Uma
coisa me incomoda ao ler Descartes, o “pai do racionalismo”: o salto que ele
propõe de seu princípio de racionalidade, o cogito,
para a metafísica.
A ideia de Deus prova sua existência.
(O termo “existência” aqui não tem a acepção
heideggeriana, dada com exclusividade ao homem.)
Não é estranho que até hoje ninguém limitou
essa prova de Descartes aos deuses vigentes, cultuados pelas religiões ainda
ativas? Deuses que vigem: Jeová (que passou a ser denominado de “Deus” por
etnocentrismo da cultura judaico-cristã), Alá, Vixnu, entre outros.
Os deuses que vigeram também eram a ideia de
homens, povos e civilizações, não menos vivos em seu tempo do que somos hoje,
os ocidentais.
Ninguém que vivesse na Grécia Antiga
defenderia a não existência de Zeus (e dos Olimpianos). Mais que coragem,
faltar-lhe-ia argumentos para convencer seus concidadãos. Séculos ou milênios mais
tarde, todavia, o deus poderoso dos gregos acabou relegado ao mito. Crença,
culto, conceito, imagem, tudo não passava de
uma ilusão milenar, civilizatória.
Em relação a nossa civilização, Nietzsche
ainda é o melhor exemplo de coragem e argumentação. Depois dele, o século XX se
encheu de filósofos e cientistas a prolongar seu discurso.
Da parte que me cabe, modéstia à parte, já
vislumbro um tempo em que judaísmo e cristianismo (grafados com minúsculas) não
passarão de mito, e a Bíblia, a expressão escrita de uma mitologia.
A laicização aponta para esse tempo.
Ela não será páreo para o fundamentalismo
islâmico, que se intromete na Europa sem qualquer resistência. Para deter esse avanço, penso que a cruz ainda se fará necessária a partir de sua última
cidadela (na América).
Essa tergiversação sobre uma leitura de Descartes também me incomoda.
Essa tergiversação sobre uma leitura de Descartes também me incomoda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário