Pela quinquagésima quinta vez, o dia em
que vim ao mundo se repete neste 24 de janeiro.
Não me eximo do princípio umbiguista, que sustenta, com uma
inconfessável convicção, ser a data do meu nascimento a mais importante de todo
o calendário.
Para remontar ao relativismo ensinado por Protágoras, de que o
homem é a medida de todas as coisas, acrescento que o mundo só existe porque
existo. Em primeiro plano, o mundo é uma representação para a minha consciência
(que passa, a partir de então, a percebê-lo de fato fora dela).
O momento em
que ocorreu minha concepção, caso fosse possível precisar, seria até mais
importante que o dia do meu nascimento. Na impossibilidade de se datar aquele
feliz acaso, sobre-exalto o segundo acontecimento, que sintetiza o sucesso de
todo o período anterior. Sim, não há exagero narcísico nessa autoapreciação:
minha concepção e meu nascimento são fatos pontuais que comprovam o pleno êxito
da vida de um novo indivíduo.
Felizmente, esse indivíduo sou eu, reconhecido
como tal graças ao desenvolvimento da autoconsciência.
A passagem de um ano a
outro, como é comemorada com estardalhaço por toda gente, conta minimamente
para a minha idade pessoal. O 24 de janeiro bem que poderia significar o meu
primeiro dia do ano, a partir do qual se referenciariam os demais
acontecimentos posteriores.
De certa forma (mais sensível que inteligível, mais
afetiva que racional), isso me ocorre desde menino, desde quando não havia
coragem para confessar tal coisa. Lembro-me de um arroz-doce que a mãe fez
especialmente para o meu aniversário, e essa lembrança transformou em doçura
tudo o que não era doce naquele tempo.
Essas justificativas filosóficas ou
sentimentais, caro leitor, não te convenceram de que devo fazer uma festa neste
dia?
Nenhum comentário:
Postar um comentário