A maioria dos debates realizados sobre o
trânsito equivale a jogar conversa fora, não ultrapassando o âmbito da mera
opinião – que se sabe eivada de preconceitos e falácias.
Um dos debatedores, que também é usuário,
atribui ao outro a culpa de infringir as normas de conduta, ou que falta
fiscalização. O agente da lei, em contrapartida, opina que o problema se
deve à falta de educação do usuário.
Os achismos acabam num círculo vicioso
em torno da verdade que buscam alcançá-la sem êxito. O centro dessa verdade é
constituído pelo ego-sujeito da ação de dirigir, o qual continua incognoscível
e, por conseguinte, não responsabilizado. O “véu de Maia” que o esconde já foi
retirado pela Psicanálise, desde quando Sigmund Freud descobriu o inconsciente
humano.
O acidente com morte consiste no
principal problema do trânsito, não as “barbeiragens” e os congestionamentos
nos centros urbanos. A causa desses acidentes nas estradas e rodovias é a
velocidade alta, muito acima da regulamentada pela engenharia (isto é, pela
razão). A causa da velocidade alta, por sua vez, constitui o prazer que ela
propicia ao volante. Esse prazer não é diferente de outros prazeres que pontuam
o dia a dia de cada indivíduo, tomados como doses homeopáticas da felicidade.
Depois do acidente, que poderia ser
evitado, alega-se uma necessidade de andar mais rápido, em vista de um
compromisso, de um horário marcado. No máximo, atribui-se ao estresse. Nunca à
volúpia da velocidade.
Dessa forma, preserva-se o sujeito da
ação, não permitindo o acesso à verdade. Ainda insipiente, o eu desse sujeito é
fortemente dominado pelas pulsões, pelos desejos.
O prazer da velocidade é pulsional. Para
dominá-lo, exige-se um processo racional que conduziria o indivíduo que o manifesta
ao autoconhecimento. Krishnamurti ensinava que o conhecimento próprio começa
com a observação de si mesmo, no exato momento em que se está agindo desta ou
daquela maneira.
Uma fiscalização cem por cento eficiente
no trânsito demandaria a presença de um agente para cada condutor, como um
carona atento e rigoroso. Isso é possível numa personalidade madura, num
sujeito ético. O superego substituiria o agente.
Essa falta de maturidade também se
verifica nas mesas redondas, formadas para debater sobre os problemas do
trânsito. As opiniões, via de regra, não são esclarecidas.
(Para entender o que seja pulsão, assistir ao vídeo www.youtube.com/watch?v=RMZ3bsrtJZ0)
(Para entender o que seja pulsão, assistir ao vídeo www.youtube.com/watch?v=RMZ3bsrtJZ0)
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