Há diferenças entre esperteza, inteligência e sabedoria (pouco observadas por nossa cultura ocidental). Um indivíduo esperto consegue persuadir quem lhe dá ouvido de que não tem defeitos, geralmente atribuídos ao outro. Inteligente é o indivíduo que percebe seus defeitos e os defeitos dos outros. O sábio, percebendo seus defeitos, consegue analisá-los de tal forma que os transcende. Para o esperto, há sempre um culpado: o outro. Para o inteligente, a culpa do outro se equivale à sua (a dialética é que decidirá a seu favor). Para o sábio, se há culpa pessoal, é sempre sua. Uma vez que o errado é o outro, o esperto considera-se um referencial de correção, citando suas ações, seu modo de ser, sua vida como prova disso. Na dúvida, o inteligente não se inclui no discurso, conjugando o verbo na terceira pessoa do singular. O sábio nunca cita a si mesmo como referência, às vezes, inclui-se no discurso em consideração aos demais. O esperto teima, o inteligente pondera, e o sábio silencia. O esperto diz “eu quero”, o inteligente diz “eu penso”, e o sábio sorri simplesmente. O esperto faz muitos negócios lucrativos e enriquece; o inteligente estuda muito e vive satisfeito com o que ganha; o sábio faz a ligação entre os saberes e vive como pobre voluntário (o que é mais raro acontecer que ser rico). A mesma falta de consciência ética que leva o esperto aos negócios, leva-o à política, na qual se torna arrivista e maioria. O político inteligente não consegue chegar ao poder, ou logo o perde, chegando lá. Não por falta de consciência ética, mas de apoio mesmo. Evoluído eticamente, o sábio quase nunca se envolve com a política e com os políticos. Nas raríssimas vezes em que isso aconteceu foram mortos, como Sócrates e Marco Antônio.
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