do nosso João Guimarães Rosa. Salvo melhor análise, não há outras semelhanças entre Faulkner e o escritor moçambicano. A temática do romance constitui uma coincidência.

Nenhum comentário: