Minha
sobrinha, de tanto me ouvir falar sobre livros, desabafou no Facebook
que não acredita na leitura como salvação. Pessoas que leem muito,
segundo ela, “piores se apresentam ao mundo”. Encerra seu
comentário com duas frases curtas, que a redimem da generalização
apressada: “essas pessoas leem errado” e “precisam ler menos e
praticar mais vida”.
Certamente, a maioria dos leitores lê errado,
ou melhor, lê com o único objetivo do prazer em si, individual, sem
relação de alteridade. O romance é, por excelência, o gênero que
atende à fruição. Sem ler crítica literária, o leitor
dificilmente inferirá uma lição do plano mais profundo do texto –
o que exige conhecimentos prévios de psicologia, filosofia,
sociologia etc.
A propósito, o conhecimento é a outra grande função
da leitura. Conhecimento de mundo e de si mesmo (condições básicas
para conhecer o outro).
Desde Sócrates à pós-modernidade, o
autoconhecimento continua um ideal. Quase ninguém dispõe de tempo e
de espaço para tal evolução. O indivíduo é demasiadamente
pequeno para alcançar um saber que transforme sua vida para melhor.
A vida tem demonstrado amiúde que há pessoas piores e pessoas
melhores. Entre os dois tipos, encontra-se uma multidão – ainda
dominada pelas pulsões e desejos, ainda dominada pelo inconsciente.
Ao fazer referência sobre a importância da leitura, levo em conta a
própria experiência, que foge à regra (segundo a avaliação de
minha interlocutora).
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