terça-feira, 13 de julho de 2010

HISTÓRIA DE UM LEITOR

Aos 13 anos de idade, mudei do interior do município para a cidade. O esforço e a inteligência demonstrados aos pais me livraram da enxada (pelo menos durante o ano letivo). No colégio, sem dinheiro para comprar o lanche na hora do recreio, refugiava-me na biblioteca. Ao invés de satisfazer a fome do corpo, alimentava fartamente o espírito. Era extremamente magro naqueles anos, uma simples gripe me colocava de cama. Minhas notas, em contrapartida, estavam entre as melhores. O mundo se descortinava nas páginas da Enciclopédia Conhecer, um tipo de máquina do tempo, ou buraco de verme. Nunca mais parei de ler. Inicialmente, tudo o que me vinha às mãos: revista, auto-ajuda (o único de que me lembro é O poder do pensamento positivo), dicionário, barsa, atlas geográfico, conto, (foto)novela, romance, poesia... (Bula de remédio, não sou exagerado, apenas em caso de extrema necessidade.) Esse ecletismo me fez evoluir continuamente, sem o risco de me fixar no gênero exclusivo. Paralela com a fruição, a busca de conhecimento sempre me orientou para uma leitura cada vez mais exigente. Por isso, li Erich Fromm, F. Nietzsche, James Lovelock, S.Jay Gould, S. Hawking, Desmond Morris, E. Kant, Bertrand Russel, Voltaire, J. Krishnamurti, Richard Dawkins, Mircea Eliade. M. Heidegger, David Hume, S. Freud, Aldous Huxley, W. Faulkner, J. Joyce, Clarice Lispector, J.L.Borges, J.G.Rosa, Carlos Nejar, F. Kafka, Fernando Pessoa, García Márquez, Machado de Assis, Pablo Neruda, Virginia Woolf, João Cabral de Melo Neto, Júlio Cortázar... (Obviamente, continuo a lê-los.) Por isso, os livros que compro são meticulosamente escolhidos. Adquiri um belo acervo, autorrecompensa que não posso negar depois de inumeráveis visitas a bibliotecas públicas e a estantes particulares. Sou freguês assíduo do submarino.com e da estantevirtual.com. Faço minhas as palavras de J.L.Borges: Que otros se jacten de las páginas que han escrito, a mi me enorgullecen las que he leído.

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