As
mudanças do tempo são perceptíveis, principalmente por observadores que tenham
mais de cinco décadas de experiência. Não o tempo como dimensão (meta)física,
mas como condição meteorológica. O tempo que, no campo, determina boa colheita
e vacas gordas, ou o contrário.
Nos anos sessenta (do século passado), o mês de
agosto, por exemplo, era de uma regularidade conhecida por todos. Nos dias subsequentes
à dupla invernal (junho- julho), o vento soprava do norte, o capim seco nas
várzeas e coxilhas queimava dia e noite, o céu se enchia de fumaça, o Inverno
recebia a visita do Verão ainda distante. A lembrança de um suicídio histórico
se somava à crendice de que os cachorros enlouqueciam, dando a agosto a fama de
triste, agourento.
(Mas isso já é uma fuga ao tema.)
Mais tarde, agosto mudou
de fato, transformando-se num tempo de florescimento extemporâneo: o
pessegueiro, o ipê, a laranjeira, o cinamomo, entre outras espécies floresciam
em nossos quintais e avenidas. Essas flores prenunciavam a próxima estação, a
Primavera – tempo de renovação, manhãs azuis e trigais maduros. Infelizmente, o
joio da monocultura, do agronegócio acabou com os belos trigais. Em contrapartida, a partir de leis
proibitivas e de uma nova consciência ambiental, as queimadas se tornaram raras,
acidentais.
Neste ano, excepcionalmente, não houve flores e tampouco a visita do
Verão. O cachorro há muito não enlouquece, mas acabou rengo desta vez. Nunca
fez tanto frio, com chuva congelada, neve, garoa, geada, vento cortante...
Isso
representaria o início de nova mudança no clima? Os observadores mais jovens
dispõem de maior futuro para a resposta.
Heráclito de Éfeso, um dos pensadores
pré-socráticos, legou-nos um fragmento que trata do fluxo contínuo das coisas. O
tempo também está sujeito ao devir.
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