sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

MEU ANIVERSÁRIO

Pela quinquagésima quinta vez, o dia em que vim ao mundo se repete neste 24 de janeiro.  Não me eximo do princípio umbiguista, que sustenta, com uma inconfessável convicção, ser a data do meu nascimento a mais importante de todo o calendário. 
Para remontar ao relativismo ensinado por Protágoras, de que o homem é a medida de todas as coisas, acrescento que o mundo só existe porque existo. Em primeiro plano, o mundo é uma representação para a minha consciência (que passa, a partir de então, a percebê-lo de fato fora dela). 
O momento em que ocorreu minha concepção, caso fosse possível precisar, seria até mais importante que o dia do meu nascimento. Na impossibilidade de se datar aquele feliz acaso, sobre-exalto o segundo acontecimento, que sintetiza o sucesso de todo o período anterior. Sim, não há exagero narcísico nessa autoapreciação: minha concepção e meu nascimento são fatos pontuais que comprovam o pleno êxito da vida de um novo indivíduo. 
Felizmente, esse indivíduo sou eu, reconhecido como tal graças ao desenvolvimento da autoconsciência. 
A passagem de um ano a outro, como é comemorada com estardalhaço por toda gente, conta minimamente para a minha idade pessoal. O 24 de janeiro bem que poderia significar o meu primeiro dia do ano, a partir do qual se referenciariam os demais acontecimentos posteriores. 
De certa forma (mais sensível que inteligível, mais afetiva que racional), isso me ocorre desde menino, desde quando não havia coragem para confessar tal coisa. Lembro-me de um arroz-doce que a mãe fez especialmente para o meu aniversário, e essa lembrança transformou em doçura tudo o que não era doce naquele tempo
Essas justificativas filosóficas ou sentimentais, caro leitor, não te convenceram de que devo fazer uma festa neste dia?

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