Toda segunda-feira, às 18 horas, continuo com a oficina de arte poética no Centro Cultural. No último encontro, estudamos o verso livre (o preferido da professora Arlete Cossentino). A primeira coisa que o iniciante na poesia deve saber é que o verso livre não consiste em “cortar a prosa em pedaços arbitrariamente”, como o expresso por João Cabral de Melo Neto (que não escreveu versos livres). Nesse aspecto, tenho lido muitos poemas escritos linearmente, como se prosa fosse, com a única diferença de terminar antes do final da linha. Sem qualquer observância à teoria do verso livre, como a que trata do polirritmo. Ao analisarmos dois dos maiores poetas da língua portuguesa, Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade, vamos constatar que seus poemas feitos com versos livres, heterossilábicos, sem métrica e rima, recorrem a outros recursos que são observados na produção poética mais antiga (presente nos textos bíblicos, por exemplo). Entre esses recursos, Armindo Trevisan destaca o paralelismo. O paralelismo dá ritmo ao poema, substituindo o isossilabismo, pela repetição da estrutura gramatical que caracteriza o verso. Para produzir em versos livres, o iniciante na arte literária deve conhecer o ritmo. Sem exagero, ele deverá produzir um soneto. Nada supera em beleza essa forma fixa de poema, criada na Itália há mais de 700 anos, por Giacomo Notaro, cultivada por Francesco Petrarca, trazida para Portugal por Sá de Miranda, elevada à perfeição lírica por Luís de Camões e cultivada até nossos dias por grandes poetas. O soneto transcendeu a revolução modernista na pena de um Vinícius de Moraes, por exemplo. Fortunato de Oliveira, um dos participantes da nossa oficina, tem belos e inéditos sonetos. Depois de alguns acertos formais, ele os publicará certamente. Isto também é válido para os versos livres: a forma não está proscrita.
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