A
partir de um giro completo em torno do próprio eixo, a Terra apresenta dois
momentos distintos, considerando-se sua relação com o Sol: dia e noite.
À
exceção das regiões polares, todo lugar da superfície terrestre passa pela
alternância de receber a luz e mergulhar na escuridão.
Ao emergir da natureza
inconsciente, o homem descobriu e criou formas de controlar o fogo, para, entre
outras práticas, tornar menos difícil as horas noturnas.
Por milhões de anos,
sem ou com esse elemento natural, a noite foi destinada ao sono, à recuperação
do corpo e da mente.
Com a crescente sedentarização humana (desde o início do
Neolítico), as cidades passaram a transformar o modo de vida de seus
habitantes, ampliando-lhes a vigília. Isso se evidenciaria com a recentíssima
descoberta da eletricidade, a qual propiciou maior iluminação à noite.
(Atualmente, para bloquear a luminosidade artificial, as cortinas de tecido vêm
reforçadas com o chamado blecaute, isto é, um plástico totalmente opaco.)
Sob a
luz, o homem continua aceso, motivado não apenas pelas atividades de lazer.
Diretamente proporcional a isso, elevou-se o nível de ruído, o que forçou a
criação da “lei do silêncio” (via de regra, não obedecida).
Plugada a uma
revolução tecnológica, a vida noturna engendrou as primeiras gerações de
notívagos no seio da sociedade moderna. Seus indivíduos, parafraseando Vinícius
de Moraes, de manhã escurecem, de dia tardam, de tarde anoitecem e de noite
ardem.
Eles tomam o trânsito depois da meia-noite, quando ocorre um acréscimo
de entropia na já debilitada ordem dos centros urbanos.
As grandes
manifestações realizadas no Brasil no ano que passou, entre anárquicas e
violentas, foram lideradas pelos notívagos, denominados “black bloc”.
Falta-lhes a doçura das manhãs, a claridade solar.
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