Buenos Aires tem muitos
cafés e livrarias (de novos e usados). Numa mesma quadra, posso encontrar mais
de um local para vender bebida ou livros. Esse comércio não resulta apenas de uma injunção
do mercado, mas da cultura que o precede. Tal se evidencia em dois dos mais
famosos pontos da cidade: Café Tortoni e O Ateneu. O café da Avenida de Mayo
consiste numa espécie de galeria de artes, com destaque para a literatura. A
segunda mais bela livraria do mundo, localizada na Avenida Santa Fé, conta com
um café em seu interior. Penso que há uma relação efetiva entre a bebida e a
leitura. Os hábitos gastronômicos e intelectuais remontam à aristocracia dos
séculos anteriores. Seus memes
identificam o espírito portenho, que parece resistir às mudanças impostas pela
pós-modernidade. As pessoas não frequentam o café apenas para ingerir uma
xícara do líquido escuro e quente. Elas nunca o fazem em pé ou andando na rua.
Dentro de um café, sentam-se e pedem a bebida. Algo muito precioso está
incluído nesse ritual cotidiano: espaço e tempo. Ali descansam, conversam, leem
ou ficam simplesmente, enquanto atendem ao prazer de sentir o cheiro e o sabor inconfundíveis.
Em contrapartida, pude observar que as livrarias não gozam da presença numerosa
dos cafés. Essa observação preestabelece que os portenhos estão lendo menos.
Mesmo os portenhos, que amam a sua linda e romântica Buenos Aires.
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