terça-feira, 6 de janeiro de 2015

PAIXÃO VULGAR

Na introdução de Ensaios Céticos, Bertrand Russel escreveu que nossas opiniões, em especial políticas e religiosas, são defendidas de forma apaixonada. Não apenas nossas opiniões, mas também ações.
Independentemente desse grande pensador, já cheguei à mesma análise por via da observação direta da realidade. A maioria das pessoas defende com unhas e dentes um discurso fundamentado nas próprias crenças, fazendo ouvidos moucos para os demais discursos. Elas não se incomodam em usar a razão uma única vez, para justificar a própria irracionalidade.
Num exame autocrítico, reconheço que me deixei enredar por uma paixão bastante vulgar: o antipetismo. Hoje uma metade do país repudia o petismo, e outra o professa abertamente. Nas últimas eleições, aprofundou-se essa ruptura com um radicalismo que beira a psicose social.
Dias atrás, resolvi que preciso transcender essa paixão, fiel (o ateu não perde essa qualidade) aos princípios racionais, que norteiam o que há de melhor em nossa civilização. O conhecimento de mim mesmo é o meio mais inteligente de que disponho para evoluir como ser perfectível. Não é a crença numa religião ou num partido político.
O petismo (ou lulismo), por exemplo, transformou-se numa paixão arrebatadora de corações e mentes, do povão aos intelectuais - que ainda sonham com uma revolução perdida. Esse sonho é seu bolsa-família. 
Não me imagino indo a Brasília para vaiar Dilma no dia de sua posse, expondo a irracionalidade de minha paixão antipetista - na prática. Do lado contrário, houve quem saísse deste recanto do Rio Grande do Sul, para ovacionar a presidente sobre o Rolls-Royce preto. 
Decididamente, não posso mais alimentar essa paixão ordinária, sob pena de me igualar a eles.

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