sábado, 27 de outubro de 2007

GILGAMESH, REI JOSIAS, LEONARDO BOFF

Na última vez que fui a Porto Alegre, comprei o livro de Gilgamesh (Épico sumério). Esse, sim, é o mais antigo livro da história da humanidade. Muito antes que constituíssem os grandes impérios do antigo Oriente Médio - como o Assírio, o Egípcio e o Babilônico - os sumérios ocuparam as terras férteis e irrigáveis da Baixa Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates, no sul do atual Iraque. Diga-se de passagem, anteriores ao chamado povo de Israel. Gilgamesh era rei de Uruk. Alguém mais velho que ele, Utnapishtin, conta-lhe a história do dilúvio: "Conheces a cidade de Shurrupak, que fica nas margens do Eufrates? Essa cidade era antiga e velhos os deuses que nela havia. O seu pai era Anu, senhor do firmamento, e o guerreiro Enlil era o seu conselheiro. Ninurta auxiliador e Enugi o vigilante dos canais; e com eles estava também Ea. Naqueles dias o mundo pululava, o povo multiplicava-se, o mundo mugia como um toura selvagem e o grande deus foi despertado pelo clamor. Enlil ouviu o clamor e disse aos deuses reunidos em conselho: - O tumulto da humanidade é intolerável e já não é possível dormir com esta confusão. E assim os deuses concordaram em exterminar a humanidade". A narração continua, com os preparativos com a construção de um barco pelo próprio Utnapishtin.
"A saga histórica contida na Bíblia - do encontro de Abraão com Deus e sua jornada para Canaã à libertação da escravidão dos filhos de Israel por Moisés, à ascensão e queda dos reinos de Israel e Judá - não foi uma revelação miraculosa, mas um inteligente produto da imaginação humana; sua concepção teve início - como os recentes achados arqueológicos sugerem - durante o breve espaço de tempo de duas ou três gerações, há cerca de 2.600 anos. O local de nascimento foi o reino de Judá, região pouco povoada por pastores e fazendeiros, assentada de forma precária no meio de uma terra montanhosa, sobre estreito espinhaço, entre ravinas escarpadas e rochosas e governada por uma cidade real afastada. Durante poucas décadas notáveis de efervescência espiritual e agitação política, perto do final do século VII a. C., uma improvável coalizão de oficiais da corte de Judá - escribas, sacerdotes, profetas e camponeses - se formou para criar um movimento. No seu âmaga estava uma escrita sagrada de um incomparável gênio literário e espiritual: era uma saga épica, composta por uma surpreendente coleção de escritos históricos, memórias e lendas, contos folclóricos e historietas, propaganda real, profecia e poesia antiga. Uma parte dela era composição original e a outra, uma adaptação de fontes e versões antigas, mas aquela obra-prima literária passaria por nova edição e elaboração, a fim de tornar-se uma âncora espiritual não apenas para os descendentes do povo de Judá, mas para a comunidade do mundo inteiro. Governava Jerusalém nessa época o rei Josias. Do Templo de Jerusalém e da Bíblia nasceu o monoteísmo moderno."
Frei Leonardo Boff, em A águia e a galinha, escreve que "os hebreus, povo que na Antiguidade ocupava o atual território de Israel, desenvolveram, com grande capacidade, esse gênero literário. Os mestres em Israel, os rabinos e os comentadores dos textos sagrados da Bíblia e do Talmud, chamavam esse gênero de midraxe. Utilizavam-no com a intenção de ampliar histórias bíblicas enfeitando-as com dados verdadeiros, legendários ou fantásticos. Todo o Gênesis seria um exemplo de midraxe". Certamente, a história do dilúvio foi adaptada do livro de Gilgamesh.
O texto acima foi composto por recortes de três livros: Gilgamesh (anônimo), A Bíblia não tinha razão, de Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman, e A águia e a galinha, de Leonardo Boff.

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