terça-feira, 27 de agosto de 2013

AGOSTOS

As mudanças do tempo são perceptíveis, principalmente por observadores que tenham mais de cinco décadas de experiência. Não o tempo como dimensão (meta)física, mas como condição meteorológica. O tempo que, no campo, determina boa colheita e vacas gordas, ou o contrário. 
Nos anos sessenta (do século passado), o mês de agosto, por exemplo, era de uma regularidade conhecida por todos. Nos dias subsequentes à dupla invernal (junho- julho), o vento soprava do norte, o capim seco nas várzeas e coxilhas queimava dia e noite, o céu se enchia de fumaça, o Inverno recebia a visita do Verão ainda distante. A lembrança de um suicídio histórico se somava à crendice de que os cachorros enlouqueciam, dando a agosto a fama de triste, agourento. 
(Mas isso já é uma fuga ao tema.) 
Mais tarde, agosto mudou de fato, transformando-se num tempo de florescimento extemporâneo: o pessegueiro, o ipê, a laranjeira, o cinamomo, entre outras espécies floresciam em nossos quintais e avenidas. Essas flores prenunciavam a próxima estação, a Primavera – tempo de renovação, manhãs azuis e trigais maduros. Infelizmente, o joio da monocultura, do agronegócio acabou com os belos trigais. Em contrapartida, a partir de leis proibitivas e de uma nova consciência ambiental, as queimadas se tornaram raras, acidentais. 
Neste ano, excepcionalmente, não houve flores e tampouco a visita do Verão. O cachorro há muito não enlouquece, mas acabou rengo desta vez. Nunca fez tanto frio, com chuva congelada, neve, garoa, geada, vento cortante... 
Isso representaria o início de nova mudança no clima? Os observadores mais jovens dispõem de maior futuro para a resposta. 
Heráclito de Éfeso, um dos pensadores pré-socráticos, legou-nos um fragmento que trata do fluxo contínuo das coisas. O tempo também está sujeito ao devir. 

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