Ontem
comecei a leitura de Um rio chamado
tempo, uma casa chamada terra, de Mia Couto. De posse de um lápis, sublinho
o nome das personagens, as palavras crioulas já inseridas no português africano,
as frases filosóficas ou poéticas.
A
história tem início com o retorno de Marianinho à ilha Luar-do-Chão depois de
muitos anos. Ele foi incumbido a comandar as cerimônias fúnebres de seu avô
Dito Mariano. Na casa grande, encontram-se reunidos todos os seus parentes,
entre os quais, Fulano Malta (pai), Dulcineusa (avó), Abstinêncio, Ultímio e
Admirança (tios).
Não
é a primeira vez que um funeral constitui o eixo da história. Pelo menos duas
outras obras me vêm à lembrança, malgrado mais de três décadas da leitura: o
romance Enquanto agonizo, de William
Faulkner, e o conto Os funerais da Mamãe
Grande, de Gabriel García Márquez.
Em
Enquanto agonizo, quem morre é a
matriarca da família Bundren, a envolver seus filhos no traslado do corpo numa
carroça velha até Jefferson. O romance é composto por várias vozes, cada
capítulo é narrado por um dos Bundren. Em Os
funerais da Mamãe Grande, é narrada a “mais esplêndida ocasião funerária
que registram os anais históricos”. Até o Papa veio a Macondo.
Mia
Couto tem a reconhecida influência do realismo mágico latino-americano e do
nosso João Guimarães Rosa. Salvo melhor análise, não há outras semelhanças entre
Faulkner e o escritor moçambicano. A temática do romance constitui uma
coincidência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário