DEUSES
E RELIGIÕES:
Um pouco de imaginação
é indispensável para dar conta das lacunas deixadas pelo conhecimento – quando
se trata de uma retrospectiva da história vivida pelo homem. Para viajar no
tempo, em busca de esclarecimentos diversos, devo solicitar ajuda aos meus
neurônios criativos, sem perder de vista Arnold Toynbee, H.G. Wells, S.N.
Kramer, entre outros, que escreveram sobre os povos pretéritos.
Um rabino, um padre, um
pastor evangélico e um mulá são meus convidados especiais para esta viagem.
Como quinto elemento, participo na condição de líder propositivo. Meu objetivo
é mostrar-lhes alguns aspectos das religiões e deuses criados pela humanidade
em diferentes momentos e lugares. Eles têm a liberdade de intervir, positiva ou
negativamente, e de permanecer em silêncio.
Nosso primeiro destino
é a Suméria, em torno de seis a oito mil anos antes do presente. Aqui saberemos
acerca do cultivo da terra associado aos sacrifícios (com derramamento de sangue).
O deus para quem se realizava esses sacrifícios evoluiu do mito do Homem Velho, que dominava a mente dos
homens saídos do paleolítico. Daniel Dennett escreve em seu Quebrando o encanto (2006): “Há um
consenso geral entre os pesquisadores de que o grande desvio responsável foi o
surgimento da agricultura e os maiores assentamentos que ela tornou tanto
possíveis como necessários”, sobre o fenômeno social que “metamorfoseou” as
religiões naturais em religiões organizadas.
Os locais em que eram
realizados os sacrifícios, isso nos causa certo espanto, transformaram-se em
templos e, em torno desses templos, surgiram as primeiras cidades. Segundo
H.G.Wells, “o surto das cidades é o período do templo na história”. Em todos os
templos, havia um santuário, dominado por uma figura teratológica, meio humana
meio bicho, a qual passou a representar o próprio deus do local. Em cada local,
havia um deus diferente, muito bem cuidado pela classe dos sacerdotes, que
foram os primeiros administradores das cidades sumerianas.
O excerto a seguir,
posteriormente lido e transcrito à produção deste texto, constitui uma prova de
que minha imaginação encontra respaldo historiográfico em KRAMER (Os sumérios, 1997, p. 139):
O teólogo (ou
sacerdote) sumério notou que terras e cidades, palácios e templos, campos e
quintas – em resumo, todas as instituições e realizações concebíveis – eram
vigiados e supervisionados, guiados e controlados por seres humanos vivos; sem
eles as terras e cidades ficariam desertas, os templos e palácios ruiriam, os
campos e as quintas ficariam transformados em lugares desertos e selvagens.
Necessariamente, portanto, o cosmo e todos os seus incontáveis fenômenos têm
também de ser vigiados e supervisionados, guiados e controlados por seres vivos
de forma humana. Mas, sendo o cosmo muito mais extenso e a sua organização
muito mais complexa do que a soma total das realizações humanas, estes seres
vivos deviam obviamente ser mais fortes e mais eficientes do que os vulgares
humanos. Acima de tudo, deviam ser imortais. Doutro modo, o cosmo cairia no
caos após a sua morte e o mundo caminharia para um fim. [...] Era cada um
destes seres invisíveis, antropomórficos e, ao mesmo tempo, sobre-humanos e
imortais, que os sumérios designavam pela palavra dingir, que nos traduzimos por “deus”.
Com o crescimento das
cidades e seus intercâmbios pacíficos ou belicosos, era óbvio que seus deuses
sofressem uma espécie de seleção artificial, sobrevivendo os mais fortes, como
Marduk, na Babilônia, e Baal, na Fenícia, Canaan e adjacências.
Não é o caso de
perguntar ainda aos meus companheiros de viagem se entenderam bem o princípio
gerador dos primeiros deuses.
A viagem continua,
contornando o Oriente Médio com o firme propósito de deixá-lo mais para o
final. Com um salto no espaço-tempo, vamos a uma cidade qualquer da Grécia
Antiga. Aqui entrevistamos alguns habitantes sobre seus deuses luminosos ou
obscuros (que residem no Monte Olimpo). Nenhum dos entrevistados duvida da
existência de Zeus e seu staff
divino. Pelo contrário, eles e todos os demais coetâneos nos asseguram que seus
deuses existem, merecedores dos cultos mais distintos quanto estapafúrdios.
Na pele de
estrangeiros, sabedores de que os deuses gregos não eram reais, corremos o
risco de sermos presos, processados e mortos caso professássemos a verdade.
Neste momento, falo aos religiosos que me acompanham sobre a Alegoria da Caverna de Platão (1997), do
indivíduo que retorna para libertar os demais (cativos pela sombra, pela
ilusão).
Ao nos deslocarmos para
o norte da Europa, pergunto a meus interlocutores que acharam da experiência.
Por que os deuses gregos deixaram de existir? A resposta é unânime: ninguém
mais acredita neles.
Mais um salto no
espaço-tempo, para visitar os hiperbóreos há um milênio de anos. A religião
viking conta com deuses, lugares de adoração e culto a eles. Ao interpelarmos alguém, temos o cuidado de
não pôr em questão a existência de Odin, sob pena de termos a cabeça cortada
por um golpe de machado. Cientes desse perigo, eles concordam com o meu
argumento de que a religião viking transformar-se-ia em mitologia viking, a
partir da invasão e domínio de uma nova religião (a cristã).
O próximo destino de
nossa viagem é Tenochtitlan, a capital dos astecas. Para a nossa saúde, mantemo-nos
incógnitos. Os sacrifícios são frequentes, para agradar ao deus sol, o qual se
apagará sem o sangue humano. A propósito o mundo nasceu do ato voluntarioso de
um deus que se lançou numa fogueira, transformando-se no sol. Os astecas fazem
guerra com o objetivo de aprisionar inimigos fortes e saudáveis para
arrancar-lhes o coração no topo de altares monumentais. Da mesma forma como
acontece em outros lugares, nenhum dos habitantes locais duvida da existência
de seus deuses. Apenas a nossa comitiva sabe que seus deuses deixarão de
existir no futuro.
Ainda na América, ao
sul do Equador, a nação tupi-guarani cultua o deus Nhanderuvuçu ou Tupã. Não
vejo necessidade de passarmos por lá. O pastor é o primeiro a concordar que
deixemos de lado os silvícolas sul-americanos. Muito atrasados, segundo ele.
Não obstante esse atraso civilizatório, seu deus criou o mundo de uma forma
bastante aproximada do deus bíblico. No lugar de Adão e Eva, Tupã inicia a
humanidade com Rupave e Sypave, “pai dos povos” e “mãe dos povos”,
respectivamente.
Roma é nosso destino. Malgrado
o cosmopolitismo da capital do Grande Império, com a importação de cultos
religiosos das províncias conquistadas, os romanos são cuidadosos com suas
práticas oracionais (em altares construídos dentro das próprias casas). Seus
deuses imitam os deuses gregos, notadamente antropomórficos (como percebeu
Xenófanes de Cólofon). Júpiter é a mais poderosa das divindades, equivalente a
Zeus. Até então, este é o lugar mais tolerante por que passamos nesta viagem – para
nossa tranquilidade.
Egito poderia ser o
segundo lugar a ser visitado, depois da Suméria. Aqui também teve início uma
civilização independente, da mesma forma organizada por uma classe sacerdotal.
Deuses diversos em diversos templos. A figura político-religiosa do Faraó
evoluiu de um sacerdote inteligente e dominador, até se transformar em único
representante de deus na terra durante a XVIII Dinastia, com Amenófis IV, mais
conhecido como Aquenáton (pai de Tutancâmon). A presente visita ao Egito, justamente
no tempo de Aquenáton, tem o propósito de mostrar a meus convidados uma
religião monoteísta anterior ao judaísmo. Aquenáton introduziu o monoteísmo centrado
no deus Aton, mas os egípcios voltarão ao politeísmo depois da morte do Faraó.
Richard Dawkins escreve em Deus, um
delírio, página 57: “Não está claro por que a passagem do politeísmo para o
monoteísmo deva ser encarada como aperfeiçoamento progressivo evidente”. À
exceção de mim, os demais divergem de Dawkins.
A próxima escala é
Judá, pequeno reino incrustado numa região geograficamente pobre, ocupada por
pastores nômades. O germe de uma civilização teima em se desenvolver aqui, a
partir do templo erguido na cidade de Jerusalém (da mesma forma já
caracterizada nos demais lugares visitados até então). Nossa chegada coincide
com a reunião de sacerdotes, escribas, profetas, contadores de história... que
atendem a um convite do líder político e religioso dos judeus. Com a ajuda do
rabino, logo soubemos tratar-se de um projeto ambicioso de Josias, qual seja, o
de produzir “uma saga épica, composta por uma surpreendente coleção de escritos
históricos, memórias e lendas, contos folclóricos, propaganda real, profecia e
poesia antiga”, segundo FINKELSTEIN & SILBERMAN (2003). Ao longo de onze
séculos, de Jerusalém a Niceia, o livro ganharia várias edições, com acréscimos
tão significativos quanto díspares. As interpretações persistem até o presente,
ao bel-prazer discursivo, depois de ter ensanguentado a Europa com guerras
fratricidas entre católicos e protestantes.
Antes de partirmos
outra vez, pergunto aos meus interlocutores como eles imaginam o surgimento da
crença que foi Deus a ditar o livro. A propósito, Deus tem um nome atualmente:
Javé, que se sobressaiu na Idade do Ferro. Sua aliança com Israel e Judá exigia
apenas fidelidade exclusiva, condição que relegaria à inexistência os deuses da
Idade do Bronze, entre os quais El e Baal. A partir da segunda parte do livro
de Isaías, também chamada de Dêutero-Isaías, Javé foi proclamado único.
Posteriormente, os judeus o tratariam como Adonai (Senhor). Mais afoito entre
os viajantes, o pastor responde pelos demais: a ideia mesma de Josias já é
revelação divina.
Essa resposta me faz
lembrar Toynbee (1955), para quem os filhos de Israel eram dotados de “uma
incomparável sagacidade espiritual”. Para o historiador renomado, a descoberta
de uma verdade “absoluta e eterna”, de um único deus, levou os judeus ao
pressuposto de uma verdade “média, relativa e temporária”, de que eles eram o
povo eleito (a ponto de rechaçarem Jesus Cristo como enviado especial de seu
deus).
Nossa última viagem é a
Medina, dois anos após a chegada de Maomé. A cidade está em polvorosa, com a
vitória dos seguidores do profeta contra os mequenses na batalha de Badr. Sob o
olhar silencioso de Kaleb, faço uma síntese do islã até este momento. Há 12
anos, o jovem Muhammad jejuava no Monte Hira, quando sonhou com a aparição do
anjo Gabriel. Este teria afirmado que o sonhador nada mais era que “o profeta
de Deus”. Um tanto perturbado, contou à mulher Khadijah, sobre o sonho. Um
primo dela, velho conhecedor da literatura dos judeus e cristãos, foi
categórico: “o enviado divino que certa vez visitara Moisés tinha retornado
novamente ao Monte Hira” (HITCHENS, 2007). Mohammad se convenceu disso,
pregando em Meca novas ideias religiosas (como a de que os infiéis a Alah
queimarão no inferno). Tanto incomodou os poderosos de Meca, que foi obrigado a
fugir da cidade na noite que precedia sua execução. Em Medina, já contava com
adeptos. Aqui organizou uma força armada, com o objetivo de assaltar caravanas
que abasteciam Meca (vindas da Síria). Seu exército cresceu à medida que
crescia seus seguidores. Logo o profeta dominará toda a Arábia, norte da África
e invadirá a Europa pela Península Ibérica. Isso se torna previsível a partir
da vitória hoje comemorada nos ruas.
Kaleb, como testemunhamos
em nossa “visita”, o deus na época de Moisés era Javé, exclusivo dos hebreus.
Alah é a fusão em árabe de El + Iah, que eram duas divindades assírio-babilônicas.
Outra observação pertinente é de que não
há conteúdo doutrinário em Hira, como no Sinai. O Corão será compilado em
séculos futuros, mais ou menos coerente com as pregações de Maomé. Ao constar
que o islã é a única religião verdadeira aos olhos de deus (3, 19), o Corão
negará o que pregava Jesus Cristo: “Ninguém vem ao Pai, senão por mim” (João
14,6). Os neoateístas baterão discursivamente sobre a exigência de fidelidade
que identifica esses deuses desde a Idade do Ferro. Os infiéis não apenas
sofreram ameaças de mortes horrendas, como foram mortos por ordem divina (Êx
32, 27).
Nossas viagens poderiam
continuar para os lugares e tempos mais diversos, como a Nauvoo (Illinois, EUA),
há menos de dois séculos. Ali veríamos pregar Joseph Smith, a construir sobre
um pântano o templo de sua Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. O
estigma de “falso profeta”, segundo o viés bíblico, todavia, não impediu que
sua igreja se multiplicasse pelo mundo. Na capital do Império Inca, Cusco, antes
da invasão de Francisco Pizarro, veríamos os sacrifícios se repetirem ao sair
do Sol (a suprema divindade). Na Índia, nos últimos cinco mil anos. Muitos
deuses e credos. No Nepal, uma religião não teísta. Entretanto, para atender ao
objetivo proposto, penso na suficiência das viagens realizadas.
As viagens realizadas,
sentamo-nos à mesa para uma conversa mais tranquila, sem o risco que corríamos
como peregrinos em terras menos civilizadas. Não posso dizer que a reunião
funcione ao modelo do brainstorming,
uma vez que as ideias são de antemão substituídas pelas crenças de meus
interlocutores.
A pergunta que não quer
calar é se o objetivo proposto antes de nossa peregrinação (ou estudo) foi
alcançado.
“Eu continuo a crer no
Cristo vivo, no Deus vivo”, padre Lauro dá prosseguimento à conversa. “Todos os
deuses cridos anteriormente, nos mais diversos lugares por que passamos,
demonstram uma ‘intuição’ humana do divino. Em meu curso de Filosofia,
encontrei esse pensamento em Descartes, como prova a priori da existência de Deus. A ideia de um ser perfeitíssimo em
nossa mente implica sua existência.”
Reverendo, afirmas tua
fé num deus vivo... Fé é sentimento. Não há dúvida sobre a relação sinonímica
desses dois termos. O primeiro como hipônimo do segundo. O filósofo que citas
desvalorizou “o mundo dos sentimentos, das emoções, das paixões”, segundo PADOVANI
& CASTAGNOLA (1993). Esses estados da alma são irracionais para Descartes, como
o próprio conhecimento passado pela tradição (antes do cogito).
O rabino e o mulá, que
se identificam pela boca fechada e pelos ouvidos atentos, não estão dispostos
ao diálogo. Pergunto a Samuel se ele acredita realmente que Moisés falou com
Javé no Monte Sinai. Antes que responda, dirijo-me a Kaleb: Tu acreditas
realmente que Maomé ouviu o anjo Gabriel no Monte Hira?
“Eu creio na Torá, escrita pelo próprio Moisés.”
Malgrado o criticismo
superior negar essa autoria?
Samuel balança a cabeça
afirmativamente.
Kaleb também responde
que sim, imitando o gesto de cabeça do judaísta.
Segundo padre Lauro, os
deuses com nomes diferentes provam, na verdade, a intuição do deus único.
Assim, Javé e Alah seriam o mesmo deus. Essa identificação, todavia, não se
verificou na prática, apesar da intertextualidade presente entre as duas
religiões. Duas observações são necessárias como contraponto: 1) caso os deuses
que apareceram a Moisés e a Maomé sejam o mesmo deus, por que as tábuas ditadas têm conteúdo diferente?;
2) porque a exigência de exclusividade de Javé ao povo de Israel e de Alá aos
árabes islamitas? Há mais de mil e trezentos anos, judeus, cristãos e islâmicos
se perseguem e se matam numa guerra fratricida, injustificável. Por que esses
deuses, como representação de um deus único, ditariam algoritmos diversos aos
seus eleitos?
Padre Lauro, tua tese
corre o risco da insustentabilidade. Todavia, bato palmas para o ecumenismo
idealizado por ela. A Igreja Católica fracassou na tentativa de universalizar o
cristianismo do alto de um estado poderosíssimo – o Vaticano. De acordo com
JENKINS (2013, p. 45), a “fase gloriosa da história do cristianismo” é
encerrada historicamente pelo Concílio de Niceia (alguns anos depois de o
imperador Constantino aceitar a nova religião seguida pela própria mãe,
Helena).
Jonas, não posso
declinar o nome de todos os deuses criados pelos povos que visitamos num périplo
imaginário. A relação é extensa. Em todo caso, incluindo-se aqueles que já
fizemos referência, apresento-te alguns nomes pela ordem alfabética: Acuecucyoticihuati,
Afrodite, Alah, Amaterasu, An, Anat, Antu, Anúbis, Apo, Apolo, Ares, Artemis,
Asera, Assur, Atena, Aton, Baal, Brahma, Belzebu, Chac, Ceres, Dionísio, Durga,
El, Enki, Enlil, Eros, Frey, Ganesha, Gerda, Guaraci, Hades, Hanuman, Hefesto,
Hera, Hermes, Hórus, Huitzkopochtli, Iah, Iara, Inana, Inari, Inti, Ishkur, Isis,
Itzamna, Ixtchel, Izanagi, Izanami, Jaci, Javé, Krishna, Loki, Mama Quilla,
Moloch, Muntu, Nammu, Nana, Nhanderuvuçu, Ninlil, Odin, Ometeotl, Osíris, Pacha
Mama, Pauahtun, Posêidon, Quetzalcoatl, Rá, Rama, Saraswati, Set, Shiva, Sinki,
Susano-o, Uke-Mochi, Thor, Tlaloc, Tohil,
Tupã, Tyr, Viracocha, Vishnu, Xiuhtecuhtli, Xólot... Essa tendência de criar e
adorar deuses mais ou menos semelhantes em lugares sem ligação geográfica,
provaria a existência no homo sapiens
de um gene divino? Não descartando o meme
(transmitido de um povo a outro, ou de relação “paterno-filial” entre
sociedades, como expressa Toynbee), a ideia de Deus seria de natureza
bio-lógica?
Caro pastor, noventa e
nove por cento dos deuses criados e adorados pelo homem não existem mais. Por
um determinado tempo, eles foram deuses vivos, presentes nos ritos religiosos,
determinantes da ordem moral e, por extensão, da vida de uma tribo, comunidade,
povo ou civilização. Depois de mortos, em razão da não existência daqueles que
o alimentavam com a própria fé, esses deuses perderam a condição religiosa, para
passar à mitologia. Judeus, cristãos e islâmicos, no entanto, juram que seu
deus é verdadeiramente único, não obstante as distinções que os caracterizam
dogmática e ideologicamente. Mais notadamente o cristianismo, por intermédio de
seus teólogos e pregadores, reconstruiu o deus do Velho Testamento, não o
tratando pelo nome de origem, Yahweh, Javé ou Jeová, mas pelos epítetos Senhor e Pai. Sem perder a pessoalidade, um deus “ciumento, mesquinho,
injusto e intransigente; genocida étnico e vingativo, sedente de sangue;
perseguidor misógino, homofóbico, racista, infanticida, filicida, pestilento,
megalomaníaco, sadomasoquista, malévolo”, segundo DAWKINS (2006), transforma-se
em deus da bondade, do perdão e do amor.
Tu acreditas realmente
que o antigo e o novo testamento versam sobre o mesmo deus?
Jonas responde que sim.
Com a palavra, reafirma sua fé no Deus-Pai, que enviou o Filho, o Cristo
encarnado, para morrer na cruz e salvar os homens de seus pecados. “Acredito no
cumprimento das profecias, acredito na natureza divina de Jesus e na sua ressurreição”.
A nossa viagem não te
levou a identificar os deuses de diferentes partes do mundo com o deus em que
acreditas, exclusivo para o judaísmo e universal para o cristianismo. Nenhum de
vocês o fará, certamente. Kaleb é o único a aceitar uma aproximação entre Alah
e o deus de Abraão, porque o Corão assim o permite, na medida em que os homens
que o consolidaram visavam à rápida expansão do islã.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA,
João Ferreira de (tradutor). Bíblia
Sagrada. Revista e atualizada no
Brasil. 2. ed. – Barueri – São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.
DAWKINS,
Richard. Deus, um delírio. Tradução
de Fernanda Ravagnani. – São Paulo: Companhia da Letras, 2007.
DENNETT,
Daniel. Quebrando o encanto: a
religião como fenômeno natural. Tradução de Helena Londres. – São Paulo: Globo,
2006.
FINKELSTEIN,
Israel. A Bíblia não tinha razão /
Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman. Tradução de Tuca Magalhães. São
Paulo: A Girafa Editora, 2003.
JENKINS,
Philip, Guerras santas: como 4
patriarcas, 3 rainhas e 2 imperadores decidiram em que os cristãos acreditariam
pelos próximos 1.500 anos. Tradução de Carlos Szlak. – Rio de Janeiro: LeYa,
2013.
KRAMER,
Samuel Noah. Os sumérios – Sua
história, cultura e caráter. Tradução de Salvato Telles de Menezes. Lisboa:
Livraria Bertrand, 1997.
MAOMÉ.
Alcorão sagrado. Tradução de Samir
El Hayek. – São Paulo: Federação das Associações Muçulmanas do Brasil, 1974.
PADOVANI, U;
CASTAGNOLA, L. História da Filosofia.
– 15ª ed. – São Paulo: Melhoramentos, 1990.
PLATÃO.
A República. [Os pensadores.]
Tradução de Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, 1997.
TOYNBEE,
Arnold J. Estudio de La Historia.
Volumen IV. Traducción de Vicente Fatone. – Buenos Aires: EMECÉ EDITORES, S.A,
1953.
WELLS,
H.G. História Universal. (Volume I.)
Tradução de Anisio Teixeira. São Paulo: Companhia Distribuidora Nacional, 1956.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Joseph_Smith_Jr. Acesso em 27
de junho de 2017.
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