sábado, 10 de abril de 2010

AURELIANO VIVE

No caderno Cultura do ZH deste sábado, Luís Augusto Fischer escreve sobre Aureliano de Figueiredo Pinto:
Aureliano vive - Esses dias, por descuido, acabei cometendo uma injustiça. Ao lembrar das funções que o Instituto Estadual do Livro (IEL) precisa encarar, disse que ele deveria se encarregar, por exemplo, de publicar antologias de poetas marcantes cuja obra não esteja em circulação; e mencionei o caso de Aureliano de Figueiredo Pinto entre eles. Ocorre que esse belo poeta - na minha opinião o mais interessante dos poetas dedicados ao tema gauchesco de todos os tempos, no Estado - segue circulando pela Editora Movimento. São pelo menos três títulos: Romances de Estância e Querência, de poesia voltada ao mundo pampiano, Itinerário, de poemas líricos, e o clássico romance Memórias do Coronel Falcão. Quem me alertou para a falha de informação foi o zeloso editor do poeta, Carlos Jorge Appel. Com toda a razão.
Agora só falta Aureliano ter mais leitores, o que custa um pouco, porque ele é o antiefusivo, o antigarganta, o oposto do estilo ufanista que domina o ambiente gauchesco. Certo, alguém poderá lembrar que Aparício Silva Rillo e Jayme Caetano Braun, para nem falar de João da Cunha Vargas (cuja poesia Vitor Ramil tem musicado, em milongas inacreditavelmente lindas), também são em geral antibravateiros; são poetas que celebram o passado, repassando item por item as coisas da vida campeira fenecida, de tal modo que ao ler qualquer um deles durante algum tempo se tem a sensação de haver lido um relatório poético, um catálogo de museu, sentido e muitas vezes sublime. Mas o que domina é o passado figurado nos objetos: uma chilena separada do par, um rancho abandonado, um velho laço, uma cambona. Seres inanimados, que recebem passivamente a saudade de quem os evoca.
Aureliano não: com ele, o que mais aparece são pessoas, indivíduos, com sua cota de penar e de folga, no cotidiano do trabalho duro ou na exceção do amor buscado. São pessoas como o prezado leitor e eu, mergulhadas em seu mundo, que calha de ser o da estância. Além disso, mais um mérito se soma, do ponto de vista do registro a quente da vida que é a poesia: Aureliano dá protagonismo a gente simples e muitas vezes a gente claramente marginal - um que se enforca de desespero, um que enlouquece, um que não soube controlar o cavalo que lhe deram para o trabalho.
Eu conheci o poeta Aureliano por causa de um disco, idealizado e gravado por Noel Guarany, em que canta e diz poemas cuja força é indesmentível. Vantagem, claro, porque agora mesmo releio o poeta e tenho na cabeça a dicção do cantor. Ainda existirá essa gravação?
(Publicado no Zero Hora de 10 de abril de 2010)

Um comentário:

Anônimo disse...

Ola, tal disco falado por vossa pessoa, as gravações ainda existem , sendo elas (músicas..) Aqui me Pongo a cantar, De noite ao tranqüilo, Milonga missioneira, O canto do Guri campeiro, Oração de posteiro, Gaudério, Versos(versus), Aquele zaino, Tobiano Capincho(grande obra), Toada de ronda e Bisneto de farroupilha(outra obra maiúscula), inclusive tenhas as mesmas gravadas. Ass: Rogério Ayres - São Francisco de Assis