O sucesso do Facebook, traduzido pelo número de
usuários, explica-se por uma razão de fácil entendimento: oferece a
oportunidade de se fazer sujeito enunciador a todo cadastrado no site. A ação
de enunciar, de ser autor da declaração, de expor em frases (e imagens), de
participar da interlocução, não mais como anônimo, propicia-lhe um poder ainda
não vivenciado desde a alfabetização. Não obstante a pequeníssima parcela, esse
poder discursivo rende-lhe um quantum de felicidade. Em excesso,
experimentam-na os escritores, os políticos, os pregadores religiosos, os jornalistas,
os professores, locutores por excelência. A escrita eletrônica veio suprir a
falta de um microfone e de uma audiência presente (ou sintonizada). Da mesma
forma, transpôs a inacessibilidade ao impresso e ao leitor sempre pronto para o
diálogo. Os usuários do Facebook, em sua maioria pela primeira vez, realizam um
salto da simples alfabetização para o letramento digital. As postagens
mesclam o verbal e o não-verbal, disponíveis na rede ou editados pelo sujeito
facebookiano, que se expressa, em regra, na primeira pessoa. Esse autodestaque
é mantido no primeiro plano das fotografias, adicionadas sem parcimônia. Num
mundo que valoriza o parecer (como possível
síntese entre ser e ter), o Face é a última interface da
aparência. Por intermédio dela, o usuário deixa o anonimato, a condição de
alienado do discurso, para ganhar cidadania e projeção social. Ninguém melhor
que ele aprendeu rápido a tirar vantagem da invenção de Mark Zuckerberg. (Os
demais beneficiados, obviamente, aprendem há mais tempo.) A propósito do tempo,
poucos sabem, todavia, que a nova tecnologia carrega em seu bojo o meme da efemeridade.
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