Não sei inteiramente por que as manhãs de outubro são as mais belas do ano. As manhãs de abril chegam muito perto, talvez pela posição diametralmente oposta do planeta em sua órbita em torno do Sol. Já pensei numa explicação mais ou menos plausível. Em nenhuma outra época do ano, a cobertura natural da Terra (campos e matas) se apresenta mais intensamente colorida. Os matizes da primavera, especialmente em outubro, refletem com maior intensidade a oblíqua luz solar. A atmosfera fica mais iluminada. Desde menino, fui dado à contemplação. Gostava de ver o trigal do meu pai quase lourando, a formar ondas sob o vento brando (ou zéfiro). Outras vezes, subia ao alto de um morro, onde ficava a olhar a serra que se estendia ao sul. Verde em seu começo e azul em suas linhas distantes. As lavouras formavam um mosaico de cores estendido pelos vales e encostas. Mais tarde, o trigo deixou de ser cultivado, com a chegada da soja. As manhãs de outubro, todavia, persistiam com uma claridade indescritível. Ainda que me afastasse do Rincão dos Machado, continuavam lindamente azuis. Em Porto Alegre, Rio de Janeiro ou Curitiba, sempre as percebia nos ipês floridos ao longo das avenidas; acima do Redenção, da Floresta da Tijuca ou do Barigui; delimitadas pelos ângulos e retas dos arranha-céus. Em vista disso, devo rever minha tese? Não que eu esteja equivocado, contrariado com as manhãs cinzentamente frias que prevaleceram neste mês. O efeito do El Niño poderá continuar até o fim de outubro, mas tal fenômeno não me fará perder o espírito contemplativo.
Aos leitores que “dialogam” comigo, entre os quais Ivanor Canabarro e Paulo Meirelles de Oliveira, dedico a crônica acima – uma pausa agradável nos contrapontos anteriores.
Aos leitores que “dialogam” comigo, entre os quais Ivanor Canabarro e Paulo Meirelles de Oliveira, dedico a crônica acima – uma pausa agradável nos contrapontos anteriores.
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A postagem acima não é uma repetição de outra que fiz abaixo. Fiz uma cuidadosa reescritura (sempre necessária e nunca definitiva), com um pequeno acréscimo. Mais uma vez, defendo este ambiente como um laboratório textual. No primeiro estágio da produção utilizo papel e caneta (pré-Gutemberb); no segundo, digito no Word (com tantas cópias quanto exigir cada revisão); no terceiro, edito no meu blog; no quarto, publico no Expresso; no quinto, pretendo reunir meus textos num livro. Ainda pertenço à era do papel e da tinta, o livro impresso continua insubstituível.
Um comentário:
Lindo e poético . Também gosto das manhãs de outubro . Interessante é que também fiz uma postagem com o mesmo título que você usou. Acho que somos seres contemplativos e que gostamos de apreciar a beleza da natureza em todos os seus matizes, especialmente quando a própria natureza parece sorrir. é o caso das manhãs de outubro.
abraço
Angel
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