segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

FRUIÇÃO VERSUS (AUTO)CONHECIMENTO


Minha sobrinha, de tanto me ouvir falar sobre livros, desabafou no Facebook que não acredita na leitura como salvação. Pessoas que leem muito, segundo ela, “piores se apresentam ao mundo”. Encerra seu comentário com duas frases curtas, que a redimem da generalização apressada: “essas pessoas leem errado” e “precisam ler menos e praticar mais vida”. 
Certamente, a maioria dos leitores lê errado, ou melhor, lê com o único objetivo do prazer em si, individual, sem relação de alteridade. O romance é, por excelência, o gênero que atende à fruição. Sem ler crítica literária, o leitor dificilmente inferirá uma lição do plano mais profundo do texto – o que exige conhecimentos prévios de psicologia, filosofia, sociologia etc. 
A propósito, o conhecimento é a outra grande função da leitura. Conhecimento de mundo e de si mesmo (condições básicas para conhecer o outro). 
Desde Sócrates à pós-modernidade, o autoconhecimento continua um ideal. Quase ninguém dispõe de tempo e de espaço para tal evolução. O indivíduo é demasiadamente pequeno para alcançar um saber que transforme sua vida para melhor. 
A vida tem demonstrado amiúde que há pessoas piores e pessoas melhores. Entre os dois tipos, encontra-se uma multidão – ainda dominada pelas pulsões e desejos, ainda dominada pelo inconsciente. 
Ao fazer referência sobre a importância da leitura, levo em conta a própria experiência, que foge à regra (segundo a avaliação de minha interlocutora). 

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